Os meus dérbis
Nasci em dia de Benfica-Sporting. Este é um relato na primeira pessoa dos dérbis que foram marcando a minha existência como adepto e, depois, jornalista. Porque uma coisa anula a outra.
Nasci em dia de Benfica-Sporting. Não sei se estava bom ou mau tempo nem o que mais se passou em Portugal, só sei que vim ao Mundo às 10h45 de um dia 1 de Março, em 1970, e quatro horas depois os onzes dos dois maiores clubes portugueses estavam a subir ao relvado do Jamor para se defrontarem em jogo da 20ª jornada do campeonato. O meu pai, que anos mais tarde me lembro de ver acompanhar os jogos pelo rádio ou até de o ver partir com os amigos, uns benfiquistas e outros sportinguistas, para os cerca de 80kms que separam Coruche de Lisboa, para ver os meus heróis ao vivo – eu não ia porque “era muita confusão, muito perigoso para um menino” – diz que não se lembra se houve dérbi nesse dia de Março. Faz sentido.
Os meus dérbis só começam anos depois desse empate de 1970 de que há um pequeno trecho no youtube: um remate de Peres bloqueado por José Henrique. São quatro segundos de vídeo. A esses dois, ao Peres e ao Zé Gato, já não os vi jogar, embora tenha tido o prazer de os conhecer depois. Como não vi ao vivo nenhum dos golos que fizeram a história do dérbi que tenham sido marcados por Peyroteo, Rogério, Eusébio ou Yazalde – e destes só o Pipi e o King me deram a honra de um dia partilhar com eles uma mesma mesa. Todos foram importantes, mas não fazem parte dos meus dérbis, que começam em Novembro de 1978. Lembro-me como se fosse hoje de estar no Campo da Horta da Nora, a ver jogar o Coruchense e a acompanhar pelo pequeno transístor o evoluir dos acontecimentos no Estádio da Luz. Aos 15 minutos, golo de Reinaldo: 1-0. Aos 18’, golo de Nené: 2-0. Aos 28’, outra vez Reinaldo: 3-0. Dois minutos depois foi a vez de Alves: 4-0. E aos 40’, outra vez Alves, agora de penalti: 5-0. Naquele intervalo, que se fazia em simultâneo entre a I Divisão e o distrital de Santarém – toda a gente jogava às 15 horas de domingo –, a romaria à banca que vendia bebidas e amendoins foi feita a discutir o dérbi. E discutia-se de forma inflamada.
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