O velho duelo e as novas estrelas
As vitórias da França e da Inglaterra sobre a Polónia e o Senegal lançaram os meios internacionais na procura da próxima grande estrela. Mbappé já trazia avanço, mas Bellingham está a maravilhar.
Vem aí um França-Inglaterra e os jornais já estão a colocar as suas fichas nas novas figuras emergentes dos dois lados. Os franceses estão a reapaixonar-se por Mbappé, os ingleses já se renderam a Bellingham, os dois homens-cartaz das vitórias obtidas nos jogos dos oitavos-de-final, face a uma Polónia tímida e a um Senegal desenganado. “Quando a flecha engana”, titula Cédric Chapuis o artigo no L’Équipe, acerca da forma como Mbappé abateu o confiante Szczesny, não uma mas duas vezes. “Magníficos momentos cinematográficos de Bellingham fazem-nos pensar onde isto pode acabar”, escreve Barney Ronay no The Guardian, num texto que realça o papel do jovem médio nas transições ofensivas que geraram os primeiros dois golos ingleses. Hoje vamos conhecer mais dois quarto-finalistas, com o desafio do extremo oriente a Croácia e Brasil, mas ingleses e franceses vão estar muito virados para o confronto inédito entre as duas seleções em fases a eliminar de um Mundial. “A Inglaterra é mesmo boa? Descobri-lo-emos no sábado contra Mbappé”, sugere Jack Pitt-Brooke, já a pensar à frente, no The Athletic.
Aliás, muitos dos meios de comunicação em inglês estão já a olhar para esse jogo que vai dar a uma das seleções uma vaga nas meias-finais. No Daily Telegraph, Jim White já fez o habitual “scout report” aos adversários da seleção com os três leões e não está terrivelmente otimista. “A mistura do pragmatismo e do ‘panache’ com o brilhantismo de Mbappé faz da equipa de Deschamps uma ameaça potente”, decreta. O suplemento desportivo do diário britânico, no entanto, ainda está a digerir os primeiros dois golos de Inglaterra ao Senegal, que decompõe em interessante montagem gráfica acompanhada da explicação de Mike McGrath. O texto, que pode ler aqui, destaca também o papel de Bellingham, que Jamie Carragher, o ex-defesa internacional transformado em colunista e analista da TV, diz que “pode superar o Gazza de 1990”.
Para isso, os ingleses terão de se haver com a França, onde ontem houve duas grandes figuras. De Mbappé já vos falei acima, apenas não disse que, ao somar o oitavo e o nono golos numa fase final, ele superou vários recordes ontem, como nos dá conta Damien Degorre no L’Équipe de hoje: bateu Pelé no total de golos marcados aos 24 anos – mas que raio de recorde é este... – igualou Messi no segundo lugar da tabela dos goleadores em atividade, que é liderada por Müller, que tem dez, e colocou-se em segundo lugar, a quatro golos de Just Fontaine, como máximo goleador da França num Mundial. Mas não foi só Mbappé quem bateu recordes. Como conta Ben Fisher no The Guardian, Olivier Giroud superou Thierry Henry como melhor goleador da história da seleção francesa, “mas mesmo assim tem de lutar com Mbappé pela atenção”. O L’Équipe, através de um artigo de Hugo Delom, também destaca a marca deste ponta-de-lança mais discreto, cuja ligação milanesa o leva a fazer a manchete da Gazzetta dello Sport, de Itália. “A assinatura de Giroud”, titula o diário de Milão, fazendo uso do duplo sentido da expressão para realçar que foi o atacante rossonero que desbloqueou o jogo com a Polónia e revelar que o Milan já lhe quer renovar o contrato. O artigo não tem versão na edição online, porém.
O que passou despercebido foi a conferência de imprensa de Arsène Wenger, na qual o diretor técnico da FIFA afirmou que as seleções que optaram por fazer manifestações políticas perderam concentração no Mundial e foram embora com maus resultados. Ainda assim, se era de técnica que ele ia falar, ainda por lá disse algumas coisas que merecem reflexão. Para a parte política, pode ler o artigo de Josué Seixas na Folha de São Paulo, mas se o que quer é saber de futebol, então fique-se pelo que escreveu Fabio Licari na Gazzetta dello Sport, que é a mais completa divulgação do relatório técnico feito pelo grupo de estudos da FIFA durante a primeira fase: “ganhará o Mundial quem tiver os melhores alas e defesas ofensivos”, alega o antigo treinador francês. Ora é precisamente por aí que os brasileiros têm de se preocupar, pois vão ter de improvisar para o jogo com a Coreia, no qual não contam com vários laterais e voltarão a adaptar Éder Militão, como explica Alex Sabino na Folha de São Paulo, num texto que vai da inclusão de Neymar às dúvidas acerca de quem pode jogar nas laterais da defesa. Na mesam edição do jornal paulista, Paulo Vinícius Coelho apela a que o Brasil “descomplique o jogo”, chamando a atenção para o facto de o escrete ter o segundo pior ataque entre as equipas qualificadas para esta fase e pedindo “mais combinações coletivas para permitir a Viniciu Júnior decidir na Copa do Mundo, como decidiu na Liga dos Campeões”. Luís Curro é mais criativo e encontra na adoção de um esquema tático semelhante ao da Holanda, com “três defesas” a solução para a falta de laterais do Brasil. Não vai acontecer.
Conversas de Bancada
A Ler:
Deux cartes d’Asie majeures, por Franck Le Dorze e Johan Rigaud, no L’Équipe, faz as contas ao trajeto das seleções do Japão e da Coreia do Sul desde que organizaram o Mundial de 2002 em conjunto.
El éxito de los vecinos asiáticos humilla a China, por Lucas de La Cal, no El Mundo, demonstra as razões pelas quais a Coreia e o Japão estão a brilhar no Mundial que a China vê de casa: exportam jovens em vez de importar veteranos.
Com status de astro pop, Son é peça chave do time coreano, por Alex Sabino, na Folha de São Paulo, é um perfil do jogador mais famoso desta geração de sul-coeanos, uma marca global ao serviço do país.
Avec le Dinamo pour moteur, por Vincent Villa, no L’Équipe, destaca o papel do setor de formação do Dínamo Zagreb na construção desta seleção croata, pois foi lá que cresceram dez dos selecionados por Dalic.
Agents of chaos must disrupt Modric’s metronomic tempo, por Hamzah Khalique Loonat, no The Times, é uma avaliação do que podem faezr os japoneses se querem impor o seu jogo à sempre pausada Croácia.
El extraño Mundial de Neymar, por Francisco Cabezas, no El Mundo, conta detalhes daquilo que têm sido os dias do craque brasileiro no processo de recuperação da lesão que sofreu no primeiro jogo.
How to scout at a modern World Cup, por Stuart James, no The Athletic, explica o que mudou na tarefa dos olheiros nos tempos modernos, onde há que ter em conta aquilo que se vê e a quantidade massiva de dados disponíveis sobre os jogadores.
The Netherlands are playing football unlike anyone else at this World Cup, por Michael Cox, no The Athletic, é um guia para o sistema tático e as nuances do jogo da equipa de Louis van Gaal.
Es el seleccionador? Es Luis Padrique, por Manuel Jabois, no El País, analisa a transformação da figura de Luis Enrique através das suas transmissões ao vivo na Twitch, nas quais interage com os adeptos.
Immigrazione, pesca, território: ecco perche Marocco-Spagna è l’ottavo che fa paura, por Filippo Maria Ricci, na Gazzetta dello Sport, fala acerca das consequências do confronto entre Espanha e Marrocos muito além do campo de jogo.
At Qatar’s church city, Sunday comes on Friday, por John Branch, no The New York Times, é uma reportagem no “enclave” cristão de Doha, a zona da cidade onde estão as oito igrejas de fé cristã existentes na capital do Qatar.
A Ouvir
Já está à espera do França-Inglaterra? Então pode juntar-se ao sempre bem disposto e irónico Joe Devine no Tifo, um dos podcasts produzidos e divulgados pela equipa do The Athletic. A última edição, com a participação de Jon McKenzie e Seb Stafford Bloor, serviu para debater os jogos de ontem, reconheceu que a Inglaterra se transformou numa equipa “de torneio”, isto é, que é capaz de se impor nestas provas rápidas, mas valeu igualmente pela admissão de McKenzie de que quando os ingleses marcaram o primeiro golo “não estavam a ser a melhor equipa sobre o terreno”. A emissão, contudo, não se ficou por aí. Já é feita uma antecipação do jogo dos quartos-de-final, com o lançamento da ideia de que contra a França Southgate pode entrar com três defesas e a constatação da importância de Griezmann no futebol da França. “O papel dele é fazer tudo, da área adversária até à francesa”, disse Seb, que não vê neste Griezmann nada do segundo avançado que se afirmara em competições anteriores. “Mérito de Deschamps, mas também do jogador, por ter tido a humildade para se adaptar”, conclui-se.
A ver
Japão-Croácia, 15h, SIC e Sport TV1
Brasil-Coreia do Sul, 19h, Sport TV1