Rigor flaviense e "small ball" leonina
Um Sporting viciado na bola curta deixou de se mostrar apto a explorar os grandes espaços e foi travado por um GD Chaves competente na defesa da sua área e forte na relação com o golo.
Um GD Chaves rigoroso e disciplinado, que passou 45 minutos a tentar aguentar o embate e só na segunda parte procurou atacar também, venceu o Sporting, em Alvalade, por 2-0, dessa forma avolumando a crise da equipa leonina, que somou apenas quatro pontos nas primeiras quatro jornadas da Liga, já está a cinco do Benfica (que tem menos um jogo) e pode hoje ficar a oito do FC Porto, caso os dragões vençam o Rio Ave. Vítor Campelos, o treinador da equipa transmontana, apostou num bloco baixo, em duas linhas próximas da sua área, impedindo as ligações interiores dos leões, forçando-os a cruzar vezes sem conta e impondo nessa altura o maior poder físico e a superioridade numérica de uma última linha que não se desmontou em 90 minutos de partida. Um golo de Steven Vitória, de cabeça, após livre lateral, e outro de Juninho, três minutos depois, em contra-ataque, chegaram para o GD Chaves tirar os três pontos a um Sporting demasiado viciado num jogo que, das duas uma, ou precisa de um ponta-de-lança clássico ou de um médio que consiga levar a equipa a explorar os grandes espaços, dessa forma fazendo chegar a bola mais rapidamente a zonas de finalização.
“Não vou mudar as minhas convicções”, disse no final do jogo um Rúben Amorim que começa a sentir alguma contestação em Alvalade, na sequência do segundo jogo seguido de Liga em que os leões não fazem golos, algo que não lhe acontecia desde a ponta final da época de 2019/20 – e que na altura lhe custou uma vaga na Liga Europa, perdida sobre o risco para o SC Braga. Mas começa a parecer evidente que para este Sporting de ataque móvel e “small ball” resultar faz falta um meio-campo que a faça chegar bem mais cedo à área, numa altura em que os seus avançados levezinhos ainda não tenham de enfrentar linhas robustas e já bem posicionadas. Desde a saída de Matheus Nunes, que era esse médio, em 180 minutos de jogo, o Sporting não fez um golo. Nos 180 minutos anteriores, também a jogar sem ponta-de-lança – Paulinho tinha jogado 60 desses 180 minutos, em Braga, é verdade, mas mesmo ele é um ponta-de-lança móvel – tinha marcado seis.
Amorim apostou ontem no recuo de Pedro Gonçalves para a zona de meio-campo, entregando o ataque a Trincão, Edwards e Rochinha, e isso permitiu aos leões algumas combinações interessantes que, com uma melhor relação com o golo, poderiam tê-los deixado em vantagem ao intervalo. Não foi assim e no final valeu mais a alteração feita ao intervalo por Campelos, que deu mais robustez ao meio-campo e capacidade de chegada ao ataque com as entradas de Obiora e Juninho, mantendo a solidariedade e a organização férrea atrás. “Entraram dois jogadores sem ritmo, mas foi com eles que fizemos as transições que resultaram nos golos”, celebrava no final o treinador dos flavienses.