O scudetto e a crise
O Inter ganhou a segunda estrela no emblema ao conquistar o 20º campeonato italiano na sequência da restruturação em baixa que começou após o 19º, em 2021. E nem assim evitou a mudança de propriedade.
Palavras: 3612. Tempo de leitura: 18 minutos (áudio no meu Telegram)
Quando o Inter Milão ganhou o 19º scudetto, em 2021, aquilo para que se olhava era para a associação de um emblema histórico ao novo-riquismo chinês, resultando numa equipa a abarrotar de craques de dimensão global, montada com o capital da Suning e a maestria de Antonio Conte e Giuseppe Marotta. No pós-pandemia, contudo, com o agravamento do corte de financiamento feito pelo governo de Xi Jinping ao investimento chinês no futebol europeu e das dificuldades financeiras dos donos do clube no ecossistema nacional, foi preciso abdicar de parte do efetivo e o primeiro a saltar foi logo o treinador, indisponível para gerir o tempo das vacas magras. Ficou o CEO, como ficou o presidente, o carismático Steven Zhang, que para se agarrar ao sonho e manter o Inter a operar teve de contrair um empréstimo de 275 milhões de euros. Três anos depois, pouco mais de doze meses após as eliminações do FC Porto e do Benfica na Liga dos Campeões lhe terem valido a presença na final e a continuidade à frente da equipa, Simone Inzaghi liderou um grupo cheio de reforços contratados a custo zero a mais um título nacional, o 20º da história, a valer a segunda estrela no emblema. Apesar de ter sido obtido com uma vantagem avassaladora – 19 pontos para o Milan, que foi segundo –, o de 2024 foi o scudetto da crise, um scudetto ao qual Zhang nem pôde assistir in-loco, impedido de sair da China pelas tribulações financeiras do grupo que dirige em nome do pai. E foi um scudetto que antecedeu em menos de um mês a perda do controlo do clube por parte do grupo chinês, incapaz de pagar o tal empréstimo ao fundo norte-americano Oaktree e por isso mesmo forçado a entregar-lhe as ações que deixara como garantia.