Os recomeços de Amorim
Estamos em Abril e ainda se fala da saída de Matheus Nunes do Sporting, em Agosto. E não, não é o cúmulo da desresponsabilização. É a valorização do trabalho dos treinadores. E aprendizagem.
Pode parecer o cúmulo da desresponsabilização ainda estar em Abril a falar da venda de Matheus Nunes ao Wolverhampton WFC, porque entretanto se passaram sete meses, mas continuo a sustentar que esse foi o momento definidor da temporada do Sporting. Quando Rúben Amorim afirmou, depois do 3-0 ao Santa Clara, que “obviamente gostava de estar a começar o campeonato agora”, não está a agarrar-se à tábua de salvação que lhe foi lançada pelos jornalistas, porque é assumido por todos, interna e externamente, que a época do Sporting foi um fracasso. Está, isso sim, a valorizar o trabalho. Um treinador não está num clube só para escolher os melhores onze para jogar ao fim-de-semana, fazer as substituições que mexam com os jogos, tirar um defesa e meter um avançado, ou melhorar os jogadores que treina, para os tornar apetecíveis no mercado. Está lá para conceber uma forma de jogar – um sistema tático, um modelo de jogo, a construção de dinâmicas entre jogadores e uma ideia global de como tudo deve ser posto em funcionamento – e para a fazer funcionar como indiscutivelmente funciona hoje o Sporting do ponto de vista coletivo. E se acharmos que isso não é afetado pela perda de uma pedra fundamental como era Matheus numa fase tão decisiva do trabalho como o início da temporada, depois da pré-época, o que estamos a fazer é a desvalorizar o trabalho feito pelos treinadores durante a semana, a dizer que tanto faz estarem lá eles, com todo o aporte científico que dão ao treino, como qualquer um de nós, a dar uns bitaites empíricos. É perfeitamente normal que o Sporting tenha levado o seu tempo a reconstruir-se, que tenha precisado de uma segunda pré-época tática, durante o Mundial, e depois de mais uns acertos quando perdeu Porro. E que, agora que tem as coisas a funcionar, Amorim tenha de preparar-se para ficar sem outra peça fulcral, de preferência antes da pré-temporada, para depois poder trabalhar. O que é anormal é aquilo que o FC Porto conseguiu na época passada após a perda de Luís Díaz, em Janeiro, ou o que o Benfica está a conseguir este ano, depois de ver partir Enzo Fernández. Tanto um como o outro eram igualmente fulcrais, o colombiano por ser quem desequilibrava no último terço portista, o argentino por ser quem garantia as entradas rápidas do Benfica nesse último terço. Apontar, em Alvalade, ao fracasso da política de recrutamento que levou à entrada de Alexandropoulos para a vaga de Matheus ou à necessidade de reconstrução tática imposta pela saída do jovem médio é parte indiscutível da explicação, mas não é a explicação toda. Há todo um mundo de possibilidades e de aprendizagens à disposição no trabalho feito por Conceição e Schmidt. Ambos vinham numa dinâmica já vencedora, o que torna mais fácil mascarar debilidades? É verdade. E nem assumiram os dois o mesmo comportamento, mais resmungão Conceição, mais pragmático Schmidt? Também é verdade. Mas quem é que disse que no futebol um mais um são sempre dois?
O mundo em movimento. Daniel Levy, o manda-chuva do Tottenham, é gozado até pelos seus pares, por ser agarrado ao dinheiro, pelo menos se em comparação com eles. Foi essa limitação que o impediu de pôr o Mundo em movimento e que acabará por deixá-lo em pé na dança das cadeiras que já começou. Já há semanas se percebera que Antonio Conte estava por dias, que na pior das hipóteses ia ficar até ao final da época, mas que o projeto de levá-lo a ganhar coisas morrera no momento em que ele repetiu as queixas que já se tinham ouvido em tempos a José Mourinho acerca do clube, dos jogadores, de toda a gente que usa o emblema. Verdade seja dita, mesmo com ele em funções a questão já ecoava por Londres: quem será o próximo treinador dos Spurs? Thomas Tuchel estava disponível desde que tinha sido despedido pelo Chelsea, em Setembro, aparentemente por não lhe apetecer trabalhar nas folhas de Excel dos novos donos. Mas Levy hesitava. Ainda mantém boas relações com Maurício Pochettino, o argentino que há uns anos levou a equipa à final da Champions. Havia muito quem lhe soprasse que esta era a altura de apostar numa nova geração, num Roberto De Zerbi, por exemplo. E enquanto ele ponderava todas as possibilidades, o Bayern Munique antecipou-se. Apesar de ter mais três anos de contrato com Julian Nagelsmann, despediu-o e contratou Tuchel, que já esteve em funções na vitória sobre o Borussia Dortmund, no sábado, a devolver a equipa ao topo da Bundesliga. Levy pôs então fim à indecisão: Conte foi embora e começou a falar-se ainda mais abertamente na sua sucessão, por enquanto assegurada pelo adjunto, Christian Stellini. Já não havia Tuchel, mas passara a haver Nagelsmann. E ainda havia Pochettino e De Zerbi, e ao lote de candidatos juntava-se Ange Postecoglu... Vai daí, o Chelsea perdeu em casa com o Aston Villa e Graham Potter, que tinha sido contratado no tal mês de Setembro que vitimara Tuchel, foi ontem posto a andar, numa chicotada que surpreendeu até os jogadores. Não se gastam 600 milhões de euros para andar na segunda metade da tabela. Julian Nagelsmann passou, de repente, a ser o maior candidato a treinador do Chelsea, com a Liga dos Campeões como objetivo palpável. Afinal de contas, as duas Champions de Abramovich foram conquistadas em anos nos quais mudou de treinador a meio do percurso: de Villas-Boas para Roberto di Matteo em 2012 e de Lampard para Tuchel em 2021. Enquanto isso, em Paris, o PSG voltou a perder, desta vez em casa com o Olympique Lyon. Nasser El-Khelaifi, o qatari que não é assim tão agarrado ao dinheiro – também tem muito mais à sua disposição, que o bolso do emir não tem fundo... – continua a fazer contas, mas é possível que muito em breve passe à ação. É que a Champions já se foi, a Liga Francesa deve acabar por lhe ir parar ao regaço, mas é curta para tanto investimento, e se não estava minimamente interessado em fazer regressar Tuchel, já não deve querer ficar a assistir passivamente ao desenrolar da novela-Nagelsmann. Pelo sim, pelo não, Christophe Galtier é capaz de já ter o telefone em modo de voo. E Levy? Pois continua a ponderar. Há Pochettino, há De Zerbi, há Postecoglu...
Super-Leão. Quando digo que muito do sucesso futuro da seleção nacional estará na forma como o selecionador conseguir incluir Rafael Leão no seu Plano A em vez de o manter como alternativa para os últimos 15 minutos faço-o a pensar em noites como a de ontem, na qual o atacante do Milan destroçou a equipa do SSC Nápoles, futuro campeão italiano, conduzindo com um bis a sua equipa a uma ampla vitória (4-0) no Diego Maradona. É verdade que os napolitanos já estão em ritmo de passeio, que os jogos que lhes interessam contra o Milan serão os da Champions – e pode ser que acabem por pagar este desligamento... – e que talvez seja difícil enquadrar o futebol de grandes espaços de Leão numa equipa que passa mais tempo a defrontar adversários encolhidos, contra os quais esses grandes espaços são apenas miragens. Mas Leão é, hoje, o maior desequilibrador ofensivo português. Enquadrá-lo, tanto tática como mentalmente, tem de ser uma prioridade.
Leão foi enorme!
Antonio não é redutor que a desculpa seja sempre o Matheus Nunes se olharmos para lá desse jogador.
Obvio que o plantel seria construído à volta dele mas e então os centrais?
Com um St Juste debilitado e um Coates com um joelho preso por arames mas a ter que jogar sempre ainda que com dores?
E que dizer da lesão do Daniel Bragança?
Para mim este ia ser o seu ano de afirmação natural.
O que é que aconteceu? Cada vez que Ugarte ou Morita espirram o Amorim tem que alterar a estrutura da equipa e afastar da baliza o homem que tem mais golo.
As vindas de Sotiris e Tanlongo pareceram-me mais uma tentativa de boa possibilidade de negócio para o futuro do que para o imediato, sendo que o grego acho que já está a dar passos atrás nesse desfecho.
A chegada de Diomande, essa sim, veio trazer alguma calma e ordem aos centrais do clube visto ser um elemento que vem somar e de que maneira.
Para quem entrou em histeria pelo que o clube pagou por ele, acho que ao fim de 3 meses já se pode dizer que foi uma aposta mais que ganha dado o que já valorizou.
Com o neerlandês finalmente a parecer fora de problemas de lesões, percebo o Amorim quando diz gostava de estar a começar agora porque apesar de não termos um terceiro médio que dê alguma tranquilidade ao meio campo, a equipa está mais forte do que no inicio da época.