Para jogar ou para ganhar
O FC Porto é o maior favorito a ganhar a Liga Europa, como dizem a Opta ou Villas-Boas? Ou a competição, que tem colossos como o Manchester Utd., é só para ir jogando, como (se) defende Vítor Bruno?
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Afinal de contas, em que é que ficamos? O FC Porto poderá disputar a Liga Europa “até ao limite”, como se comprometeu a fazer o presidente André Villas-Boas, ainda por cima o último a vencer a prova no clube como treinador, ou deve dar “um passo de cada vez”, como afirmou o mais cauteloso Vítor Bruno, que é quem tem a missão de calçar os outrora gloriosos sapatos do atual líder no banco? É verdade que a reta final do mercado melhorou substancialmente uma equipa que, com o plantel da pré-época, dificilmente seria candidata a ganhar o que quer que fosse (e não é de agora que o digo, como podem ver aqui). É igualmente certo que o comando técnico de Vítor Bruno até saiu melhor do que a encomenda, com notas de argúcia estratégica que já eram um dos pontos fortes da liderança de Sérgio Conceição. É, por fim, correto dizer que as equipas portuguesas estão este ano a olhar para as competições europeias com uma ambição renovada, única forma de voltarmos a pontuar ao nível exigível. E que, sendo o FC Porto, como bem disse Kjetil Knudsen, treinador do Bodo-Glimt, “uma equipa de Champions”, terá de ser visto como um das candidatos a vencer a Liga Europa. Só que o FC Porto não é a única “equipa de Champions” na prova.
Deu brado por cá a simulação feita pela Opta, que aponta o FC Porto como principal candidato a ganhar a Liga Europa (pode ver a história na fonte, aqui). Segundo o supercomputador desta empresa especializada na análise de métricas de vários desportos, o FC Porto saiu com a taça em 17,8 por cento das dez mil simulações feitas à competição. E quem mais se aproxima dos dragões nem são as potências da Premier League presentes – Tottenham com 8,6 por cento e Manchester United, com 7,1 por cento – mas sim o Athletic Bilbau, que organiza a final no seu estádio e soma 10,9 por cento de probabilidades de vencer. Eu não colocaria o FC Porto como principal candidato a ganhar a Liga Europa, até por reconhecer que o plantel está mais forte mas ao mesmo tempo não parece ter a profundidade suficiente para se manter a velocidade máxima em duas competições ao mesmo tempo. E este é um aspeto a ter em conta: qual vai ser o investimento do FC Porto na prova se e quando chegarmos ao fim do Inverno e a equipa estiver ainda a lutar pelo título nacional com Sporting e Benfica, estes porventura já fora da Liga dos Campeões? Mais ainda: qual vai ser o investimento na Liga Europa de colossos como o Manchester United, o Tottenham, a AS Roma, a Lazio, o Athletic Bilbau ou a Real Sociedad se e quando, chegados a essa altura, estiverem já fora das corridas aos seus títulos nacionais mas com a qualificação para a Champions mais ou menos controlada ou até já totalmente fora de cogitação?
Não sei até que ponto é que estes aspetos são quantificáveis e projetáveis, mas julgo ver um pouco desta avaliação subjetiva da importância das competições na probabilidade dada pela Opta, por exemplo, ao Slavia Praga, para ganhar a Liga Europa. 9,6 por cento? Mais do que o Tottenham e o Manchester United? Que outra justificação haverá para isso a não ser a noção de que, quando as coisas nas provas da UEFA começarem verdadeiramente a decidir-se, ao contrário do que vão fazer equipas mais habituadas a jogar Champions e que olham para a Liga Europa como uma espécie de despromoção, o Slavia poderá até priorizar esta prova e não o campeonato? Por alguma razão, se compararmos as projeções dadas acima com as que a mesma Opta fez para a Liga dos Campeões (e também pode ver a história aqui) verificamos que os três maiores favoritos a vencer a Liga Europa somam um total de 38,3 por cento de hipóteses de ganhar e os três favoritos à Champions atingem 54,4 por cento. Ou que, por exemplo, todos os clubes participantes na Liga Europa têm pelo menos 0,1 por cento de hipóteses de vencer a final, enquanto que nove dos 36 que vão jogar a Champions aparecem na simulação com um zero redondo. Razão? A mim só me ocorre uma: é que a Champions é para todos a primeira prioridade, uma prioridade que os maiores não sacrificam a nada, mas o mesmo já não pode ser dito da Liga Europa, que a partir de determinado momento pode vir a ser colocada em segundo plano face às necessidades da carreira interna.
Com as contratações de Nehuén Pérez – falta perceber se Tiago Djaló vem em condições de ajudar também –, Francisco Moura, Fábio Vieira e Samu Omorodion, o FC Porto consegue um onze de qualidade. Tem um excelente guarda-redes em Diogo Costa, pelo menos três centrais capazes de assegurar regularidade e duas duplas de laterais em condições de diversificar as saídas: Martim, Moura e até Wendell podem fazê-lo mais baixo no campo, João Mário, Moura e eventualmente Galeno podem projetar-se. E ainda sobra Zaidu, que não é um craque total mas chegou para ser campeão há dois anos. O meio-campo tem Varela como fundamental – e aqui começam as questões acerca da profundidade. Alan Varela não tem quem o substitua em influência vinda das suas caraterísticas únicas. Há Eustáquio? É verdade. O luso-canadiano é bem melhor do que o julgam, mas até Vítor Bruno o vê sobretudo como complemento ideal para o argentino em jogos nos quais tenha de se precaver mais e lhe convenha avançar Nico González para a dupla de apoio ao ponta-de-lança em vez de o ter ali. Grujic é solução de recurso menos fiável e Vasco Sousa também vai crescer mais como segundo médio. Aliás, para a posição de escudeiro de Varela, o FC Porto tem muita gente: todos estes e ainda André Franco, que chega perfeitamente para jogador de plantel.
Mais à frente, a equipa vai sempre projetar um lateral – em princípio o direito, porque a largura à esquerda quem a dá é Galeno. E aqui voltam as questões da profundidade. O que se faz sem Galeno? Avança Gonçalo Borges para a direita, trava-se a projeção do lateral desse lado – com Martim em vez de João Mário – e solta-se Moura na esquerda. Não é a mesma coisa. Tal como, sendo certo que para as duas vagas nos meios-espaços, atrás do avançado, há Pepê, Fábio Vieira, Ivan Jaime ou até as adaptações de Nico ou Namaso, depois falta quem faça as vezes de Samu na frente. E, ainda que muitas das dificuldades físicas que o espanhol revelou no fim do jogo com o Vitória SC possam dever-se ao facto de não ter feito pré-época e ainda lhe faltar ritmo, a verdade é que ele nunca foi testado a fazer mais de 50 jogos numa época, como se exigirá num FC Porto em duas frentes até Maio. E se recuperar aqueles 90 quilos em três dias pode não ser pera doce, jogar sem ele e com Navarro ou Namaso na frente não é, de todo, a mesma coisa. É muito por causa destas três dificuldades que estou mais perto de Vítor Bruno do que de André Villas-Boas ou do supercomputador da Opta. O FC Porto pode ganhar a Liga Europa? Pode, sim. Mas não lhe será fácil projetar este plantel para se manter em alta na UEFA e na Liga Portuguesa. É por isso que se recomenda que dê “um passo de cada vez”.
Os 3 grandes estão em perfeitas condições de vencer a Liga Europa e o campeonato, é perfeitamente possível vencer ambos e lutar por ambos, e já vimos acontecer várias vezes. O problema com a Liga Europa é que parece que ninguém já quer saber do prestigio, clubes e adeptos só querem saber do dinheiro que a competição dá e não do prestigio de vencer uma competição europeia, uma mudança lamentável e triste na forma como se vê o futebol. É que um City olhar para a competição como um emplastro ainda se entende, mas em Portugual? É não ter noção da realidade.
Estou convicto que o Sporting teria ganho o campeonato e a Liga Europa se quisesse. Os 3 grandes subvalorizam o seu próprio plantel, e chegam ao ridículo do que vimos na época passada, o Sporting a "dar" as vitórias à Atalanta por até estrear um reforço de inverno que mal jogou no resto da época, com o excesso de poupanças. O Porto pode vencer, se assim quiser.
Um apontamento, chamar colossos ao atual Manchester United, e ao Tottenham, à AS Roma, à Lazio, ao Athletic Bilbau e à Real Sociedad, é no mínimo exagerado.
Penso que o FC Porto tem hipóteses de vencer.. mas não o considero como favorito.
Depende sempre se a luta pelo o campeonato ainda está em aberto. Nao acredito que tenha plantel para competir internamente e la fora também