Taremi serve ao FC Porto porque o fará mudar
Sérgio Conceição disse na entrevista a O Jogo que todos os anos precisa de mudar a matriz de jogo. Já tentou com Zé Luís e agora repete com o iraniano.
Sérgio Conceição confirmou na entrevista que hoje deu ao jornal O Jogo a ideia que eu já tinha deixado no Futebol de Verdade acerca de Taremi: além da qualidade que mostrou no Rio Ave, o iraniano é um jogador disruptivo para o plano de jogo do FC Porto e é isso que faz dele um ativo apetecível para uma equipa que tem sempre de encontrar nuances para mudar, porque o facto de ganhar poderia torná-la previsível. Taremi é, nas palavras do treinador, “um jogador refinado”, por isso mesmo um tipo diferente da matriz que os adversários conhecem a um FC Porto que, na frente, se caraterizou sempre por um enorme impacto físico. “Quando os adversários nos conhecem melhor e existe mais atenção para esse impacto físico que o FC Porto tem, precisamos de meter outras nuances no jogo”, diz ainda o treinador campeão. Esta afirmação não foi feita a propósito do iraniano, mas serve perfeitamente para explicar a raiz do pensamento que esteve atrás da contratação de Taremi, uma espécie de segunda take daquilo que o clube já tentou – e o mercado nos dirá se ainda espera vir a conseguir – com Zé Luís.
Sendo, tal como Marega, um jogador móvel, um avançado que tanto procura desmarcações de apoio como movimentos de exploração da profundidade, que tanto explora as diagonais e o espaço entre o central e o lateral, alargando a ação a toda a frente de ataque, como surge na área para finalizações mais clínicas, a um toque, Taremi apresenta um valor acrescentado na sua qualidade técnica, na forma como segura e protege a bola. Foi isso, a somar ao facto de a sua forma de se mover ser desconhecida da maior parte dos defesas, que lhe garantiu a possibilidade de ser o jogador que mais penaltis sofreu na última edição da Liga: oito, tantos como aqueles de que beneficiaram Sporting e FC Famalicão nas 34 jornadas, e mais do que qualquer outra equipa à exceção de FC Porto (14), Rio Ave (14), CD Tondela (11) e Benfica (9), que foram os campeões das grandes penalidades. Numa altura em que tinha um ataque de certa forma repetitivo, com jogadores criativos nos corredores (Corona, Díaz, até Nakajima) e mais explosivos e impactantes fisicamente no meio (sobretudo Marega e Aboubakar, mas também Soares), o FC Porto tentou encontrar essa falha na matriz contratando Zé Luís, que é um avançado mais refinado, forte no ar mas também dono de um pé esquerdo que é capaz de fazer a diferença na condução. Pagou mais de dez milhões de euros por ele e não retirou os resultados esperados. É por isso que chega Taremi.
No esquema habitual de Sérgio Conceição, Taremi tanto pode ser o avançado mais central como o jogador que, a partir da direita, assegura que a equipa continua a ser um híbrido entre o 4x4x2 e o 4x3x3. Isto é, tanto pode ser o ponta-de-lança que, mais uma vez recorrendo às palavras de Sérgio Conceição, “joga de costas para a baliza, joga em apoio e também nos movimentos curtos à profundidade”, como pode jogar a partir de uma das alas, ora dando a largura de que a equipa precisa (caso em que o terceiro médio explora o espaço entre linhas), ora explorando as diagonais mais longas para atacar a profundidade, ora surgindo ao meio perto do ponta-de-lança (caso em que o terceiro médio vai procurar o corredor lateral). Aqui, a decisão vai ser do treinador, mas sobretudo daquilo que o mercado ainda tiver para dar ao FC Porto. Porque se Taremi for ponta-de-lança vai coabitar com Marega ou Corona na direita, com Díaz a partir da esquerda. Se entrar para segundo avançado, em princípio a partir do lado direito – porque é assim que as dinâmicas e trocas posicionais com Otávio funcionam melhor – terá ao meio Zé Luís, Soares, Fábio Silva, Aboubakar ou até Marega, que acabou a época a jogar ali. No fundo, muito vai depender dos jogadores que o FC Porto conseguir rentabilizar de forma a rechear os cofres.
Quem sai? Aboubakar, que parece ser quem menos conta por agora, mas a quem a pouca relevância recente reduziu o preço de mercado? Marega, que é importantíssimo para aquilo que é o DNA desta equipa, mas acaba contrato no final da época e poderá depois sair a custo zero? Fábio Silva, que representa o futuro, mas que ainda não se impôs e isso pode criar a ilusão de que a sua falta não seria sentida? Soares ou Zé Luís, que não passaram de segundas escolhas, mas que serão, provavelmente, os melhores finalizadores do lote? Ou Corona, que foi o melhor jogador da Liga, mas a quem um mercado em recessão como está a ser o deste ano dificilmente fará justiça? Conceição pode ter as suas ideias, mas esta é mais uma razão para o treinador do FC Porto vir dizer que o mercado é das coisas que mais o chateia nos finais de época. E, tal como a desorganização de ir para férias – “com a quantidade de miúdos, as malas” – não vai poder fugir-lhe.