Os donos da bola (12): Portugal
Para competirem nos escalões profissionais, os clubes portugueses têm de ser uma SAD ou uma SDUQ, mas ainda há muita renitência dos mais poderosos quando se trata de ceder a maioria do capital.
A compra de grandes clubes em Portugal seria relativamente fácil e barata para investidores externos se eles estivessem à venda. Acaba por ser a renitência dos adeptos a impedir que o grande capital entre de rompante pelo futebol nacional, dividindo os clubes em três grupos: os grandes, cujos têm investidores importantes mas onde os sócios não querem sequer ouvir falar na perda de controlo; os de média dimensão, que até podem sonhar com presenças nas provas da UEFA, mas que não atraem senão investidores que não estão disponíveis para ali colocarem dinheiro suficiente para fazer verdadeiramente a diferença; e os pequenos, cuja luta pela sobrevivência passa muitas vezes pela alienação da maioria do capital por valores que não chegariam para comprar o passe de um dos seus jogadores titulares.
Se olharmos para os 18 clubes que competem na I Liga, é curioso verificar que metade – nove – ainda mantém controlo sobre pelo menos 51 por cento do capital das empresas que lhes gerem o futebol, sejam Sociedades Anónimas Desportivas (SAD) ou Sociedades Desportivas Unipessoais por Quotas (SDUQ). Sendo que, por lei, para jogar nas competições profissionais, um clube tem de estar organizado em SAD ou SDUQ. Mais curioso ainda é verificar que, desses nove clubes, seis ocupam lugares na primeira metade da tabela, onde as exceções ao controlo da maioria do capital pelo clube são o SC Braga, o Santa Clara e o Estoril. Na segunda metade da tabela, inverte-se o paradigma: seis dos nove últimos são controlados por investidores externos, sendo Marítimo, Moreirense e FC Arouca os únicos a manter a maioria do capital nas mãos do clube. É aí que aparecem “donos” de clubes, como Gérard Lopez, Idan Ofer ou Jiang LIzhang, alguns com investimento partilhado em clubes de outros países, dos quais já vos falei em anteriores episódios dos Donos da Bola.
Nos 34 parágrafos que se seguem pode ficar a conhecer a estrutura societária dos 18 clubes da I Liga portuguesa e ainda dos 16 que competem no segundo escalão – onde o Benfica B e o FC Porto B escapam, pois pertencem às SAD que estão na competição principal. E a II Liga também já tem sido alvo de negócios interessantes. Terá sido a achar que fica mais barato comprar uma SAD ali e que será relativamente simples promovê-la ao escalão principal que gente como o futebolista Marcelo (do Real Madrid) investiu em clubes portugueses. Aliás, não deixa de ser igualmente curioso que, dos quatro clubes que lutam neste momento pela subida à I Liga, dois já pertençam a investidores externos e um terceiro tenha um acordo para passar o capital – e já tenha passado a gestão do futebol – a empresas alheias a eles. Fique, então, com o último capítulo da série Donos da Bola, dedicado aos clubes de Portugal. A partir de amanhã, aqui iniciarei uma nova série.