Rangnick e a revolução dos três C
Capital, conceito e competência. Este tem sido o lema de Ralf Rangnick, o padrinho de quase todos os atuais treinadores alemães de sucesso e que, no United, quer juntar mais um C à fórmula: controlo.
Controlo, controlo, controlo. Na primeira resposta dada na conferência de imprensa inaugural de Ralf Rangnick como treinador do Manchester United, na sexta-feira, o alemão disse seis vezes a palavra “controlo”, identificando a necessidade de controlar os jogos como primeiro aspeto a resolver no clube e adicionando um “C” aos três já presentes no seu lema profissional. O pai do “contra-pressing” e padrinho de toda uma geração de treinadores alemães que manda na Europa do futebol fala há anos na mesma fórmula: “Capital, conceito e competência”. São três “C”, um triplo “K” em alemão: “Kapital, Konzept und Kompetenz”. O Manchester United já tem capital em barda, como se prova pelo dinheiro que tem torrado todos os anos no mercado de transferências. Competência também existe, sobretudo no campo de jogo. O que falta é unificar tudo através de um conceito, espécie de argamassa que meta toda a gente a correr para o mesmo lado. E é isso que se espera de Rangnick, mesmo que para o conseguir ele tenha de fazer adaptações.
Aliás, a ideia de controlo, em si, já é uma pequena adaptação. Rangnick sempre foi um feroz adepto dos momentos de transição, onde a inteligência furiosa se sobrepunha a qualquer ideia de controlo. “As probabilidades de recuperar a bola são muito mais elevadas nos oito segundos que se sucedem à sua perda. E a maior parte dos golos são marcados nos primeiros dez segundos após a recuperarmos”, expõe há anos Rangnick, ao enunciar a teoria que serviu de base ao “gegenpressing”, o “contra-pressing” em português. Esta ideia, que hoje unifica o futebol “à alemã”, começou a ser trabalhada e foi adotada por Jürgen Klopp depois de ter visto o seu Borussia Dortmund destruído pelo TSG Hoffenheim de Rangnick (1-4 em Setembro de 2008). “O massacre a que fomos submetidos tem de ser uma referência para nós. Temos de ser capazes de pressionar como esta equipa do TSG Hoffenheim”, disse na altura Klopp, que acabara de chegar do Mainz FC e tinha o primeiro trabalho com verdadeira visibilidade. Todos os treinadores têm uma epifania futebolística ao longo da carreira. A de Rangnick acontecera 25 anos antes, quando ainda treinava o modestíssimo Viktoria Backnang, do regional alemão, e lhe coube defrontar o poderoso Dynamo Kiev de Valeriy Lobanovski, que estava em estágio na zona de Estugarda.