Um ano em 90 minutos
Benfica ou FC Porto. Um dos dois será, hoje, o 31º campeão nacional consagrado na última jornada da prova. As histórias desta época estão frescas na memória de todos. Mas como foi nas outras 30 vezes?

Hoje à tarde (18h), quando o Benfica receber o Santa Clara e o FC Porto servir de anfitrião ao Vitória SC, para se definir em apenas 90 minutos quem será o campeão nacional de futebol de 2023, será apenas a 31ª vez que a Liga se decide no último dia. Este é um hábito que parece ter caído em desuso nos últimos tempos, muito graças à ampliação do campeonato a mais equipas e à realização de mais jornadas para as separar, mas a diferença na competitividade é menos significativa do que parece à primeira vista. É que se, ao todo, 34 por cento dos campeonatos deixaram as decisões para os últimos pontapés na bola, esta já será a sétima vez em 23 Ligas jogadas neste século (30 por cento) em que tal acontece. Tudo porque, se o futebol português já teve períodos de enorme equilíbrio – quatro dos cinco campeonatos dos anos 30 e seis dos dez da década de 50 ficaram para se decidir no último dia –, também experimentou décadas em que a emoção acabava cedo. Foi o caso dos anos 80 e 90, em que, ao todo, só duas Ligas se resolveram na última ronda.
Nos próximos 30 parágrafos deixo-vos a pitoresca história detalhada das emoções que fizeram os campeões de última hora do futebol português. Do primeiro campeonato por jornadas, o de 1935, decidido a fechar, numa espécie de finalíssima entre FC Porto e Sporting, à última vez que tal sucedeu e o Benfica se sagrou campeão, em 2019, vencendo na última partida o mesmo Santa Clara que agora vai defrontar. Pelo meio passa a emoção do único título do Belenenses, em 1946, o ano em que o Sporting tirou o campeonato aos azuis para o dar ao Benfica, em 1955, a nervosa corrida aos golos que acabou com o troféu do FC Porto e a entrada para os anais do conhecido caso-Calabote, em 1959, a ascensão, em 1978, e posterior queda, em 1980, dos dragões de Pedroto e Pinto da Costa, ou o fim do jejum do Sporting em Vidal Pinheiro, no ano 2000. Não se pede que hoje haja tanta emoção como houve em alguns destes anos, mas tão-só que os dois candidatos cheguem ao fim da competição sabendo que tudo fizeram para erguer a taça no fim. E isso já chega para que sejam dignos um do outro e do troféu a que só um deles terá acesso.