Os donos da bola: Inglaterra (2024)
A entrada de Jim Ratcliffe no capital do Manchester United e a venda do Everton aos norte-americanos da 777 são as principais novidades do ano no tecido acionista dos 20 clubes da Premier League.
Palavras: 5041. Tempo de leitura: 29 minutos
A Premier League está prestes a estrear um novo modelo de controlo de um clube. Quando for aprovada a entrada no capital do Manchester United de Jim Ratcliffe, o milionário que é dono da petroquímica Ineos, um dos seus maiores emblemas passará a ser dominado por um acionista minoritário. Ratcliffe vai comprar apenas 25 por cento do capital do gigante de Old Trafford à família Glazer, mas ficará ainda assim responsável pela gestão do futebol do clube, tornando igualmente o United um dos primeiros casos de um clube que faz o caminho de volta do capital norte-americano para mãos britânicas. É que neste momento, o contingente mais relevante entre os donos dos 20 clubes participantes na Premier League é o dos norte-americanos, alguns deles igualmente donos de franchises nos seus desportos tradicionais, no universo da NBA, da NFL, da NHL ou na MLB, outros simplesmente interessados em construir uma rede de emblemas europeus de futebol.
Neste momento, contando ainda o Manchester United, há oito clubes da Premier League nas mãos de norte-americanos – além dos Red Devils, trata-se do Arsenal, do Liverpool FC, do Fulham, do Crystal Palace, do Chelsea, do Bournemouth AFC e do Burnley FC. Aliás, há oito clubes... e meio, porque o Aston Villa está na posse de uma empresa que pertence a um norte-americano e a um egípcio em partes iguais. Além disso, um dos seis clubes que ainda são controlados por britânicos vai em breve passar também para o capital vindo dos Estados Unidos – é o Everton, que já tem venda acertada à 777 Partners. E mais dois – o West Ham e o Brentford FC – estão no mercado e podem em breve mudar também de mãos. É por isso normal que há muito tempo não haja um dono de clube britânico a celebrar o título de campeão inglês. No ano passado, a Premier League foi ganha pelos emiráticos (sim, é mesmo assim que se diz...) do Manchester City, sendo que nos anos anteriores também os norte-americanos do Liverpool FC, os então russos do Chelsea e os tailandeses do Leicester City celebraram a conquista do campeonato.
Ao todo, há sete países representados entre os acionistas maioritários dos 20 clubes da Premier League, sendo que entre os de capital britânico só um, o Tottenham, se coloca entre os habituais candidatos às posições cimeiras. Todos os outros grandes clubes foram sendo alvo de take-overs por parte do capital internacional, sempre atento às possibilidades de negócio que uma vaga na mais mediática Liga de futebol do Mundo pode proporcionar. Essa é a consequência normal do sistema do futebol inglês, que prevê que os clubes profissionais sejam empresas cotadas em bolsa – a não ser que alguém compre a totalidade das ações e retire o clube do mercado bolsista – e por isso mesmo abertas a investidores, mas também da pujança financeira da Premier League no mercado global, tornando o investimento num clube lá presente apetecível e a compra de emblemas situados nas divisões inferiores uma oportunidade de negócio.
Claro que comprar um clube inglês é uma operação onerosa, apenas ao alcance de milionários – se for uma equipa do Championship, onde também já há poucos clubes detidos por capital inglês – ou até de bilionários – se a ideia for adquirir um emblema da Premier League. É por isso evidente que, não havendo assim tantos bilionários interessados em investir no desporto, alguns vão multiplicando interesses em clubes de países diferentes. Esse é um problema que o futebol vai ter de enfrentar em breve. Para já, aqui fica a primeira parte da atualização de um trabalho que iniciei no meu site antigo, em 2020, e que em 2022 e 2023 tinha publicado no Substack, para o fazer conhecer, um a um, quem são os donos da bola no futebol europeu. O segundo episódio desta atualização aparecerá na semana que vem e centrar-se-á no futebol italiano.