Os Donos da Bola (2025): Inglaterra
Esta época viu dois clubes da Premier League mudar de mãos, não a tempo de evitar a despromoção europeia do Palace. Em causa, a participação de John Textor, um dos dez donos americanos na Liga.

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A UEFA despromoveu na semana passada o Crystal Palace, da Liga Europa, a que ganhara o direito de aceder ao vencer o Manchester City na final da FA Cup, para a Liga Conferencia. Em causa estava o facto de, como podem ver mais abaixo, a parcela do capital do clube detida pelo Eagle Football, de John Textor, ser superior aos 30 por cento permitidos quando se trata de alguém que controla outro clube que vá jogar a mesma competição – e Textor, que depois da data limite até já vendeu as suas ações do Palace, era também, antes de se afastar, em processo de contornos por clarificar, o dono do Olympique Lyon, outro dos participantes na Liga Europa. Como o Lyon acabou o seu campeonato numa posição superior àquela em que o Palace terminou a Premier League, acabou por ter prevalência em mais um episódio da sempre difusa e cada vez mais difícil luta contra os malefícios que nos traz a multipropriedade. Curioso é que o lugar inglês do Palace na Liga Europa tenha vindo a sobrar para o Nottingham Forest de Evangelos Marinakis, também ele um dos magnatas que concentra clubes no seu tecido empresarial – é igualmente dono do Rio Ave, por exemplo, e do Olympiakos, que vai estar na Liga dos Campeões.
A defesa do Palace foi apresentada em torno da separação de duas coisas: uma, a posse das ações do clube; a outra, a percentagem dos direitos de voto e decisão na gestão do clube. Ao que parece – e as coisas no capital do Palace são muito difusas – Textor teria cerca de 43 por cento das ações do Palace, mas só 25 por cento dos direitos de voto. É a inversão do modelo, por exemplo, do Manchester United, onde Jim Ratcliffe, que é dono do OGC Nice, continua abaixo dos 30 por cento do capital que são a linha vermelha para a UEFA, mas é responsável pela gestão. O United continua, assim, nas mãos do capital norte-americano, integrando o contingente mais relevante entre os donos dos 20 clubes participantes na Premier League: são neste momento dez, alguns igualmente donos de franchises nos desportos tradicionais no seu país, nos universos da NBA, da NFL, da NHL da MLB ou até da MLS. Quase todos estão interessados em construir uma rede de emblemas europeus de futebol.
Na época passada, além do Manchester United e do Crystal Palace, havia mais oito clubes da Premier League nas mãos de norte-americanos. Sete e meio, pronto, que o Aston Villa é, a meias, de um americano e um egípcio. Os outros são o Liverpool FC, o Arsenal, o Chelsea, o Bournemouth AFC, o Fulham, o Ipswich Town e o Everton, a mais recente aquisição norte-americana da Premier League. É por isso normal que há muito tempo não haja um dono de clube britânico a celebrar o título de campeão inglês. No ano passado, a Premier League foi ganha pelos americanos do Liverpool FC, sendo que nos anos anteriores também caíra para os emiráticos do Manchester City, os então russos do Chelsea e os tailandeses do Leicester City.
Ao todo, há oito países representados entre os acionistas maioritários dos 20 clubes da Premier League, sendo que entre os de capital britânico só um, o Tottenham, se coloca entre os habituais candidatos às posições cimeiras – mesmo que tenha acabado a última edição perto da zona de despromoção. Todos os outros grandes clubes foram sendo alvo de take-overs por parte do capital internacional, sempre atento às possibilidades de negócio que uma vaga na mais mediática Liga de futebol do Mundo pode proporcionar. Essa é a consequência normal do sistema do futebol inglês, que prevê que os clubes profissionais sejam empresas cotadas em bolsa – a não ser que alguém compre a totalidade das ações e retire o clube do mercado bolsista – e por isso mesmo abertas a investidores, mas também da pujança financeira da Premier League no mercado global, tornando o investimento num clube lá presente apetecível e a compra de emblemas situados nas divisões inferiores uma oportunidade de negócio.
Claro que comprar um clube inglês é uma operação onerosa, apenas ao alcance de milionários – se for uma equipa do Championship, onde também já há poucos clubes detidos por capital inglês – ou até de bilionários – se a ideia for adquirir um emblema da Premier League. É por isso evidente que, não havendo assim tantos bilionários interessados em investir no desporto, alguns vão multiplicando interesses em clubes de países diferentes. Esse é um problema que o futebol começa a ter de enfrentar. Aqui fica a primeira parte da atualização anual de um trabalho que já é tradição no meu Substack. Dou-lhe hoje a conhecer, um a um, os donos da bola na Premier League. O segundo episódio aparecerá na quinta-feira e centrar-se-á no futebol italiano.