Prioridades e necessidades na gestão
As ausências de Vitinha, Taremi e Evanilson no onze apresentado contra a Lazio mostram que Conceição falava a sério quando mencionou a redefinição de objetivos. E o Benfica? O que fará hoje Veríssimo?
O Benfica enfrenta hoje no Bessa um jogo fundamental para manter a pressão sobre a dupla da frente e eventualmente capitalizar em cima dos pontos que FC Porto e Sporting deixaram no clássico, de forma a ainda sonhar com a entrada direta na próxima Liga dos Campeões. Ao mesmo tempo, ainda está na edição deste ano da Champions, preparando-se para receber o Ajax na quarta-feira. O FC Porto, que jogou ontem, manteve o desafio de Moreira de Cónegos, contra um adversário complicado, marcado para domingo, não o adiando para segunda-feira, porque tem outro desafio com a Lazio na quinta-feira – e por isso ontem Sérgio Conceição apareceu sem Vitinha, Evanilson e Taremi de início. Os treinadores repetem que pensam estas coisas “jogo a jogo”, mas na realidade estariam a prejudicar os interesses das suas equipas se o fizessem. A rotatividade vai sendo gerida de acordo com a definição de prioridades e as necessidades.
Para FC Porto e Sporting, evidentemente, nunca se colocou a possibilidade de gerir no clássico que antecedeu esta ronda europeia – lá está a definição de objetivos. Mas também é curioso que ninguém se tenha lembrado de que o Manchester City chegou a Alvalade para defrontar os leões com menos um dia de repouso, uma vez que tinha jogado com o Norwich City no sábado, enquanto o Sporting jogara no Dragão na sexta-feira – eis as necessidades. Guardiola alinhou em Norwich com cinco titulares diferentes dos que fez subir ao relvado em Lisboa – Walker, Aké, Zinchenko, Fernandinho e Gundogan – mas isso acabou por não ser relevante, pois com tanta qualidade à sua disposição coloca-se num patamar tão acima dos adversários que mesmo assim saiu dos dois desafios com duas vitórias e um score global de 9-0 em golos. Já Rúben Amorim mudou três homens, mas dois deles – Porro e Pedro Gonçalves – estavam impedidos, por castigo e lesão, de defrontar os dragões. Mas tendo em conta que os leões terão a próxima semana para trabalhar e descansar, sem jogos, não se nota ali uma definição clara de prioridades, como a que terá presidido à decisão de Sérgio Conceição para o onze de ontem.
Quando perdeu Luís Díaz, no mercado de Janeiro, Sérgio Conceição falou numa redefinição de objetivos – e o jogo de ontem mostrou que o FC Porto não vai claramente deixar de jogar para ganhar na Liga Europa, mas que o fundamental é mesmo ser campeão nacional. É certo que Toni Martínez, um dos titulares-surpresa na partida de ontem, respondeu à altura – pelo menos no momento da finalização – mas amputar esta equipa de Vitinha, Evanilson e Taremi é tirar-lhe boa parte da criatividade com bola e da capacidade de pressão sem ela. No Futebol de Verdade de hoje (12h30, em direto no meu canal de YouTube) explicarei melhor esta ideia. Para já basta-me dizer que creio que contra o Moreirense estarão os três no onze, o que até pode provocar alguma surpresa em quem olhar para o bis do avançado espanhol e partir do princípio de que se o avançado marca golos segura automaticamente o lugar na equipa. Não é assim. Há muitas coisas que um avançado tem de fazer além de marcar os golos e, sendo o melhor finalizador dos três pontas-de-lança do FC Porto, Martínez não é tão forte como os outros nas restantes tarefas.
O FC Porto geriu Vitinha, Taremi e Evanilson, da mesma forma que, na Lazio, Sarri geriu Acerbi e Immobile. O ponta-de-lança titular da seleção italiana marcou em cinco das últimas seis jornadas da Serie A, mas estava “com febre” e o treinador nem quis trazê-lo a Portugal a ver se dava para ele jogar. Porquê? Porque, igualmente não desprezando a Liga Europa, o foco da Lazio é a obtenção de uma vaga na próxima Liga dos Campeões – é sexta na Serie A, mas está a quatro pontos da Juventus, que é quarta. E no domingo há jogo em Udine. Da mesma forma que o FC Barcelona quer muito estar na próxima Champions – e voltou a acreditar que será possível, face à crise do Atlético Madrid – e por isso mesmo Xavi Hernández mudou quatro homens entre o dérbi com o Espanyol e a partida de ontem, empatada com o SSC Nápoles, em Camp Nou. As equipas não se pensam “jogo a jogo”, pensam-se em ciclos, em função das prioridades e das necessidades. A questão é que nem sempre elas são claras. No caso de Conceição, só ele saberá o que quis dizer quando falou em “redefinição de objetivos”. No caso do Benfica e de Nélson Veríssimo, mais logo se verá, face ao onze que os encarnados levarem ao relvado do Bessa para enfrentar o Boavista.
PS - Ontem, no E-Mail que seguiu para os subscritores, o botão que conduz à subscrição anual tinha um erro. Dizia “Dois anos grátis na subscrição anual”, quando na verdade a promoção vos oferece dois meses gratuitos se optarem por fazer a subscrição por um ano. Fui alertado por alguns de vós e emendei, mas já não pude emendar o Mail, que já tinha seguido. Peço desculpa a todos.
A redefinição de objetivos pareceu-me mais uma jogada de antecipação do Sérgio Conceição, salvaguardando algum percalço numa altura importante da época. Mesmo com Luís Diaz, não acredito que a abordagem às diferentes competições fosse diferente: prioridade total ao campeonato, mantendo níveis de competitividade na liga Europa. Se der para ir passando eliminatórias, tudo bem, caso ponha em causa a corrida ao título, a liga Europa cai de imediato. E isto aconteceria mesmo com o Diaz.
E se esta situação acontece com o Porto, que até pode chegar longe na liga Europa, que dizer do Benfica na champions? Não há discussão possivel. É foco no campeonato a 100%; na champions basta não levar goleadas e ser eliminado com resultados "decentes". Nem o mais acérrimo benfiquista acreditará que o Benfica pode lutar para ganhar a champions. Mas está na corrida pela entrada direta na competição do próximo ano e isso vale milhões preciosos.
Continua a fazer-me alguma confusão o “redefinir de objetivos” apenas pela saída de um jogador. Pergunto se por exemplo tivesse havido uma lesão grave impossibilitando o Diaz de jogar mais esta época (é algo mau, mas que pode acontecer) se o discurso seria o mesmo. Parece-me que o discurso foi mais pelo preço que foi e por ter sido a meio da época.