O que vale a seleção
Portugal não alcançou "um feito notável" e muito provavelmente não será campeão do Mundo, mas foi competente no plano da gestão de um jogo que o adversário soube sempre complicar.
Há uma duplicidade estranha em torno da seleção nacional, uma espécie de esquizofrenia masoquista que leva toda a gente a protestar quando a equipa ganha, porque podia ganhar com muito mais estilo, e a deixar escapar toneladas de esperança quando ela perde, porque claramente só não ganhou porque alguém – regra geral o selecionador, mas possivelmente um jogador com ligação antiga a um clube que não o nosso ou o super-agente do costume – terá asneirado e isso é facilmente resolúvel. Assim “eles”, “os maus”, o queiram. Ontem, após a vitória sobre a Macedónia do Norte, que confirmou aquilo que Portugal já devia ter obtido em Novembro, a presença no Mundial, Marcelo Rebelo de Sousa falou exageradamente num “feito notável”, Fernando Santos voltou a dar rédeas ao sonho porventura irrealista de ser campeão do Mundo, mas o público torceu o nariz. Fê-lo porque a Macedónia não se expôs e não nos deixou brilhar em ataque organizado, como tinha feito a Turquia, e porque o selecionador não renovou uma equipa já de si renovada. E dois jogos seguidos com os mesmos princípios e quase os mesmos jogadores já cheiram a marasmo na apreciação daqueles que só sabem viver no frémito da mudança constante.
Tenho uma coisa a dizer: acho que estão todos enganados. Contra a Macedónia, não se viu aquele Portugal ambicioso da primeira parte do jogo com a Turquia, aquela equipa que foi pressionar alto a saída de bola do adversário, que lhe causou uma série de perdas de bola e as transformou em ocasiões de golo num início de ritmo contagiante. E também não se viu aquele Portugal de jogo ligado que se tinha visto em determinados períodos do jogo contra os turcos, aquela equipa capaz de acertar combinações dentro do bloco adversário e de, com elas, criar tantas situações de perigo. O problema de quem se fica por aqui nas análises é que se esquece de uma coisa tão simples como o facto de, além dos portugueses, ter havido mais onze homens no relvado do Dragão. Os macedónios vestiram de branco como os turcos, mas jogaram de forma muito diferente. Logo à partida, não tentaram sair curto, o que tornava impossível e até algo idiota qualquer tentativa de pressão – se o guarda-redes vai bater longo, ir pressionar só alarga o nosso bloco, dificultando a tarefa de ganhar uma segunda bola saída do primeiro duelo aéreo. Depois, porque fecharam o espaço interior, com dois médios muito posicionais, com laterais e médios-ala sempre dentro quando não no lado da bola, e juntaram linhas, o que impedia a seleção portuguesa de combinar dentro do seu bloco e os deixava quase sempre em vantagem nas divididas, ainda que naturalmente muito atrás e bem longe do objetivo.
Isto levou Portugal a ter de entrar em muito mais fases de ataque posicional – se no jogo com a Turquia tínhamos superado os 500 passes, ontem fomos aos 600, ainda que possivelmente grande parte deles fora do bloco rival – e revelou uma equipa cujos problemas de jogo não se resolvem pura e simplesmente com a passagem de Bernardo Silva para o centro. Isso ajuda, sim, mas falta o resto. O facto de Portugal ter ganho o jogo com dois golos de contra-ataque, que se seguiram a recuperações de Bruno Fernandes e Pepe e a velozes transições ofensivas, não diminui em nada o triunfo, antes revelando uma equipa capaz de aproveitar o que o jogo tem para lhe dar. E isso é um sinal de inteligência, um dos méritos mais apreciáveis no futebol. Mas, mesmo com o meio-campo dos craques, dos tecnicistas que sabem passar a bola – e sem aqueles a que os contestatários gostam de chamar “trincos” – a equipa continuou a revelar problemas em ataque organizado face a um adversário fechado. E entender isso passa por compreender que os jogadores são muito mais do que o rótulo que lhes puseram na testa, que o principal mérito de Portugal contra a Turquia foi defensivo – o pressing – e que ontem, em contrapartida, o que a equipa fez melhor foi a gestão da vantagem com bola – mérito ofensivo, de acordo com a máxima irrefutável segundo a qual quando se tem a bola se ataca e quando ela está em posse do adversário se defende.
O apuramento de Portugal para a fase final do Mundial não foi um “feito notável”, como diz o Presidente da República – esta equipa já devia ter garantido essa qualificação em Novembro e, na verdade, tê-lo-ia feito, não fossem as vistas curtas do árbitro do Sérvia-Portugal, que não validou um golo evidente de Ronaldo em Belgrado. Portugal pode até vir a ser campeão do Mundo, como sonha Fernando Santos, mas é altamente improvável que isso suceda, pois a equipa continua a revelar problemas na adequação de jogadores e plano de jogo, algo que só se resolveria com horas de trabalho que ela não teve e que dificilmente terá. Mas a equipa respondeu como podia e como lhe era exigido, o que pode ter como efeito imediato a saída da toca dos eternos insatisfeitos, sequiosos de mais e mais mudanças, mas acaba por validar o percurso escolhido pelo selecionador nacional. Segue-se a Liga das Nações, em Junho e Setembro. Que a aproveitemos todos para entender melhor esta seleção e para a aproximar do que ela pode dar.
Tenho que meter a viola no saco e dar o braço a torcer ao selecionador.
Ir a jogo com Danilo a "falso central" para termos mais um elemento no meio campo a ganhar bolas com impetuosidade como o jogador do PSG foi bem jogado. Danilo fez um jogão.
Jogámos qb para marcar presença no Mundial e soubemos ser inteligentes na gestão do jogo. Não é por acaso que os dois golos da partida surgem em contra ataques em transição.
Vamos lá então aproveitar a Liga das Nações para continuar aos poucos a meter sangue novo na seleção para preparar os convocados definitivos para o Mundial.
Sim, também acho que vai ser importante que FS aproveite Junho e Setembro para poder trabalhar melhor esta seleção. Ter mais tempo de treino e jogos menos importantes para tentar fazer experiências. Tem qualidade para isso, vamos ver.
Só aqui um á parte, achei Ronaldo bem mais cansado que das últimas vezes que ele veio a seleção, pode estar aqui o começo do fim mas ainda acho que ele é mais valia para nós, só acho que ele tem de pensar e saber que com a qualidade do nosso banco ele aos 65'/70' tem de sair e dar lugar aos miúdos que são muito bons e trazem sangue fresco e muita qualidade. Acho que o FS tem aqui trabalho para fazer com Ronaldo e ficamos todos a ganhar. Uma palavra para Pepe e Danilo que foram imperiais na defesa, não passou nada, foi um muro. O Diogo não fez uma defesa, foi mais um espectador mas no relvado. 😁