Ventos de mudança
A história do primeiro campeão da Irlanda do Norte de fora de Belfast desde 2002 é de mudança. Da forma como Kenny Bruce mudou a cidade de Larne. E de como Tiernan Lynch lhe mudou o futebol.
Dizem os locais que injustamente, mas Larne é uma cidade com má reputação. O sentimento fortemente lealista à coroa britânica levou a que fosse foco constante de problemas no tempo da “guerra religiosa” que assolou a Irlanda. O facto de não apresentar muitas distrações leva a que seja agora vista como “nenhures” – “Road to Nowhere” é como os irlandeses chamam à A8, a estrada que acaba em Larne, no porto onde se apanham os ferries para a Escócia. Pois foi em Larne que cresceu a primeira equipa de fora da capital, Belfast, a ser campeã da Irlanda do Norte desde o Portadown, em 2002. Mas só o fez graças aos ventos de mudança trazidos por Kenny Bruce, um milionário que nasceu ali antes de fazer fortuna com o imobiliário digital, e Tiernan Lynch, um treinador que aprendeu nos Estados Unidos que o futebol não tinha de ser aquele constante suplício físico em que se os jogadores não acabassem a vomitar era sinal de que não tinham feito bem a sua parte do trabalho. O Larne FC que na semana que vem cumprirá o sonho antigo de Bruce e fará ecoar no Inver Park os acordes do hino da Liga dos Campeões é fruto da visão acumulada pelos dois e ainda da capacidade de adaptação que cada um deles teve de mostrar. Porque Bruce resistiu à tentação de demitir o treinador após um início de época catastrófico e este soube adaptar um pouco a sua ideia de “jogo bonito” à idiossincrasia local, a um campeonato onde o físico pode até não ser tudo mas continua a ser extraordinariamente importante.