A nova Taça da Liga
A Taça da Liga vai evoluir para uma competição entre grandes – e é pena. Mas na verdade o seu propósito nunca foi o de ser uma nova Taça de Portugal. Essa, sim, tem de evoluir num sentido inverso.
As declarações de Pedro Proença acerca da Taça da Liga são preocupantes, porque assumem que a competição é apenas uma forma de fazer dinheiro e a afastam dos adeptos que, porém, apesar do que disse o presidente da Liga, nunca a ela aderiram verdadeiramente e passam bem sem ela. Basta ver as assistências verificadas até aqui. Mas não são escandalosas, porque na verdade nunca foi à Taça da Liga que competiu defender a tradição do futebol ou a vontade dos pequenos clubes ganharem relevância. A Taça da Liga é uma prova recente, não é tradicional, e nasceu precisamente para fazer crescer a receita. Quando o presidente da Liga admite que ela pode passar a ser disputada só pelos quatro primeiros classificados da época anterior e até, de preferência, deslocalizada para o estrangeiro, está a dizer-nos a todos que não é à Liga que compete fazer a promoção dos embates entre gigantes e pequenos e – isto sim mais grave – que os adeptos que se mobilizam para ir aos estádios não são tão importantes como aqueles que ficam em casa e pagam para ver os jogos na TV. Por uma razão simples: estes têm um potencial de crescimento ilimitado, enquanto que o aumento daqueles será sempre travado pelas dimensões dos recintos que os albergam. E sim, sei bem que estamos longe de esgotar o cimento. Também eu gostava de uma Taça da Liga diferente. Defendi-a desde o primeiro momento: fase de grupos logo a abrir, com jogos em Agosto na província, a aproveitar o mês em que o nosso país recebe os emigrantes de férias, e eliminatórias a partir daí. Concedo na Final Four, uma excelente ideia. Mas se este formato nunca foi utilizado quando o calendário o permitia, não será agora, que as novas competições europeias vão apertar as agendas, que acontecerá. Também eu gostava de uma Taça da Liga diferente, mas talvez essa prova já exista. Chama-se Taça de Portugal. Falta torná-la mais nacional, olhar para o exemplo que nos chega de França e abri-la a mais equipas, promover que os jogos sejam sempre disputados nos campos dos pequenos e não no estádio despersonalizado mais próximo das suas cidades ou vilas. Isso nunca seria a Taça da Liga a conseguir.
A hidra do Everton. Antes de ter um Subutteo, que era o meu sonho de menino, frustrado porque a distribuição não era assim tão competente e não fazia chegar essas coisas a Coruche nem havia forma de as encomendar online, antes até mesmo de ter o Futegolo, uma variante portuguesa que me pôs a pintar camisolas em bonecos com os guaches das aulas de Educação Visual, só para perceber que aquilo depois saía tudo e acabava os jogos com os dedos todos esborratados, tive um jogo chamado Futebol de Mesa. O Futebol de Mesa era uma coisa mais modesta, jogava-se com um disco e não com uma bola, tinha umas balizas de redes em curva, assim como aquelas que se viam nos resumos do futebol italiano, mas só trazia duas equipas, uma de camisola vermelha e a outra de camisola azul. Era outro mundo, um mundo que a malta de hoje terá dificuldades até para imaginar, porque não havia internet nem televisão a cores, pelo que só mais tarde, versado nessas coisas da economia de escala, percebi que essas duas equipas afinal não eram o Benfica e o Belenenses mas sim o Liverpool FC e o Everton ou o Manchester United e o Manchester City, de maneira a satisfazer um mercado muito maior e com bastante mais poder de compra, que era o dos meninos ingleses. Percebi a importância do Everton uns anos mais tarde, a ver a equipa de Howard Kendall ganhar a Taça de Inglaterra de 1984 e depois a Taça das Taças e a Liga inglesa – que ainda não havia Premier League – em 1985, com a ala direita formada por Gary Stevens e Trevor Steven, um Peter Reid que era uma espécie de Jaime Pacheco inglês a meio-campo e Andy Gray a fazer golos como até aí nunca fizera. Passaram quase 40 anos e o Everton está um caco. Frank Lampard, o treinador que o dono, Farhar Moshiri, nem queria, porque tinha os olhos postos em Vítor Pereira, mas que contratou na mesma, deixando-se influenciar pelos graffitis que surgiram pelo estádio, foi despedido ontem. A descida ao Championship parece cada vez mais iminente e para a evitar conta-se que será Marcelo Bielsa o escolhido. Mudará tudo... mais uma vez. Bielsa será a sétima cabeça da hidra que construiu esta equipa, depois de, tendo Roberto Martínez saído para a seleção da Bélgica, em 2016, por lá terem passado Ronald Koeman, Sam Allardyce, Marco Silva, Carlo Ancelotti, Rafael Benítez e Frank Lampard. Cada um com as suas ideias e os seus inputs, os seus jogadores preferidos e os seus caminhos delineados. Assim, de facto, não há clube que resista.
Aqui mando eu. Se o problema do Everton é não ter quem mande, locais há onde o futebol é mais objeto de demonstrações de poder quase infantil. Foi o caso no Al-Tai, clube da Liga saudita que os portugueses de repente passaram a poder acompanhar, de onde Pepa acaba de ser demitido... pelo Twitter. Conta a história que o treinador foi alertado por um amigo, que lhe ligou a perguntar se estava bem, depois de ter visto um tweet em que o clube não só lhe agradecia pelo trabalho desenvolvido como apresentava desde logo o seu substituto. A ele, porém, ainda ninguém tinha dito nada. Na Arábia Saudita, onde os clubes são todos do rei, que neles coloca um membro da família como dirigente, não há duas maneiras de ver as coisas. Há um tipo que manda e, quando ele toma uma decisão, não há pichagens que o façam mudar de opinião. Só falta ter a decência de assumir as escolhas e de enfrentar quem sofre com elas. Mas se isso ali nunca foi uma questão, nem em outras áreas muito mais relevantes da sociedade, não era agora e por causa do futebol que ia sê-lo. Quem para lá vai trabalhar já tem obrigação de saber como as coisas funcionam, da mesma forma que sabe que não é por ter sido despedido pelo Twitter que vai deixar de receber até ao último cêntimo todos os valores do contrato que não vai cumprir.
A taça da liga foi desenhada, desde o início, para acabar com jogos entre os grandes. Os outros clubes participavam só para entreter e só se os grandes estivessem a marimbar-se para a taça, lá iam fazendo umas graçolas. Dizer que é para os 4 primeiros é assumir abertamente o desejo que sempre presidiu à prova. Levar os jogos para o estrangeiro, no nosso caso, mais do que uma falta de respeito pelos adeptos, é risível. Mas tirando este cantinho, alguém quer saber de um clássico português?
O pensamento do Proenca è meramente economicista.
Para quê aquela trabalheira toda de andar a tentar arranjar buracos para meter os jogos da Taça da Liga se pudemos resolver isto com uma cimeira a 4 grandes, quem sabe em Paris para emigrante ver e ter o mesmo retorno financeiro e menos canseira ?
Talvez eu esteja a ser demasiado irónico...ou não.
Assim não vamos longe. Mais uma vez.
Mais uma vez somos nós ( dirigentes ) a matar a galinha dos ovos cada vez menos de ouro.