Os segredos da renovação
Que a seleção portuguesa está envelhecida, já todos ouvimos. Que todos os anos surgem novos jogadores também. Mas afinal como estamos de renovação? E quem anda mais depressa e mais devagar do que nós?
A cada vez que Fernando Santos faz uma convocatória para a seleção nacional, levanta-se a questão da renovação da equipa. Há sempre quem exija sangue novo, seja para protestar contra a permanência de alguns dinossauros, seja simplesmente por sentir que teve sucesso na demanda pela nova sensação do futebol nacional, seja ainda porque se aborrece de ver sempre os mesmos de quinas ao peito. É normal. Como é absolutamente normal que quem defende a condução mais conservadora do treinador lembre os totais de jogadores estreados na seleção por Santos. Na verdade – ou, como diria Fernando Santos, “na realidade”… – isso não se vê assim. A renovação de uma equipa vai muito para lá de algumas convocatórias para jogos particulares, precisa de ser confirmada nos jogos a doer, mas também não passa por estar sempre a deitar jogadores ao lixo, como querem alguns adeptos mais sedentos de mudança. E aí, é verdade que há quem mude menos do que nós, como a Bélgica, que até é líder do ranking da FIFA, ou quem esteja sensivelmente ao nosso nível, como a Itália, que poderemos defrontar no play-off de acesso para o Mundial de 2022, ou a França, atual campeã do Mundo. Mas também há grandes seleções, como a Espanha ou a Inglaterra, a viverem em revolução mais ou menos permanente sem se queixarem disso.
Analisando todos os jogos de competição realizados em 2021 pelas primeiras seis seleções europeias do ranking mundial – Bélgica, França, Inglaterra, Itália, Espanha e Portugal – verificamos que a equipa portuguesa foi, por exemplo, a que fez menos jogos: apenas 12, contra 14 da França, 15 da Bélgica, 16 de Espanha e 17 de Itália e Inglaterra. Aqui fizeram diferença a duração da campanha no Euro’2020, que os portugueses deixaram logo na primeira partida a eliminar, bem como a Final Four da Liga das Nações, que opôs quatro destas seleções – mas não a portuguesa. Nos 12 jogos oficiais, Portugal utilizou 32 jogadores, menos um do que a França (33), que foi quem mais se aproximou de nós no que respeita à manutenção de um núcleo duro mais ou menos permanente, menos três do que a Bélgica e a Inglaterra (35), menos quatro do que a Itália (36) e menos dez do que a Espanha, claramente a equipa que mais roda destas seis. A rotação de Espanha, no entanto, não é necessariamente renovação, uma vez que muitos dos que foram utilizados por Luís Enrique são até veteranos que tinham andado pela equipa nacional, desapareceram das escolhas e depois voltaram a aparecer. E até alguns dos novos internacionais feitos pelo selecionador espanhol estão já bem longe de serem jovens revelações.
Centrando a análise na equipa de Portugal, dos 32 jogadores utilizados por Fernando Santos em jogos de competição efetuados em 2021, só três foram 11 vezes titulares – Rúben Dias, Cristiano Ronaldo e Bernardo Silva. Logo aqui, três jogadores de gerações diferentes, uma vez que Rúben Dias tem 24 anos, Cristiano Ronaldo tem 37 e Bernardo Silva tem 27. Além destes três há mais um elemento a ter sido utilizado em 11 partidas, que foi Bruno Fernandes (27 anos), que foi sete vezes titular e suplente utilizado em quatro ocasiões. A existência de um núcleo duro é ainda mais evidente noutras seleções, no entanto. Na França, por exemplo, o guarda-redes Lloris (35 anos) e o avançado Griezmann (30 anos) foram titulares nos 14 jogos de 2021. Na Itália, o guarda-redes Donnarumma (23 anos) também foi titular na totalidade das partidas a doer de 2021 – e no caso transalpino foram 17. E o mesmo se passou nos 16 jogos da Espanha com o guarda-redes Unai Simón (24 anos). Sendo que muitas destas equipas pouparam alguns dos seus jogadores fundamentais em desafios que são meros pro-formas, contra equipas demasiado fracas para eles serem necessários.
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