O regresso ao campo do Neymessi
Neymar e Messi vão defrontar-se pela sexta e sétima vezes (há 3-2 para o argentino) na Liga dos Campeões. Com os dois clubes em crise e a ameaça latente de mudança de campo de qualquer dos dois.
Nunca liguei muito a sorteios, arrumei o de ontem num canto recôndito qualquer da minha mente, e quando vi a publicação que Neymar fez nas redes sociais, abraçado a Messi com a frase “Até breve, meu amigo”, o que me ocorreu por uma fração de segundo foi que íamos finalmente deslindar a novela que já se advinha poder vir a preencher os próximos mercados. Afinal, Messi deixa-se levar pelos milhões do Paris Saint-Germain e larga de uma vez o manicómio em que se transformou o Camp Nou ou é Neymar quem regressa, seduzido por um dos nove pré-candidatos às eleições que o FC Barcelona vai conhecer a 24 de Janeiro? Nem uma coisa nem a outra. Por enquanto, ao menos, não volta a haver “Neymessi”. O brasileiro e o argentino vão enfrentar-se em campo pela primeira vez desde a “traição” de Neymar aos blaugrana e certamente em condições muito diferentes das atuais, que deixam um cheiro profundo a crise nos dois campos.
Não deixa de ser curioso que, no mesmo dia em que se celebraram 20 anos exatos sobre a assinatura do primeiro contrato de Messi com o FC Barcelona, tenha sido um sorteio a trazer de novo o tema à ribalta. Barça e PSG não se defrontam desde Março de 2017, desde os 6-1 com que, comandados pela tripla MSN – Messi, Suárez, Neymar –, os catalães responderam aos 0-4 do Parque dos Príncipes, numa remontada que ficou para a história e que só foi um pouco esquecida face aos 8-2 que os catalães apanharam do Bayern na Final Eight do Verão passado e que se tornaram o escândalo desportivo mais recente, aquele do qual as pessoas falam quando se encontram. Dessa tripla, no Barça, resta Messi, mas um Messi triste por falta de companheiros que o compreendam. Neymar acionou a cláusula de rescisão de 222 milhões de euros e saiu logo nesse ano de 2017 para Paris. Suárez foi dispensado este ano e anda a marcar golos pelo Atlético Madrid. Em Barcelona o clima não está fácil e levou à queda da direção, à convocação de eleições antecipadas e à noção de que Ronald Koeman não tem um pingo de chance de resolver as coisas num balneário que, se já estava dividido, pior ficou com a terapia de choque ali aplicada pelo holandês.
Sucede que se o Barça segue a nove pontos de Real Sociedad e Atlético Madrid na Liga, em Paris já se esgotou um pouco o élan da presença na final da última Liga dos Campeões. Se na altura isso serviu para fazer os gestores do Dubai acreditar que afinal os milhões investidos até tinham correspondência no campo, a forma como decorre esta época terá voltado a enchê-los de dúvidas. Acerca da estratégia, do treinador, do plantel. O PSG já sofreu esta época seis derrotas, uma a mais do que em toda a temporada passada. De repente, nem a conquista da Liga francesa parece segura, ainda que esteja bastante mais manejável do que o retorno ao topo da Liga espanhola para o Barça: a equipa de Tuchel segue em terceiro lugar, a um ponto da dupla de líderes, formada por Lille OSC e Olympique Lyon, e já sabe que vai ficar por umas semanas sem Neymar, lesionado na sequência de uma entrada mais ríspida de Thiago Mendes, no domingo. Claro que daqui até Fevereiro muita coisa pode e vai mudar. Nos dois campos. E que inevitavelmente muito daquilo que vai falar-se tem a ver com o mercado das maiores estrelas.
Messi acaba contrato em Junho e já deixou todas as opções em aberto, mesmo depois de ter visto frustrada a intenção de sair no Verão passado. Não há muita volta a dar: ou encontra uma espécie de alma gémea e é convencido a renovar no processo eleitoral do mês que vem – e quem o conseguir já sabe que ganha as eleições – ou continuaremos a ouvir falar de Pep Guardiola e do City ou da hipótese de se juntar a Neymar em Paris até não haver qualquer hipótese de o FC Barcelona ganhar títulos e ser anunciada a sua decisão. Neymar tem mais um ano de contrato com o PSG, mas continua insatisfeito. Com tudo, ainda que ele tenha a tendência para esquecer as insatisfações antigas em benefício das novas. A última questão a apoquentá-lo foi a exclusão do Top 3 que vai discutir a atribuição do prémio The Best, para melhor do Mundo – lá estão Cristiano Ronaldo, Messi e Lewandowski. No seu círculo de influência logo se diz que é por não ter equipa à altura, quando aquilo que se dizia sempre que ele perdia um destes prémios ao serviço do Barça era que tal se devia ao facto de ali estar sempre na sombra de Messi. Neymar é isso, essa contradição entre o desejo de regressar e o processo ao clube por causa de questões fiscais do contrato que não chegou a cumprir. E isso vai continuar até ao duplo confronto na Champions.
PS – O sorteio para as equipas portuguesas não foi bom mas também não foi um desastre. O FC Porto apanhou a Juventus, mas evitou o Liverpool FC ou o Bayern. E a Juve ainda no ano passado caiu nesta fase com o Olympique Lyon. O Benfica e o SC Braga apanharam o Arsenal e a AS Roma, mas evitaram, por exemplo, o Tottenham ou o Manchester United, já para não falar de um Leicester City ou de um Milan, que estão bem melhor nos respetivos campeonatos que os adversários designados para Fevereiro e Março. Os três adversários são abordáveis na perspetiva de encarar o apuramento e é isso que deve ser interiorizado até os tirarem do baú, disputados os jogos que faltam até à eliminatória.