Os candidatos e a fasquia dos 80 pontos
Tanto Sporting como FC Porto seguem em linha para superar os 80 pontos. Os modelos estatísticos ainda dão os leões como favoritos, mas a próxima jornada dar-nos-á uma ideia mais segura do que aí vem.
O FC Porto voltou a superar mais uma barreira a caminho do objetivo, que é acabar a Liga acima dos 80 pontos, porque se há coisa que quem anda atento a estas coisas do futebol em Portugal sabe é que não é possível ser-se campeão na Liga das 34 jornadas sem superar essa marca – pelo contrário, até dá para perder o campeonato. Ao mesmo tempo que no balneário se amontoam medalhas de conquistas passadas, a dar aos jogadores o necessário estofo para lidar com esta corrida e aos adversários a conveniente dose de dúvida, a distância a que a equipa chegou a estar do Sporting permitiu – isso sim – tirar pressão de cima dos ombros, porque a verdade é que a dez pontos já ninguém estaria à espera de grande coisa. O resultado foi uma equipa serena, que vai saltando barreira após barreira, sempre no seu passo, à espera de ver o que acontece. O FC Porto ainda não é outra vez favorito na luta pelo título – para isso o Sporting terá de escorregar em Braga, por exemplo –, mas tem uma série de dados a seu favor.
O sucesso sobre o Vitória SC foi minimal no resultado (1-0), mas mostrou um FC Porto melhor do que o da Choupana e acima de tudo um FC Porto tranquilo, consciente e nada pressionado, a saber que isto se joga jogo-a-jogo mas que no final a conta é de somar. Vamos a números, então, e à tal questão dos 80 pontos. Desde que, em 2014, a Liga voltou às 34 jornadas, não houve um campeão com menos de 82 pontos – os mais fracos foram o Benfica de 2017 e o FC Porto de 2020, que fizeram precisamente 82 pontos. Ora, ganhando todos os seus jogos, este FC Porto pode chegar aos 84. O que não é garantia de coisa nenhuma, porque o Sporting pode atingir 88, que foi a soma dos melhores campeões destes anos – o Benfica de 2016 e o FC Porto de 2018 –, e já houve várias equipas a terminar acima dos 80 pontos e a terem de se contentar com o segundo lugar. O que tem sido constante desde 2015, quando o FC Porto de Lopetegui foi a melhor equipa da segunda volta e mesmo assim acabou a Liga em segundo, é que o campeão é a melhor equipa da segunda metade da Liga. Cinco dos seis campeões da Liga das 34 jornadas desde 2014 foram também a melhor equipa nas segundas voltas e só três estavam no topo a meio caminho.
Ora, a melhor equipa da segunda volta é, até agora, o FC Porto, com mais um ponto do que o Benfica e mais dois do que o Sporting (27, contra 26 e 25). Não é uma diferença como a da época passada, na qual o Benfica de Lage fez a melhor primeira metade da história da Liga das 34 jornadas – 48 pontos, contra 41 do FC Porto de Conceição – e depois na segunda parte do caminho perdeu 12 pontos para os rivais e futuros campeões, mas é suficiente para dar ainda mais confiança. O técnico do FC Porto já cá anda há uns anos e sabe bem que se ganhar os seis jogos que lhe faltam, vai aos 84 pontos e que, mesmo que escorregue num deles – e há uma visita à Luz pelo caminho… – pode acabar acima dos 80 pontos na mesma. As sete vitórias consecutivas que a equipa traz na Liga servem de combustível para alimentar este sonho, enquanto que os sucessivos empates do Sporting são uma espécie de turbo. E atenção que um dia antes da complicada visita dos dragões a Moreira de Cónegos, onde aquele golo de Walterson aos 90’ deu início à via sacra leonina, os pupilos de Rúben Amorim enfrentam o difícil exame de Braga.
Os estatísticos norte-americanos do FiveThirtyEight, referência mundial nesta matéria, ainda apontam para o Sporting campeão. Dão aos leões uma previsão de 81 pontos no final, aos dragões 79 e ao Benfica 73. É isso que lhes diz um algoritmo com muitas horas de trabalho e de estudo acumulado, mas que não conta com as emoções. Estas são, como todos sabemos, imprevisíveis. Da mesma forma que a tranquilidade de saber que dela já nada se esperava e que a memória de conquistas recentes deram ao FC Porto a necessária força para acumular estas sete vitórias consecutivas, do mesmo modo que o medo cénico de ganhar afligiu o líder a ponto de o fazer acumular três empates nesse mesmo período, trazendo para o palco outro medo – o de morrer na praia – as sinapses a estabelecer nestes dias pelos jogadores dos dois candidatos serão fundamentais para o futuro desta Liga. O campeonato pode só se decidir lá mais para o fim, mas a próxima jornada já nos dará uma ideia mais clara do que dele podemos esperar.