Os Donos da Bola: Portugal (2024)
A SAD do FC Porto vai mudar de mãos, mas apenas porque o clube teve eleições e André Villas-Boas vai ocupar a cadeira do histórico Pinto da Costa. Mas há muitas mais novidades nos donos da bola lusos.
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A eleição de André Villas-Boas como presidente do FC Porto, que certamente imporá uma mudança radical na SAD dos dragões, e um segundo aumento do peso do clube na sociedade que gere o futebol do Sporting, em função da conversão de uma nova leva das VMOC em que tinha sido transformada a dívida bancária dos leões, foram as maiores novidades nas empresas que mandam no futebol em Portugal. Não foram as únicas, porém, porque está para acontecer a entrada do grego Evangelos Marinakis como patrão do Rio Ave e a UEFA bloqueou a parceria entre o Vitória SC e o VSports, o fundo que manda no Aston Villa, da Premier League. De resto, o regresso do Belenenses às competições profissionais deu a machadada final no berbicacho em volta da B SAD e do clube, ainda que outros se candidatem ao papel de confusão que se segue – o AVS está na primeira linha, mas há que aguardar para ver como se resolve a situação no Estrela da Amadora e em que é que descamba esse desastre à beira de acontecer que é a compra do Vilaverdense pelo grupo Länk.
A compra de grandes clubes em Portugal seria relativamente fácil e barata para investidores externos se eles estivessem à venda. Acaba por ser a renitência dos adeptos a impedir que o grande capital entre de rompante pelo futebol nacional, dividindo os clubes em três grupos: os grandes, que têm investidores importantes mas onde os sócios não querem sequer ouvir falar na perda de controlo; os de média dimensão, que até podem sonhar com presenças nas provas da UEFA, mas que não atraem senão investidores que não estão disponíveis para ali colocarem dinheiro suficiente para fazer verdadeiramente a diferença; e os pequenos, cuja luta pela sobrevivência passa muitas vezes pela alienação da maioria do capital por valores que não chegariam para comprar o passe de um dos seus jogadores titulares, e que ao mesmo tempo colocam o futuro em sérias dúvidas, porque nunca se sabe muito bem quais serão as intenções de quem vem do lado de lá. O Rio Ave, que atravessa dificuldades para manter a solidez do projeto, é um caso de especificidade, porque atraiu o interesse de Marinakis, o dono do Olympiakos e do Nottingham Forest, provavelmente convencido com o que está a ser conseguido em Famalicão por Idan Offer, um dos donos do Atlético Madrid.
A transformação do Rio Ave em SAD com o propósito da alienação da maioria do seu capital fará com que, pela primeira vez na história, a balança desequilibre a favor do investimento externo. Ainda que esse processo possa ser alterado pelas subidas e descidas de divisão, neste momento, em que os vilacondenses continuam a ser uma Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas (SDUQ) e controlam a totalidade do seu capital, nove dos 18 emblemas da I Liga mantêm o controlo sobre pelo menos 51 por cento do capital das empresas que lhes gerem o futebol, sejam elas SAD ou SDUQ. Sendo que, por lei, para jogarem nas competições profissionais, os clubes têm de estar organizados numa ou noutra destas formas. Mais curioso ainda é verificar que só dois dos clubes que já não têm a maioria do capital das suas SAD ou SDUQ – o SC Braga e o FC Famalicão – estão na primeira metade da tabela. Os outros sete são as SAD do Sporting, do Benfica, do FC Porto, do Vitória SC e do Moreirense e as SDUQ do FC Arouca e do Casa Pia, ainda que a primeira viva em grande parte da associação aos interesses da família Pinho na construção civil e a segunda já esteja a ser gerida antes da inevitável transição pela empresa do norte-americano Robert Platek, que terá acordo para ficar dono da SAD quando se der a mudança de regime.
A acompanhar com muita curiosidade estará a forma como alguns clubes tentarão fazer o refinanciamento das suas SAD cedendo quotas minoritárias que não lhes retirem o controlo. Assim que o Sporting fez os dois aumentos de capital que lhe permitiram passar de 63 para 87 por cento do capital da sua SAD começaram a multiplicar-se na imprensa inglesa notícias acerca da possibilidade de entrada de um dos grupos que mandam nos grandes da Premier League, com o Chelsea à cabeça. Até 29 por cento, em princípio, isso é permitido, como se viu na entrada do QSI – os qataris do PSG – no SC Braga, mas estranhamente já não foi permitido com o VSports – dono do Aston Villa – no Vitória SC. Nos 34 parágrafos que se seguem pode ficar a conhecer a estrutura societária dos 18 clubes da I Liga portuguesa e ainda de mais 16 que competem no segundo escalão – onde o Benfica B e o FC Porto B escapam, pois pertencem às SAD que estão na competição principal. Fique, então, com a atualização do capítulo dos Donos da Bola dedicado aos clubes de Portugal, a encerrar esta série em 2024.
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