Um Robin Hood ao contrário
A Taça da Liga começou por servir para dar jogos e receitas aos pequenos, mas foi engolida na vertigem de marketing que a leva a excluí-los a favor dos grandes. Por isso acabou em quase todo o lado.
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Muitos de vós não acreditarão se vos disser que, em 2007, quando finalmente convenceu o Benfica – o maior opositor inicial à ideia – a aceitar a instituição de uma Taça da Liga, Hermínio Loureiro, então presidente da associação, estava a responder aos pedidos da maior parte dos clubes para que a entidade que os reunia enquanto grupo de pressão lhes preenchesse os buracos recorrentes no calendário. E é a mais pura das verdades. A Taça da Liga, que este ano, na enésima mudança de formato, nos desviou esta semana as atenções da novela que metia o Sporting, o Manchester United e Rúben Amorim, e que acabou com a confirmação da saída do treinador para a Premier League e a Masterclass que ele deu na conferência de imprensa de ontem, após os 5-1 ao Estrela da Amadora, chegou a Portugal para que os nossos jogadores não se aborrecessem a treinar sem terem jogos onde pudessem pôr-se à prova. E para que os clubes que não jogavam na UEFA pudessem somar mais umas quantas receitas de bilheteira ou TV, por mais modestas que fossem. Hoje, quando, juntamente com Inglaterra, somos o único país do Top10 do ranking da UEFA que ainda mantém a competição em vigor, o espírito da Taça da Liga mudou por completo. Em vez de ser uma forma de dar aos pequenos mais hipóteses de jogarem, tornou-se uma maneira de sugar ainda mais energia aos grandes, tão imprescindíveis para que a Final Four possa tornar-se uma boa ocasião de marketing que se lhes atapeta o caminho até lá entrarem com todas as facilidades possíveis. Facilidades como as que geraram a mascarada que foi esta simulação de eliminatória de acesso à decisão, em que os quatro grandes receberam o quinto, o sexto e os dois primeiros da última II Liga. A Taça da Liga transformou-se numa espécie de Robin Hood ao contrário: apareceu para dar aos mais desfavorecidos e acaba a tirar-lhes o acesso em favor dos xerifes de Nottingham, ignorando que é isso que a mata, porque para isso já lá estão as outras provas todas. É por aí que abre a Entrelinhas desta semana, que passará igualmente pelo futebol que se jogou e se jogará, pela polémica Bola de Ouro a Rodri, frustrando Vini Júnior e todo o povo brasileiro, e pela saída já confirmada de Rúben Amorim do campeonato e do clube que marcou.