Oxigénio no regresso ao básico
No regresso ao básico, o Benfica pode ter encontrado ontem a injeção de moral e o oxigénio que lhe permitam encarar os três meses que faltam de uma época que foi pura perda de tempo.
O empate obtido pelo Benfica, na Luz, contra o Ajax, em jogo dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, pode até ter sabido a pouco, sobretudo para quem se sentir tentado a colocar em cima da mesa a história do clube português, mas foi a primeira vez que os neerlandeses não ganharam um jogo na edição deste ano da competição. E, tendo em conta não só a prestação recente das duas equipas mas também aquilo que se viu na primeira parte do desafio, o jogo acabou por sair muito melhor do que a encomenda. Falando de coisas concretas, o empate serve ao Benfica para manter a eliminatória em aberto e, sobretudo, é uma injeção de moral, amor-próprio e oxigénio para enfrentar os três meses que faltam desta época. Três meses que, em caso de derrota clara ontem, podiam vir a transformar-se num exercício penoso de confirmação de uma oportunidade perdida.
Se já havia dúvidas de que o ano-zero do Benfica pós-Vieira está a ser pura perda de tempo, elas foram arrasadas pelo que se viu ontem. É normal. O ano-zero do Sporting pós-Bruno de Carvalho foi igualmente penoso, como provavelmente o será o ano-zero do FC Porto pós-Pinto da Costa, quando chegar esse momento. E não há aqui uma avaliação a quem acaba de sair nem a quem entra – só a noção de que é complicado entrar e marcar a agenda depois de lideranças tão impositivas. Ontem, quando fez o onze para o jogo mais importante da época, Nélson Veríssimo não apostou numa única das aquisições do último defeso. Quando teve de se rodear daqueles em quem mais podia confiar, chamou onze jogadores que tinham estado com Jesus no terceiro lugar da Liga de 2020/21, deixando de parte Yaremchuk, João Mário, Lázaro, Meité, Gil Dias ou Radonjic – já para não falar de Rodrigo Pinho, que está magoado. E se, como diz o aforismo popular (erradamente) atribuído a Einstein, “insanidade é fazer repetidamente a mesma coisa e esperar resultados diferentes”, este “back to basics”, este agarrar do Benfica a uma realidade que já conhecia, personificado numa inesperada retoma de influência de Taarabt, por exemplo, foi a única maneira de consolidar a equipa e enfrentar o maior poderio do Ajax.
Os adeptos mais fervorosos podem até achar que é desrespeitoso para o Benfica celebrar um empate em casa, seja com quem for, mas ontem, em campo, não estava a história de décadas, brilhantemente enunciada pelo clip de promoção aos jogos feito pelo clube holandês em colaboração com os encarnados. O que estava em causa ontem era o valor atual das duas equipas. E se, de um lado, se apresentava um Ajax fortíssimo, líder isolado do campeonato holandês, que somava por vitórias os seis jogos que tinha feito na Liga dos Campeões – goleando inclusive o Sporting em Alvalade –, do outro estava um Benfica em perda, com sinais recentes de fragilidade, escancarados por exemplo no Bessa, onde não foi capaz de segurar dois golos de vantagem frente ao Boavista. Por mais que Veríssimo falasse em “50-50” na distribuição de favoritismo para a eliminatória, os holandeses eram – e continuam a ser – favoritos a seguir em frente. Mas, neste regresso aos básicos, ao futebol de transição e aceleração, no apelo à profundidade dada por Darwin, às mudanças de velocidade de Rafa, à condução da Taarabt, o Benfica encontrou argumentos para manter as coisas em aberto, para levar a decisão da eliminatória para Amesterdão. E, sobretudo, encontrou resquícios de amor-próprio que lhe permitem encarar as onze rondas que faltam jogar na Liga portuguesa com menos perspetivas da desagregação total que podia nascer de uma eliminatória tão desequilibrada como a primeira parte do jogo de ontem chegou a fazer antever.
É certo que facilitada pela diminuição de ritmo do Ajax na segunda parte, numa altura em que a equipa de Erik Ten Hag pareceu deixar-se convencer de que o jogo ia ser fácil e optou por descansar com bola, abrindo caminho às tais transições, a boa reação do Benfica na noite de ontem pode nem valer a continuidade em prova na Liga dos Campeões – isso se verá em Amesterdão. É verdade que essa mesma reação confirma que os últimos oito meses podiam muito bem ser obliterados da história do clube sem que daí viesse algo de mau para os benfiquistas. Mas, pelo menos, a segunda parte de ontem garantirá três meses de vida a este Benfica. Mesmo que, como uma vez disse James Bond a um militar norte-coreano, se limite a viver “para morrer noutro dia”.
Mais um jogo para a época ioiô do Benfica. Jogo bom. Jogo mau. Jogo assim assim. Jogo horrível. Jogo muito bom (raros, mas já os teve). Como qualquer ioiô, com o passar do tempo o fio vai ficando mais lasso, a subida é mais frouxa, e até já dá para festejar um empate em casa. Acalmem-se as almas benfiquistas, que não se trata de retirar um milímetro ao mérito do resultado de ontem. Apesar do Ajax ter feito uma exibição menos conseguida (e ainda assim, se aquele falhanço incrível no final da primeira parte tem dado, antes, golo, a coisa poderia degenerar), o Benfica travou aquela que tem vindo a ser uma das grandes sensações da prova e que atropelou, sem grandes dificuldades, o Sporting. Mas... É um empate em casa que está a ser celebrado. O que por si só merece reflexão, sobretudo enquanto espelho da época do Benfica. Dentro e fora das quatro linhas, porque como foi muito bem apontado, nem um reforço jogou na equipa titular. Ou seja, a estrutura que se ficou pelo 3.o lugar no ano passado ainda é, para Veríssimo, a mais confiável para atacar os jogos de maior exigência. Mesmo na atual conjuntura, mesmo com os prognósticos a apontarem todos para a passagem do Ajax, creio que o Benfica tem uma palavra a dizer e pode muito bem discutir a eliminatória. O pior é que, mesmo que passe, e com isso aumentando os níveis de auto estima de forma quase estratosférica, a desconfiança é tal que os adeptos só vão ficar à espera da próxima derrocada. Como qualquer ioiô, depois de subir, tem de descer. E essa tem sido a sina encarnada desta época.
Só veio dar mais força ao facto de que nenhum reforço foi mesmo "reforço" nesta época, ou seja Rui Pedro Braz e o Rui Costa têm que olhar para o que fizeram de mal na preparação da época com aquisições que nada trouxeram a par do João Mário que na 1 metade da época esteve em bom plano com JJ. Ainda por cima os reforços vêm e tapam as subidas de novos miúdos do Seixal que estão a fazer uma campanha extraordinária na 2 liga. Vai ser preciso limpar a borrada feita no início da época e se o Benfica não alcançar o 2 lugar acho que será mais difícil para Rui Costa fazer essa limpeza porque terá menos margem e o jogadores obviamente terão menos mercado a não ser que o Benfica chegue pelo menos aos quartos de final da LDC e se valorizem bastante. Jogadores como Lázaro, Randonijc, Gil Dias não deixam oportunidades a jogadores como Tiago Gouveia e Embalo por exemplo. E no meio disto tudo nem contrataram um defesa esquerdo. Enfim, é a errar que se aprende e se proguide por isso acredito que a preparação da próxima época será bem melhor. Cumprimentos