Um dia fundamental para o futebol nacional
O que está em causa, no Sporting-LASK e no Rio Ave-Milan, nem é a manutenção do sexto lugar do ranking da UEFA face à ameaça russa. É, a partir do ano que vem, o ataque à França, no quinto posto.
O dia de hoje será dos mais importantes do ano para o futebol português. Ainda estamos em Outubro, a Liga só leva duas jornadas e as provas europeias não chegaram sequer à fase de grupos, mas hoje começa a definir-se o futuro competitivo do futebol nacional, com laivos de irreversibilidade e efeitos práticos nos próximos anos. Os resultados do Sporting frente ao LASK e do Rio Ave face ao Milan definirão quantas equipas Portugal terá a competir – que é como quem diz, em condições de pontuar – nas provas europeias de 2020/21. Já se sabe que esse será um dos aspetos fundamentais na altamente provável renovação do sexto lugar do ranking da UEFA, permitindo o alargamento – para já – a 2022/23 do privilégio já assegurado para 2021/22: o de inscrever seis participantes na Europa, três deles com acesso à Liga dos Campeões. Mas não é só: quatro equipas na Liga Europa deste ano permite sonhar mais alto, com a ultrapassagem à França.
O sexto lugar deve estar seguro, por tudo o que já se passou esta época. Primeiro, o facto de a Rússia, que é o país a quem roubámos esse mesmo sexto lugar, estar a celebrar a colocação de três equipas no sorteio da Champions. Perguntar-me-ão: então, mas isso não é bom? É, claro. É excelente. Mas o ranking tem segredos e manhas, que já tinha explicado aqui, há um ano. Pontuar na Liga dos Campeões é muito mais difícil do que fazê-lo na Liga Europa, como rapidamente verão o Zenit (cabeça-de-série no sorteio), o FK Krasnodar (Pote 3) e o Lokomotiv Moscovo (Pote 4) na edição deste ano. Além destas três equipas, os russos têm no ranking mais duas desvantagens face a Portugal: os pontos que fizerem dividem por seis (o total de equipas que apresentaram à partida) enquanto os nossos dividem por cinco e só terão uma equipa na mais acessível Liga Europa (o CSKA Moscovo, já garantido no sorteio), pois Dynamo Moscovo e FK Rostov já ficaram pelo caminho nas pré-eliminatórias. Além do FC Porto (cabeça de série no sorteio da Liga dos Campeões), Portugal já tem seguros na fase de grupos da Liga Europa o Benfica e o SC Braga, lutando hoje para lhes juntar ainda Sporting e Rio Ave.
Tudo isto somado aos 4,1 pontos que Portugal tem de vantagem sobre a Rússia antes dos jogos de hoje leva a que dificilmente seja possível que venhamos a perder a posição: mesmo na incrível eventualidade de as equipas portuguesas perderem todos os jogos europeus até final da época, a Rússia só nos ultrapassaria se as suas quatro equipas – três delas na Liga dos Campeões, é bom recordar – somassem ao menos 12 vitórias e um empate. Não vai suceder. Portugal não só deve manter o sexto lugar com efeitos para 2022/23, como tem excelentes perspetivas de o segurar por mais duas temporadas ainda. Porquê? Porque, a cada ano, o ranking é estabelecido deixando cair as pontuações da quinta última época e, só aí, os portugueses recuperam sempre pontos aos russos: 1,2 relativos a 2016/17 e 2,9 de 2017/18. Sabem o que aconteceu a seguir? Daí para a frente, Portugal passou a pontuar mais do que a Rússia porque deixou de ter a possibilidade de meter três equipas na Liga dos Campeões, passou a marcar mais presença na Liga Europa e os seus pontos deixaram de dividir por seis, passando a dividir por cinco. Quer dizer que cada vitória russa nas provas de clubes deste ano vale 0.33 pontos, enquanto que cada vitória portuguesa vale 0.4. Mas descansem os russos, que para o ano já vai ser ao contrário. Este efeito perverso que tem o sucesso no ranking da UEFA é o maior promotor de rotação entre países que, como nós ou a Rússia, se colocam na charneira entre os verdadeiramente grandes e uma espécie de classe média-alta, a que pertencem Bélgica, Holanda, Áustria, Ucrânia ou Turquia. A verdadeira batalha do futebol português, no entanto, pode deixar de ser com a Rússia, para se centrar no ataque à França, que está por agora uns longínquos 9.9 pontos à nossa frente – e a boa notícia é que seis desses quase dez pontos serão anulados no início da próxima época, quando cair a pontuação referente a 2016/17. A França também tem três equipas na Liga dos Campeões e de lá não deverão vir muitos pontos além dos ganhos pelo PSG, que é cabeça de série (o Ol. Marselha e o Stade Rennes estarão no Pote 4). Mas os franceses juntam a este trio mais duas representantes na Liga Europa (o Lille OSC e o OGC Nice estarão no Pote 3 ou 4, consoante o que acontecer hoje). É por isso que, sendo de todo impossível atingir a França no final de esta época (no ranking que terá efeitos para 2022/23) é importante fazer a aproximação que permita o ataque ao quinto lugar no final da próxima (com efeito em 2023/24). E isso só se consegue com mais gente a pontuar.