Três pontos importantes no clássico
Ainda é cedo, mas nenhuma das equipas tem grande margem de erro. No Sporting vivem-se momentos de intolerância e o FC Porto não pode deixar fugir o Benfica.
O primeiro clássico de uma época à qual a Covid-19 roubou até a Supertaça na abertura vai ser estranhamente importante, tendo em conta a fase ainda tão prematura em que vai a Liga. Vamos para a quarta jornada, mas tanto Sporting como FC Porto entrarão amanhã no relvado de Alvalade sem grande margem de erro, os leões porque vêm de cinco derrotas seguidas em jogos com os outros dois grandes – desde a final da Taça de Portugal de 2019 – e precisam de uma prova de vida que dê oxigénio a quem os lidera, os dragões porque perderam em casa com o Marítimo e não podem dar-se ao luxo de correr o risco de ver o Benfica alargar a vantagem que já leva no topo da tabela quando, um dia depois, visitar o Rio Ave em Vila do Conde.
Cada um com as suas vicissitudes, não é claro quem precisa mais deste jogo. Mesmo tendo em conta que o grau de exigência em Alvalade é menor, porque ninguém no seu perfeito juízo pode exigir a esta equipa que seja campeã assim do pé para a mão, a verdade é que o nível de intolerância perante o insucesso é também muito maior e faz o grupo liderado por Rúben Amorim andar sempre no fio da navalha. A equipa do Sporting parece bem mais sólida do que a que terminou a época passada, mas também é bom que se diga que só foi verdadeiramente testada uma vez, no jogo com o LASK, e nessa noite fracassou de forma rotunda. No Porto, a pressão é máxima, mas o passado recente é de resposta imediata: há um ano, por exemplo, após o afastamento prematuro da Liga dos Campeões e uma derrota em Barcelos, logo na jornada inaugural da Liga, o FC Porto deslocou-se à Luz com o mesmo risco de agora – o de ver o Benfica alargar para seis pontos a vantagem no topo – e respondeu da melhor forma, ganhando o clássico por 2-0. A dúvida é se a equipa de Sérgio Conceição estará já preparada para dar esse tipo de resposta, após semana e meia sem vários jogadores – que estiveram nas seleções – e ainda sem ter podido integrar de forma consolidada reforços acabados de chegar, como Grujic, Sarr ou Felipe Anderson.
No plano de jogo, tanto o Sporting como o FC Porto enfrentam desafios importantes às suas novas realidades. Rúben Amorim teve finalmente, na pré-época, tempo para trabalhar as suas ideias e se há coisa de que este Sporting não pode queixar-se é de falta de identidade. Hoje, essa identidade já existe de forma bem marcada, ainda que tenha muitos aspetos a precisar de aperfeiçoamento. Atrás, falta qualidade individual e quantidade de soluções. No meio, há que entender como é que o onze supera a saída de Wendel, até aqui o jogador mais influente na tarefa de levar a equipa para a frente, e como integra Palhinha, o médio mais sólido, que acaba de renovar contrato e por isso deverá tornar-se solução. Na frente, falta perceber se a chegada de João Mário não aconselhará o treinador a trocar o seu predileto 3x4x1x2, com um avançado-centro móvel e dado a recuar em movimentos de apoio, por um 3x4x2x1, que pode aproveitar melhor o craque emprestado pelo Inter MIlão e não condenar Sporar ao ostracismo.
A saída de bola dos leões continua a evidenciar problemas, mais até por falta de espírito livre e excesso de rigidez dos médios, que não se mostram nem dão linhas de passe nessa fase, do que por falta de qualidade dos três de trás com a bola nos pés. Ora este é o jogo em que isso vai ser mais testado, pois o FC Porto é a equipa mais pressionante de Portugal. E isso não mudou na equipa de Sérgio Conceição, por muito que o técnico campeão nacional tenha já mudado o perfil dos homens da frente e desistido do sistema híbrido entre o 4x3x3 e o 4x4x2, apostando numa equipa bem mais simétrica e fácil de interpretar pelos adversários. Mesmo com avançados mais finos, como Taremi ou até Martínez, o perfil da linha da frente portista continua muito marcado pela presença do explosivo Marega. E se, atrás, após a saída de Alex Telles, pode haver dúvidas acerca da capacidade criativa dos laterais – pelo menos enquanto Corona não passar a ser opção para jogar desde ali em vez dos velocistas que a equipa tem no grupo – na frente a quantidade de opções é imensa. Há Díaz e Felipe Anderson para a esquerda. Há Corona e eventualmente Marega para a direita. Há Marega, Taremi, Evanilson e Martínez para o meio. Tudo gente que permitirá elevada rotação e transfiguração da equipa consoante as opções do treinador.
Amanhã, em Alvalade, só estarão em disputa três pontos. Mas, tendo em conta a situação particular das duas equipas, serão três pontos muito importantes.