A um passo da grandeza
O que falta a SC Braga e Vitória SC para poderem estar de forma consolidada entre os grandes? É dinheiro? Sim. Valorização? Também. O caminho começa na auto-valorização e vai parar à constância.
Palavras: 1361. Tempo de leitura: 7 minutos (áudio no meu Telegram).
Separados por uma rivalidade do mais acirrado que conhecemos em Portugal, SC Braga e Vitória SC são dois bons exemplos de clubes de classe média-alta que, combinadas todas as condições necessárias num contexto favorável, podem perfeitamente meter-se no meio dos três grandes e discutir títulos. Têm público, têm história, não têm orçamentos da mesma ordem de grandeza mas já encontraram na QSI e na VSports os parceiros estratégicos capazes de ajudar e muitas vezes o que lhes falta é a consciência clara do que é necessário para darem o passo decisivo em direção ao sucesso. O SC Braga tem estado acima do rival, acabou os últimos sete campeonatos nas primeiras quatro posições – foi mesmo duas vezes terceiro, ambas à frente do Sporting –, mas a extraordinária carreira do Vitória SC na Liga Conferência e o facto de a equipa estar a apenas três pontos do rival regional no campeonato permitem que a traga para esta discussão. O que falta, então, a SC Braga e Vitória SC para poderem bater-se de forma mais consolidada com os grandes? Muitas vezes, quem vê a coisa do lado de lá fala em atenção. Mas, não negando que esse é um problema social de um mercado tão pequeno como o nosso, não creio que essa seja a questão maior. Sendo evidente que cada clube parte de uma realidade diferente, o que me parece faltar é, num caso, constância, e, no outro, auto-valorização.
Ainda ontem Rui Borges o disse, no final dos 4-1 que o Vitória impôs ao Saint Gallen na Suíça e que deixam a sua equipa na segunda posição da tabela da Liga Conferência. A bem dizer, o Vitória SC é a única equipa portuguesa com a certeza matemática de que, direto ou no playoff, vai ser europeia a partir de Fevereiro. E o que o treinador nos disse foi que os jogadores “não têm sido devidamente valorizados”. Acertou em cheio. A questão é a de percebermos qual é a valorização mais importante. Muitas vezes, os responsáveis dos clubes de classe média-alta revoltam-se contra a falta de atenção que lhes é dada pelos media. Este é um argumento já ouvido, por exemplo, a Carlos Carvalhal nas suas múltiplas passagens por Braga. De facto, a julgar pelo que nos dizem nas edições de hoje, só um dos nossos três jornais desportivos (O Jogo) enviou um jornalista a acompanhar o Vitória SC à Suíça – e, sem o saber, julgo que ao facto não será alheio o facto de hoje ter havido sorteio do Mundial, em Zurique, a 80 quilómetros. Todos os outros reproduziram declarações prestadas à DAZN, o canal que fez a transmissão televisiva. Pior ainda, mais uma vez a julgar pelo que nos é mostrado, nenhum dos três jornais enviou um profissional de Portugal ao jogo do SC Braga em Roma. Sim, é a economia, tem que ver com a globalização, que há uns anos para se ouvir os protagonistas era preciso lá estar e agora já não é, mas também está tudo relacionado com a incapacidade dos clubes darem alguma coisa de atrativo aos meios de comunicação que investem nestas deslocações. Num país onde houvesse um universo maior de público pagante isso nem seria assunto, mas em Portugal é legítimo que se pergunte o que ganha um jornal que gasta uns milhares de euros para mandar um jornalista a uma conferência de imprensa que, depois, por ser transmitida pela TV, acaba por ser de todos, até dos que ficam na redação e podem fazer outros trabalhos antes do jogo...
A somar a isso, há razões de queixa do tempo que não se gasta nas televisões a falar do SC Braga e do Vitória SC – e, em comparação, do que se passa a falar de FC Porto, Sporting e, sobretudo, Benfica, que é o clube com mais público. O curioso é que esse comece por ser o argumento mais fácil à mercê dos grandes se estes quiserem bater-se contra a centralização dos direitos audiovisuais da Liga, medida que pode ajudar a saltar uma série de passos na abolição da diferença de base entre eles e os outros, os de classe média-alta, que é sobretudo financeira. Se começam a falar muito do tema chamam a atenção para o facto de poderem vir a receber mais por espectador ou por minuto de exposição. E não é só isso. É que se uma equipa está na mó de cima, como é agora o caso deste Vitória SC, sente a falta destes minutos televisivos. Mas quando está mal, como é hoje o caso do SC Braga, cujo presidente, António Salvador, até veio ontem falar sobre a falta de “atitude, compromisso e intensidade” na paupérrima exibição de Roma, bem pode agradecer o facto de não se estar a falar do tema a toda a hora na TV, porque isso intranquilizaria ainda mais os jogadores. Sim, é errada a diferença de tratamento dada pelos media entre estes clubes e os três grandes, sobretudo por ser feita em nome de critérios económicos e não de mérito desportivo, mas a valorização que mais falta ao Vitória SC ainda é, sobretudo, a auto-valorização, a capacidade de fazer crescer a bola de neve de que se faz o seu ambiente, ainda por cima um ambiente cheio de adeptos apaixonados como poucos em Portugal.
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Isto tem sido evidente, por exemplo, na maneira como saem de Guimarães os jogadores que ali mais chamam a atenção do mercado. No último verão, Jota Silva seguiu para o Nottingham Forest por sete milhões de euros e Ricardo Mangas para o Spartak Moscovo por dois milhões e meio. André Almeida, o jovem formado localmente mais promissor antes da eclosão, agora, de gente como Tomás Händel ou Alberto, saiu em 2022 para o Valência CF por oito milhões. Até o FC Famalicão vende mais caro. E o SC Braga vende muito mais caro, como se viu neste último Verão nos 50 milhões apurados em Álvaro Djaló, Rodrigo Gomes, Al Musrati e Abel Ruiz – e os dois primeiros nem titulares são no Athletic Bilbau e no Wolverhampton WFC. Daqui se depreende que o problema do SC Braga já não é de auto-valorização. Esse é um passo que o clube já franqueou nas duas décadas de António Salvador. Ainda há dias se referia o “olho” que o presidente tem para a escolha de treinadores – nos últimos 20 anos, por Braga passaram e lá começaram a crescer Jorge Jesus, Leonardo Jardim, Sérgio Conceição, Abel Ferreira, Rúben Amorim e agora Artur Jorge. Este, para falar só do caso mais recente, conseguiu os dois terceiros lugares que o clube somou na tabela nos últimos quatro anos – e mesmo assim saiu de Braga como saiu, forçado a assinar pelo Botafogo antes de ser dispensado no final do contrato. Vinha aí Daniel Sousa, o treinador-sensação do FC Arouca, mas não durou muito: ainda a procissão ia no adro e já estava despedido, para dar lugar ao regresso de Carvalhal, uma espécie de bombeiro para as emergências. As palavras do presidente, ontem, não auguram nada de bom e são mais um passo no caminho errado de uma equipa que, para dar o salto que lhe falta, precisa acima de tudo de constância.
Não é fácil? Não, de facto. Se os treinadores e os jogadores continuarem a querer dar o passo seguinte, como aconteceu, por exemplo, com Ruben Amorim, é mesmo impossível. Mas esta é a altura de perguntar se são só esses os casos em que o SC Braga desbarata ativos que poderiam ser importantes nesta caminhada de consolidação rumo ao sucesso. Os nove golos marcados em onze jogos por Banza no Trabzonspor, equipa que vegeta na metade errada da tabela da Liga turca e à qual acabou emprestado sem que a Braga chegasse uma alternativa viável, ou a dobradinha campeonato-Libertadores de Artur Jorge no Botafogo dizem-nos que não. É mesmo isso que o SC Braga quer que se discuta nas televisões e nos jornais?
Salvadoŕ é ao mesmo tempo a razão do crescimento do Sporting de Braga e da sua estagnação, como a equipa do quarto lugar, salvo má época de um ou dois dos três grandes. Isto devido a sua gestão "à antiga", sem paciência para com os seus treinadores. Já o Vitória sempre sofreu com a instabilidade dos seus adeptos e direções.
O futebol é mesmo quase um jogo de casino na relação ao investimento que fazes com o rendimento que pretendes empresarial. Podes fazer tudo bem, dares os passos certos e mesmo assim o resultado não aparecer.
Como disse na conta X, o QSI e Vsport neste momento nada fazem para alavancar o Braga e Vitória SC. O QSI ainda vai emprestando um ou outro jovem jogador do PSG ao Braga.
Na minha opinião o que faz o sucesso de um clube são as pessoas que estão a frente dos clubes, o investimento ajuda, mas se a equipa não tem sucesso desportivo e financeiro os investidores puxam o travam de mão e os adeptos ficam a arder com o clube nas mãos. O caso mais grave foi o do Desportivo das Aves. O Sr. López tb nada faz para levantar o Boavista, se o Boavista conseguir se levantar tem que se dar mérito ao Fary Faye.