Um par de ases para Conceição
O FC Porto apresentou quatro estruturas diferentes nos últimos quatro jogos. Sérgio Conceição anda à procura de uma base e para mim ela está no meio-campo.
Sérgio Conceição voltou aos quatro atrás no jogo com o Olympiakos, ganhou por 2-0, a equipa esteve melhor do que acontecera frente ao Gil Vicente, mas ainda assim vale a pena refletir nas razões que terão levado o treinador do FC Porto a mudar. É curioso que um treinador que tantas vezes é acusado de ser conservador e que resiste até ao fim à introdução de novos elementos, por lhes preferir os que já estão perfeitamente identificados com as ideias dele, tenha entrado com quatro estruturas diferentes nos quatro últimos jogos, mas só tenha visto a equipa controlar as partidas quando a viu assumir posicionamentos mais próximos dos que lhe deram o último título, com dois médios a par a assegurarem controlo pela posse. Mesmo que isso transfigure a ideia-base de que ele mais gosta.
O FC Porto entrou em Alvalade para defrontar o Sporting, a 17 de Outubro, no 4x2x3x1 com que enfrentou a ponta final da época passada: linha de quatro atrás, com Manafá e Zaidu nas laterais; Uribe a par de Sérgio Oliveira no duplo pivot de meio-campo, Corona e Diaz a abrirem o ataque e Otávio a auxiliar Marega no corredor central. Veio depois a visita a Manchester, para defrontar o City e, por razões que me pareceram exclusivamente defensivas – sobretudo a necessidade de fechar o espaço interior, desde sempre o preferido das equipas de Guardiola – o FC Porto mudou para um 3x4x2x1. Jogou com uma linha de três centrais, juntando Sarr a Pepe e Mbemba, manteve os laterais e a dupla de meio-campo e entregou o apoio a Marega na frente a Corona e Diaz, ambos com liberdade para escolherem se abriam na lateral ou se vinham por dentro. Nos dois jogos o FC Porto foi sólido, mas em ambos dependeu sempre muito da capacidade de queimar linhas em posse de Corona e Diaz. Aliás, dois dos três golos que os dragões fizeram nessas partidas saíram de belas iniciativas individuais a envolver estes dois jogadores.
A preparação do jogo com o Gil Vicente, onde ainda por cima não tinha Diaz (lesionado) e no qual ainda não sentiu confiança em Felipe Anderson, que pode fazer a mesma coisa que o colombiano em termos ofensivos mas que revela menos agressividade nos duelos – e tinha perdido a bola que gerou o golo do empate do Sporting em Alvalade –, terá levado o treinador a recordar a influência de Alex Telles na capacidade que a equipa dos anos anteriores revelava de criar desde zonas mais recuadas. E creio que terá sido daí que nasceu a opção pelos três defesas-centrais, ainda que trocando o mais recatado Sarr pelo mais expansivo Zaidu. Só que essa não foi a única alteração promovida nesse jogo: contra o Gil Vicente, o FC Porto surgiu em 3x1x4x2, com Uribe sozinho no papel de pivot de meio-campo, Manafá e Corona no papel de alas, Evanilson ao lado de Martínez na frente e Fábio Vieira e Nakajima como médios de criação. O esquema funcionou na criação do golo da vitória, graças à libertação do central (Zaidu) no corredor lateral, criando superioridade numérica com o ala (Corona) e o médio (Nakajima), mas o FC Porto nunca esteve confortável no jogo, no qual terá feito a pior das quatro exibições.
Ontem, contra o Olympiakos, num jogo que tinha imperiosamente que ganhar, para não se colocar em maus lençóis na Champions, Conceição voltou a mudar, optando desta vez por um 4x1x2x3 mais próximo daquele híbrido que criou para beneficiar as diagonais de Marega, ainda que agora com o maliano no corredor central. O FC Porto voltou à linha de quatro atrás mas manteve Uribe a solo no meio, com Sérgio Oliveira a soltar-se mais (e que belo jogo ele fez), Fábio Vieira a fazer de Otávio na forma como ele ia procurar a ala onde estava Corona – levando este a deslocar-se para perto de Marega – e Otávio a recordar tempos de Guimarães, nos quais jogava mais na esquerda. O FC Porto acabou por ganhar bem, mas na verdade só ganhou conforto e controlo quando Conceição chamou Grujic à ação, juntando-o a Uribe e recuperando o par de médios. Até essa altura, tinha-se adiantado na sequência de um erro individual dos gregos na saída de bola, mas estava a ser seriamente apertado pela equipa de Pedro Martins, que lhe criou sempre problemas no controlo da largura.
Tendo neste momento muitos puzzles por resolver e sentindo a necessidade de reconstruir uma ideia de equipa que, do ponto de vista da criação, ficou seriamente afetada pela saída de Alex Telles, Sérgio Conceição terá de escolher um primeiro passo. Confia mais nos que lhe conhecem as ideias, mas a verdade é que ele próprio não tem sido um exemplo de firmeza tática – e a única ideia de que verdadeiramente não abdica é a de arreganho e garra em cada disputa de bola, coisa que de tático não tem nada. O plantel tem material humano de grande qualidade, como se vê no crescimento de Fábio Vieira, na recuperação de Nakajima, na boa resposta dada por Zaidu, no potencial de Evanilson, Grujic, Felipe Anderson e do escondido Taremi. Cabe agora ao treinador encontrar uma base da qual partir – e a mim parece-me que ela estará sempre num par de médios capaz de assegurar controlo pela posse, mesmo que isso transforme este FC Porto num projeto mais dado à organização que à transição que tem sido a predileta do treinador.