O que vale este Benfica
O Benfica estreia hoje a participação portuguesa na Champions. E afinal o que mudou da época passada para a atual? Há mais qualidade, com João Mário e Yaremchuk. E houve mais tempo para trabalhar.
O Benfica, líder destacado da Liga Portuguesa, será a primeira equipa nacional a entrar em ação na Champions, visitando mais logo o Dynamo Kiev, em partida decisiva para o futuro dos dois na competição. Os encarnados chegam à Ucrânia montados em cima de uma excelente série de resultados, com oito vitórias e um empate a moralizar as tropas e a dar as necessárias garantias de estabilidade emocional a um grupo que, por ser tão grande, dela precisa ainda mais. Além disso, os comandados de Jorge Jesus ganharam no mercado qualidade ofensiva e no calendário tempo para melhorar defensivamente. A tarefa que têm pela frente, num grupo com Bayern e FC Barcelona, é gigantesca, mas para já este Benfica parece mais forte do que o do ano passado.
Olha-se para este Benfica e é fácil encontrar o incremento face à equipa que acabou a época anterior sem troféus. João Mário veio dar ao meio-campo a qualidade na posse que Taarabt não assegurava – onde o marroquino acentuava o risco desde os primeiros momentos de construção, com saídas em drible ou súbitos passes verticais, o português é segurança. É claro que quando a solução encontrada por Taarabt resultava, a equipa se tornava desde logo letal, pela forma rápida com que chegava à zona de criação, já com meia equipa adversária pelas costas. Mas eram ainda assim muitas as vezes em que não chegava. Com João Mário, o que o Benfica faz é aumentar o leque de soluções ao dispor: o português não tem o poder físico do marroquino para queimar linhas em posse com a mesma facilidade, mas em zonas de criação acentua a tendência que a equipa tem para o passe curto, rápido e seguro, para as tabelas que são a imagem de marca dos Benficas de Jesus desde a parceria entre Aimar e Saviola. Sim, nem João Mário é Aimar nem Rafa é Saviola, e essa é a razão pela qual este Benfica ainda não fez um jogo de encher o olho do ponto de vista ofensivo – o jogo maior desta época terá mesmo sido o 0-0 de Eindhoven, marcado pela resistência com dez homens a um adversário que vinha com embalo de golos marcados.
Depois, há Yaremchuk. Ou Rodrigo Pinho. É certo que o ucraniano também não é Cardozo e o brasileiro não é Jonas. Nem pouco mais ou menos. Rodrigo Pinho é o mais clínico de todos na finalização, como se viu nos Açores contra o Santa Clara, mas não influi no jogo coletivo – e isso é um problema e foi a razão pela qual Jesus o mandou para o duche pouco depois de ter aberto o ativo. Yaremchuk parece ser, ainda assim, o melhor compromisso entre jogo curto e longo, entre apoio e profundidade, que a equipa pode encontrar. O ucraniano pode ser uma espécie de upgrade ao voluntarioso mas inexato Seferovic, cuja baixa percentagem de acerto em momentos de finalização vinha sendo sempre apontada como uma das razões para que o Benfica não descolasse. Ainda que a sua apetência para o ganho de profundidade e a movimentação frequente para os corredores laterais sejam uma necessidade de uma equipa que não pode viciar-se em demasia no jogo curto dos seus tabeladores. Um Benfica de sucesso precisa das duas vertentes para resistir à tentação de transformar cada jogo num enorme “meiinho”. Precisa tanto de largura e de profundidade como de filigrana no espaço interior. E isso está por encontrar.
Assim sendo, o maior upgrade confirmado pelo Benfica esta época até tem sido defensivo. São, até agora, seis balizas virgens em nove jogos. Um total de apenas três golos sofridos. Nos primeiros nove jogos da época passada, o Benfica sofreu dez golos, mantendo o zero nas suas redes apenas quatro vezes. E isso tem a ver com duas coisas. Em primeiro lugar, a utilização dos três centrais e a crescente adaptação da equipa ao sistema, com o tempo que foi tendo para o incorporar. Depois, a consciencialização por parte de Jesus de que era complicado ir a jogo naquele 3x4x3 que deixava a equipa demasiado vulnerável a meio-campo, onde nem Weigl nem João Mário são extraordinários sem bola. O jogo de Eindhoven ficou marcado por, nele, o treinador ter optado por povoar mais a zona, trocando o 3x4x3 por um 3x5x2 que divide o espaço interior por três médios e por isso lhes diminui a responsabilidade espacial na cobertura de terreno – nos Países Baixos juntou Taarabt a Weigl e João Mário; nos Açores deu a tarefa a Everton. Isso não impediu, no entanto, Anderson Carvalho e Morita, sempre com o apoio de Lincoln, de mandar no setor durante 45 minutos – e essa é uma das incógnitas que falta resolver neste Benfica para se perceber se ele vai mesmo ser assim tão mais forte do que o da época passada.
Não é a única – há ainda a gestão de um grupo tão vasto que inevitavelmente vai deixar muita gente desligada por muito tempo… –, mas a cada jogo que a equipa supera com resultados positivos vai dando sinais de que segue no caminho desejado pelo treinador. O jogo de hoje, com o Dynamo Kiev, é um aumento do risco. Da resposta que a equipa der dependerá muito do que vão ser os próximos tempos: um desaire pode fazê-la duvidar, um sucesso equivalerá ao reforço da confiança que a mantém no trilho.