Quem é favorito para ganhar a Liga?
Vai para quatro anos que a Liga não premeia quem mais investe. Mas também vai para quatro anos que não há bicampeão. Quebrarão FC Porto ou Benfica os enguiços? Ou SC Braga e Sporting podem mantê-los?
Hoje recomeça a Liga, com a primeira bola a ser jogada a partir das 19 horas, em Famalicão, entre a equipa local, dizimada pela sua própria estratégia de mercado – a de servir de barriga de aluguer para clubes amigos – e um Benfica à procura de renascer, debaixo das ordens de Jorge Jesus. Mais tarde ainda há estreia de Quaresma em Guimarães, mas por essa altura já as atenções da generalidade de um país futebolisticamente tricéfalo estarão viradas para os novos dados que o jogo inaugural há-de ter trazido à questão importante mas impossível de definir desde já com certeza que é a definição de quem é favorito à vitória final. Para já, as casas de apostas dão ligeira vantagem ao Benfica e eu sinto-me tentado a concordar. Mas só ligeiramente.
A sensação de favoritismo do Benfica pode vir de muitas coisas. Algumas são reais, como o regresso de um treinador tão competente como Jesus ou o investimento de 80 milhões de euros em reforços, sem que a equipa tenha perdido um único jogador importante. Mas Jesus também perdeu campeonatos. Aliás, só venceu um terço das Ligas que jogou para ganhar: na sua anterior passagem pela Luz ganhou três e perdeu outras três, enquanto que depois no Sporting perdeu as três que jogou. E o próprio investimento não é garantia de sucesso final. Na época passada, é verdade que tendo perdido João Félix e Jiménez, quem mais investira em Portugal já tinha sido o Benfica, com 63,5 milhões de euros, face aos equiparáveis 63 milhões do FC Porto, que no entanto ficara sem meia equipa (Militão, Felipe, Oliver, Brahimi, Herrera, Casillas, Maxi…). E os campeões foram os dragões. Dir-me-ão que foi casualidade e que a diferença de investimento nem foi assim tão grande, mas atenção: em 2018/19 o FC Porto gastou 33 milhões em reforços, enquanto o Benfica se ficava pelos 25 e o título foi para a Luz, graças ao renascimento operado por Bruno Lage a partir de meio da época. E em 2017/18, o primeiro título de Sérgio Conceição no Dragão foi obtido com 24 milhões de euros em reforços, contra apenas nove do Benfica e 48 do Sporting, na que foi a última tentativa de Jorge Jesus se sagrar campeão em Alvalade.
Portanto, é evidente que construir boas equipas custa dinheiro, mas que o dinheiro por si só não é garantia de sucesso. O título ganho por Rui Vitória na Luz em 2016/17, com 43 milhões de euros em reforços – contra 39 do FC Porto de Nuno Espírito Santo e 34 do Sporting de Jesus – foi a última vez que a Liga sagrou campeã a equipa que mais investiu. E se aproveitar para ver aqui uma desvantagem do Benfica na corrida, pois então fique-se com esta: também foi a última vez que o campeão defendeu com êxito o título. Porque ganhar, muitas vezes, tem um efeito anestesiante nos grupos, que se apresentam menos despertos, mais saciados, face a adversários a quem o desaire já deu a noção das suas próprias limitações e os terá levado a trabalhar mais no sentido de as superarem. Nesse particular, a eliminação da Liga dos Campeões, frente ao PAOK, pode ter sido o “abre-olhos” de que este Benfica precisava para deixar de se embebedar com os milhões que gastou. No ano passado, por exemplo, para o FC Porto, a queda contra o FK Krasnodar funcionou – mesmo tendo sido avolumada com a derrota frente ao Gil Vicente na jornada inaugural do campeonato.
É muito provável que as equipas ainda mudem muito até ao encerramento do mercado, mas se tiver de arriscar um favorito agora também eu direi Benfica. Porque o plantel atual ao dispor de Jesus me parece mais completo em soluções do que aquele que Sérgio Conceição tem no FC Porto. Mas atenção que no Dragão continuam os elementos fundamentais na conquista do último título – Alex Telles, Corona, Marega, eventualmente Otávio –, que Uribe e Díaz têm mais um ano de Europa, e que mesmo privada de Fábio Silva e Vitinha, a geração campeã da Europa de sub19 em 2019 continua a fervilhar pronta para dar o salto. A Liga vai ser discutida ao milímetro e não só por estes dois favoritos: o SC Braga e o Sporting também têm uma palavra a dizer. E se as quatro principais casas de apostas a operar em Portugal são unânimes no favoritismo que dão ao Benfica, já se dividem acerca de quem estará mais bem apetrechado entre SC Braga e Sporting: a Betclic e a Betpt favorecem o Sporting, enquanto que a Betano e o Placard acreditam mais no SC Braga. Todas com odds entre os 15 e os 29, no entanto.
Claro que SC Braga e Sporting terão de ser sempre vistos como outsiders. Mas no Minho está uma equipa com uma invejável profundidade no plantel do SC Braga: Carlos Carvalhal dispõe de duas soluções de nível semelhante para cada posição e de condições invejáveis para poder desenvolver a sua ideia de jogo positivo. E, mesmo não tenho 25 homens do mesmo nível, o Sporting pode rivalizar em termos de 11, assentando o otimismo no espírito competitivo que permitiu à equipa comandada por Rúben Amorim ganhar seis e empatar três dos nove jogos que fez sem ser contra outros candidatos – com estes, sim, perdeu duas vezes, sendo isso que tem de corrigir na cabeça da sua jovem equipa.