Um líder camaleónico
Para ganhar em Guimarães, o FC Porto voltou a mudar. Conceição pode continuar desconfiado, mas uma equipa dá provas de capacidade competitiva há 57 semanas seguidas tem de merecer algum crédito.
Uma equipa que passa 57 jogos sem perder na Liga tem todo o direito a ser “desconfiada”, como disse Sérgio Conceição, no final da vitória que o FC Porto obteve ontem em Guimarães, mas o mais normal mesmo é que acabe por ganhar títulos. Sim, boa parte do recorde anterior na Liga Portuguesa, estabelecido pelo Benfica entre Outubro de 1976 e Setembro de 1978, redundou na conquista de apenas um campeonato nas três temporadas pelas quais a série se alargou – e até foi em 1976/77, época na qual perdeu dois jogos –, mas este FC Porto nem ganhou ainda um título nem dá mostras de poder ceder na camaleónica corrida à reconquista. No jogo de ontem, mostrou outra face, como tem feito semana após semana, voltou até um pouco atrás no tempo, no recurso à capacidade de Otávio para pedir ataques à profundidade, não foi brilhante, mas voltou a devolver a bola para o lado leonino do “court”. E, no máximo, estará a dez pontos de poder fazer a festa.
Não há boas e más maneiras de ganhar. Na época passada, o Sporting de Rúben Amorim fez uma cavalgada impressionante – e só perdeu o primeiro jogo, com o Benfica, na Luz, quando já era matematicamente campeão – a jogar de forma minimal repetitiva. Sempre o mesmo sistema, sempre as mesmas ideias, assentes num meio-campo híper rotativo, em dois alas de enorme capacidade criativa e nos frequentes contra movimentos dos três da frente, para desintegrar as linhas defensivas adversárias. Este ano, o Sporting mudou – nunca de sistema, mas de futebol, encaixando na sua forma de jogar ideias novas e descobrindo até maneira de nela introduzir um ponta-de-lança de área. Ora o FC Porto muda quase todas as semanas. E se, na mudança, mantém sempre a competitividade em alta, esse é um mérito que deve ser-lhe assacado. Até porque, mudando frequentemente a disposição em campo, Conceição mantém a identidade da equipa em torno de um par de princípios orientadores, dos quais não abdica há cinco anos.
Ontem, em Guimarães, voltou a receita do Bessa, contra o Boavista, possivelmente a que o FC Porto vai utilizar nas deslocações mais difíceis daqui até final da Liga – e ainda lhe faltam duas, aos terrenos do terceiro e do quarto classificados, o Benfica e o SC Braga. Mesmo sem Uribe, o FC Porto voltou a recorrer a um meio-campo excessivamente interior, a uma espécie de losango, que chama Otávio mais a tarefas de organização e lançamento do que ao habitual ganho junto à linha lateral. Já no Bessa tinha sido assim, ainda que aí com Evanilson a fazer a posição de ponta-de-lança que ontem coube a Taremi, mas sempre com Pepê a mover-se ali por perto e Fábio Vieira no papel de vértice mais ofensivo do meio-campo. Acaba por ser um FC Porto que despreza os corredores laterais, mas que pela facilidade com que mete ligações interiores nas entrelinhas – há Vitinha, Fábio Vieira, Otávio, Pepê e o próprio Taremi, mais dado a baixar em apoio do que Evanilson – contrai os blocos adversários e convida-os a deixar mais espaço nas costas, altura em que sobressai a capacidade de Otávio para meter o passe de rotura na altura exata e a de Taremi para ir buscar a profundidade.
Já houve alturas em que o próprio Sérgio Conceição se irritava quando lhe falavam num FC Porto viciado no ataque à profundidade, como se isso lhe diminuísse a capacidade de criação – e é verdade que a equipa de Marega e Aboubakar poucas armas diferentes podia apresentar para desequilibrar a não ser a capacidade de drible de um Brahimi ou a velocidade de um Corona. Neste momento, esse ataque ao espaço nas costas da última linha adversária é apenas mais uma arma de uma equipa que ganhou um “jogar” coletivo com o crescimento de Vitinha (primeiro) e de Fábio Vieira (mais recentemente), que não o perdeu ontem com a troca do lesionado Uribe por um Grujic menos dado a este tipo de ligações ágeis e que até tem sabido superar a perda de Díaz, o avançado que resolvia individualmente os jogos que a equipa não era capaz de resolver de forma conjunta. A poucas semanas do objetivo, a bola voltou para o lado do Sporting – que no domingo terá um duro teste no “derby” de Lisboa, em Alvalade. O FC Porto vai jogar antes, em casa com o Portimonense. E para continuarmos a ter campeonato para lá da Páscoa, será preciso o Sporting imitar o FC Porto e começar a, pelo menos, igualar recordes: é que desde 1954 que os leões não ganham por três vezes ao Benfica na mesma época. E certamente precisarão disso para se manterem vivos na luta e para levarem Conceição a desconfiar outra vez.
Foi um jogo umbocado estranho porque não houve muita baliza, poucas oportunidades flagrantes de golo e o Porto mais uma vez em dificuldades ganha e os campeões fazem-se assim como o Sporting da época passada com vários jogos em que teve imensas dificuldades mas no fim ganhava.
Os 57 jogos sem perder é de facto incrível e podem dar o mérito ao senhor treinador chamado Sérgio Conceição. Acho que os rivais só podem beneficiar com uma eventual saída de SC no final da época, ele já deixou um legado no Porto e acho que a saída de SC pode deixar um vazio nesta equipa e ser aproveitado pelos rivais, não sei porquê mas se o SC deixar o Porto no final da época cheira-me que o próximo treinador poderá ser Folha porque é o mais próximo do estilo (coração azul e conhece bem a casa) do SC. O que acha o António Tadeia ?
Cumprimentos
António, após mais este recorde histórico e tendo em conta o trabalho de autor de SC com esta equipa do Porto, que espaço na história do futebol português lhe está reservado? Em que lugar o colocaria entre os melhores treinadores da história do futebol português?