Os donos da bola: Bundesliga (2023)
O futebol na Alemanha está sujeito à regra dos 50+1, que determina que os clubes têm de ter mais de metade das suas ações. Mas há exceções históricas e dribles administrativos a ter em conta.
O panorama do futebol alemão está naturalmente dominado pela regra dos 50+1, criada em 1998. Estipula esta regra – da qual foram isentados logo o Leverkusen e o VfL Wolfsburgo, cujas ligações à Bayer e à Volkswagen já vinham de longe – que os clubes podiam converter-se em sociedades comerciais mas, para competir na Bundesliga, tinham de ter mais de 50 por cento dos direitos de voto nas respetivas assembleias. Isso torna o panorama do futebol alemão muito diferente do que já vimos em Inglaterra, Itália e França, por exemplo, e tem motivado amplo debate entre os que abominam o que se passa ultimamente no RB Leipzig e no TSG Hoffenheim e os que sustentam que o futebol alemão perdeu posição no contexto europeu devido a esta regra limitadora.
Todo o sistema na Alemanha está construído em torno do conceito de “membros”, uma espécie de sócios. O Bayern Munique, por exemplo, tem quase 300 mil, todos a contribuir para a sustentabilidade financeira de um clube que até abriu 25 por cento do seu capital a grandes empresas. Mas há casos como o do RB Leipzig, clube inventado pela Red Bull para ser uma das extensões do projeto futebolístico global da marca de bebidas austríaca, que colocava a anuidade para membros a preços tão proibitivos que mais valia dizer que os não queria. E a verdade é que não queria mesmo: só quando chegou à 2. Bundesliga foi forçada a chegar a acordo com a organização de forma a definir limites para a intervenção dos donos. Esse caso, como o do TSG Hoffenheim, que é detido pelo bilionário da informática Dietmar Hopp, são os pomos da discórdia atuais, uma vez que o contexto histórico levou os alemães a aceitarem a influência da Bayer no Leverkusen e da Volkswagen no VfL Wolfsburgo.
A intenção da Bundesliga é a de evitar que os interesses comerciais se sobreponham aos desportivos – algo que se alguém pode fazer são os alemães, tão amplo é o seu mercado interno. Mas há quem não goste da ideia. O presidente do Hannover 96, por exemplo, já quis abolir esta regra, alegando que ela viola a lei de competição da União Europeia, mas foi claramente derrotado na assembleia da Bundesliga. A seu favor quase só se manifestou o FC Augsburgo. O resultado é que, ao contrário do que acontece nos outros grandes campeonatos do futebol europeu, não há muitos investidores estrangeiros nos principais clubes do país. Ou melhor: não devia haver. Mas toda a gente fecha os olhos ao que se passa em Leipzig. Fique então a saber, nos próximos 18 parágrafos, como é o tecido societário dos clubes da Bundesliga.