Os reis do golo
Passamos a vida a ouvir que a equipa X foi eficaz a aproveitar situações de golo e que a equipa Y as desperdiçou. Afinal de contas, quem aproveita mais e melhor os lances de que dispõe?
A perceção de que a época do Sporting falhou por culpa da incapacidade frente ao golo foi-se avolumando nos últimos jogos, em que os leões claudicaram coletivamente nesse aspeto, mas não corresponde à realidade, se olharmos individualmente, de forma detalhada e consolidada para aquilo que têm feito os jogadores de Rúben Amorim. Entre os goleadores influentes – e contam-se apenas os jogos da Liga Portuguesa, da Liga dos Campeões e da Liga Europa, estas sem fases preliminares, que são aqueles cujos dados estão disponíveis no Infogol – os leões até têm Pedro Gonçalves, Edwards, Trincão e Nuno Santos bem acima do índice xG, de golos esperados face às situações de remate em que a equipa os colocou. E entre as equipas mais influentes do nosso futebol, quem está a corresponder pior às situações de finalização até é o FC Porto, que com a vitória sobre o FC Paços de Ferreira, ontem, se colocou, à condição, apenas a um ponto do líder Benfica, mas se mostra excessivamente dependente de Taremi, com Galeno em linha com o esperado, e Evanilson e Toni Martínez a desiludirem. Ainda assim, desenganem-se aqueles que veem num aproveitamento extraordinário das suas oportunidades a razão do primeiro lugar do Benfica, pois apesar da época invulgarmente acertada de João Mário, Rafa está muito abaixo do esperado e Gonçalo Ramos também não marcou tanto como devia, face aos remates de que dispôs.
O índice xG, de Golos Esperados, contabiliza em cada situação de remate a probabilidade de ela vir a dar golo, face à acumulação de lances semelhantes nas bases de dados. No jogo de ontem, por exemplo, Taremi abriu o ativo aos 66’, de penalti, num lance em que tinha 71 por cento de probabilidades de marcar – ao remate correspondeu, por isso, um xG de 0,71. Ainda assim, o balanço geral de Taremi na noite não foi positivo, pois desperdiçou mais dois remates, um com xG de 0,30 e outro de 0,26, acabando a partida com um índice de golos esperados de 1,27 e apenas um golo. Piorou, assim sendo, a sua estatística global, que neste momento, entre a Liga Portuguesa e a Liga dos Campeões, é ainda bem positivo: soma 20 golos para um xG global de 16,80. Continua no lado certo da matriz, na metade superior do eixo que separa os bem dos malsucedidos na finalização. E atenção que este não deve ser o único parâmetro de avaliação. Devemos contar outros, como a predisposição para o jogador se colocar em situações nas quais pode vir a fazer golos. De que serve ter um jogador a finalizar com frequência se esse não for um dos seus pontos fortes e houver alta probabilidade de ele não as concretizar? É o que devem pensar os adeptos do Sporting face ao recurso mais recente a Coates em situações de desespero. No jogo contra a Juventus, que acabou empatado (1-1) e no qual um segundo golo teria levado a equipa de Amorim para prolongamento, o capitão teve nos pés dois remates, um com um xG de 0,55 aos 88’, e outro de 0,49, aos 90’. Acabou com um xG total de 1,04, que devia ter sido suficiente para marcar, mas não o fez. E o problema nessa noite foi, como veremos à frente, o Sporting não ter sido capaz de colocar aquele que é o jogador com melhor relação com o golo de que dispõe – Pedro Gonçalves – em situações favoráveis com mais frequência.
Continue a ler com uma experiência gratuita de 7 dias
Subscreva a António Tadeia para continuar a ler este post e obtenha 7 dias de acesso gratuito ao arquivo completo de posts.