Selfie de Páscoa no Bernabéu
O Real Madrid-Chelsea mostrou que a equipa londrina pode até trazer o cabrito e o folar, mas faz na mesma a figura daquele tio ou daquela prima que fica fora do enquadramento na selfie de Páscoa.
Estão a ver aquelas selfies de família, que tiramos antes dos almoços de Páscoa ou de Natal? Sobretudo se tiverem um grupo mais numeroso, há sempre um tio ou uma prima que fica fora do enquadramento, o que nos leva a ter de repetir todo o processo, braço esticado, telemóvel em câmara revertida, sorriso congelado, enquanto várias iguarias nos esperam a fumegar em cima da mesa. Pois bem: se houve coisa que o Chelsea conseguiu fazer na visita de ontem ao Santiago Bernabéu foi a selfie. No lance do primeiro golo do Real Madrid, os três defesas-centrais apresentados de início por Frank Lampard para conterem o ataque espanhol – Fofana, Thiago Silva e Koulibaly... – aparecem todos na fotografia tirada pela câmara que estava atrás da baliza de Kepa. Para quem não entendeu ainda bem o que é o futebol, como parece ser o caso de Todd Boehly, o bilionário norte-americano que comprou o clube londrino no início da época, já despediu dois treinadores mas, mesmo assim, como gastou 600 milhões de euros no mercado, não deixou de vaticinar publicamente que iria ganhar a Madrid por 3-0, aquela foto podia ser a prova de que a equipa esteve bem, unida. Mas não: naquele lance específico, a bola cruzada por Carvajal entrou em Vini Jr., naquele curto espaço entre Fofana e Thiago e, depois, o desvio deste, que o guarda-redes impediu de seguir para as redes, foi captado por Benzema, também no curto espaço entre Thiago e Koulibaly. Foi golo e o Real Madrid passou a gerir o tempo e a bola como quis. Courtois ainda teve de fazer uma boa defesa, é verdade, mas no seguimento da expulsão de Chilwell, traído pela lentidão de Cucurella a reagir a uma desmarcação de Rodrygo, Ancelotti chamou ao relvado Asensio para aumentar a vantagem – o que correu de acordo com o plano. Na visita pascal ao Bernabéu, o Chelsea fez aquilo que mais ou menos toda a gente esperava dele. Que foi ser curto e mesmo assim ficar fora do enquadramento na selfie.
Ora vamos lá resolver isto. Não teve grande história a primeira mão da primeira meia-final da Taça de Portugal, entre o Nacional e o SC Braga. E, mesmo que a tivesse, a verdade é que não haveria muita gente para a contar. O primeiro choque foi a bancada vazia que as imagens da TV mostraram a todo o país. Algo vai mal num futebol em que uma equipa de II Liga, segunda equipa mais representativa de uma região autónoma, joga em casa uma meia-final da Taça de Portugal, começa a definir a possibilidade de acesso ao Jamor, e no estádio estão apenas 655 espectadores. A falta de merecimento do Nacional começou ali, na ausência do seu público. E continuou no campo, onde o SC Braga foi muito melhor. Um, dois, três, quatro, cinco golos... Foram a forma que a equipa de Artur Jorge encontrou para dizer “Ora vamos lá resolver isto, que temos mais em que pensar”. O SC Braga começou por mostrar um dos seus principais atributos, que é o golo fácil, a capacidade que tem para transformar em finalização certeira qualquer bola dominada frente à área adversária. Ontem foi Racic quem abriu o marcador, mas depressa Pizzi fez o 2-0, num lance em que Banza preferiu o passe interior ao remate que também seria antecipável. Dois penaltis e um lance em que Pizzi devolveu a gentileza a Banza, para lhe permitir o bis, completaram o 5-0 e deixaram os bracarenses com a certeza de que vão estar na final da prova que venceram em 2021 e onde poderão preencher o seu lado das bancadas. Na Madeira, hoje, quando forem tomar café, muitos adeptos do Nacional vão ser surpreendidos. “Ah sim, houve jogo?” E não, a verdade é que nem chegou a haver.
É a inflação. Todos nos queixamos da inflação, do aumento dos preços que está bem à vista em cada visita ao supermercado, mas se há mercado que não se aguenta é o do futebol. Hoje, a ler nos jornais ingleses que, depois da desistência anunciada anteontem pelo Liverpool FC, Manchester City e Real Madrid são já os únicos clubes na disposição de largar os 150 milhões de euros que servem de base de licitação na corrida por Jude Bellingham, ou que Erik Ten Hag anda possesso porque o atraso burocrático no processo de venda do Manchester United lhe está a atrasar os planos de reconstrução da equipa, porque não conseguirá chegar a quem queria – e é muita gente... – no Verão, lembrei-me do meu primeiro mercado a trabalhar. Ora saquem se fazem favor do Google para pesquisarem por Tony Cottee. Estávamos em 1988 e aquele ponta-de-lança anão (1,70m) mas com físico de carro de assalto mudou-se do West Ham para o Everton por 3,5 milhões de euros, então um recorde britânico. Passei depois uma série de fins-de-semana em busca de sinais que justificassem esse investimento nos resumos da Liga inglesa, sem nunca os encontrar. Diego Maradona, um nome que já não exige que se vá à Wikipedia, custara 12 milhões ao SSC Nápoles, quatro anos antes. Esta era uma altura em que o dinheiro estava, regra geral, em Itália: Baggio, Lentini, Vialli tornaram-se depois, uns após os outros, os jogadores mais caros do Mundo. Vieram os Galáticos do Real Madrid, Figo por 60 milhões, Zidane por 77, Ronaldo por 94, Bale por 101... E houve as loucuras de Pogba (105 milhões pagos pelo Manchester United à Juventus em 2016) e Neymar (222 milhões torrados pelo Paris Saint-Germain em Barcelona em 2017). Parecia que a espiral se extinguira com a pandemia, mas o mercado está de volta. Bellingham vai marcar o próximo Verão. Custará uns 40 Cottees.
Obrigado pela cronica.
No entanto futebol é futebol e se não fosse o disparate do defesa do Chelsea provavelmente (nunca saberemos) teria sido uma vitória magra do RM.
Bom dia AT este Chelsea tem muita qualidade individual mas em termos colectivos a equipa não funciona muito bem.. a culpa é dos treinadores que la passaram ou será dos jogadores ? Abraço continuação de um excelente trabalho