O que muda no Sporting sem Palhinha
O Sporting vai jogar o derby contra o Benfica sem Palhinha e com Matheus Nunes a mandar no meio-campo. O que é que isso muda no comportamento da equipa?
O Boavista-Sporting, que os leões venceram e cuja análise farei de forma mais concreta na edição de hoje do Futebol de Verdade, às 12h30, ficou marcado pelo cartão amarelo a João Palhinha, que afasta o médio do derby com o Benfica, na próxima segunda-feira. Poderá um só jogador justificar assim tanto burburinho? Mais a mais quando os leões acabam de jogar sem Pedro Gonçalves, que tem sido repetidamente o melhor da Liga? Eu diria que sim. João Palhinha é, neste momento, juntamente com Coates, Porro e Nuno Mendes, um dos homens mais difíceis de substituir no onze do Sporting.
A minha opinião não é de hoje. Já achei Palhinha o melhor médio-defensivo da última Liga, ainda ao serviço do SC Braga (neste Q&A juntei-lhe o então famalicense Racic, que agora é titular do Valência CF e ainda há dias marcou ao Atlético Madrid). Durante o defeso, fui manifestando a minha incredulidade com as sucessivas tentativas dos responsáveis leoninos para o colocarem no mercado, sendo evidente que nunca conseguiriam um jogador com as suas valências nem pelo dobro do que iriam receber por ele – no final da época, então sim, ele estará seguramente mais valorizado, até porque não deve tardar a ser chamado por Fernando Santos a integrar o grupo mais alargado da seleção nacional. Portanto, sim, mesmo que Rúben Amorim tenha afirmado que ontem deixou o médio no banco, no Bessa, por questões relacionadas com gestão física e não por estar “à bica” com amarelos – a opção de o colocar em campo no último quarto-de-hora é coerente com essa explicação e com o que o treinador dissera acerca disso antes do jogo –, é seguro que Palhinha vai fazer-lhe falta contra o Benfica.
“Mas, caramba, é um médio defensivo!”, exclamarão alguns. Sucede que o futebol é uno, o jogo é um todo, e muito do que o Sporting de hoje é enquanto unidade atacante começa na ação de Palhinha, na forma como ele se impõe nos duelos defensivos – nos aéreos, então, não há outro médio como ele na Liga – e alarga o raio de ação da sua missão para ir recuperar bola bem alto no meio-campo atacante, permitindo ações de contra-transição e facilitando a ação aos homens da frente, que apanham adversários mais abertos, precisamente porque se estavam a preparar para sair a jogar. Há muitos golos do Sporting a começar na contundência de Palhinha no desarme. Basta recordar o “carrinho” que ele fez a Felipe Anderson no jogo da Liga contra o FC Porto, aos 88’, quase à entrada da área portista, lançando em ato contínuo Pedro Gonçalves na linha de fundo, dessa forma iniciando o lance do qual acabou por resultar o golo de Vietto e o empate leonino nesse jogo (2-2).
Não creio que haja qualquer hipótese de despenalização, pelo que o melhor mesmo é Rúben Amorim preparar o jogo sem o seu médio-centro. Assim sendo, certamente jogará Matheus Nunes, que até foi o predileto do treinador para a posição na ponta final da época passada, quando Palhinha ainda estava em Braga. O que muda? Muda a capacidade de pressionar e de ganhar os tais duelos defensivos, sobretudo no meio-campo adversário. O Sporting perde agressividade em zonas mais avançadas do campo, o que vai levá-lo a ser menos forte nas transições. Mas muda também a capacidade para a equipa ter bola, que Matheus é mais competente em outras áreas do jogo, como a condução de bola ou a possibilidade de criar desequilíbrios em ataque posicional, em investidas que de vez em quando protagoniza pelos corredores laterais: ainda ontem, no Bessa, o homem que começou o jogo a ocupar o lugar de Palhinha, como médio mais defensivo, acabou-o a fazer parte do trio de ataque, com Tiago Tomás e Tabata.
Não critico Amorim por ter colocado Palhinha em campo no final: o Boavista estava a começar a expor-se na busca do empate e ele terá tentado melhorar a equipa nos aspetos defensivo e de transição atacante. O próprio Amorim avisara que não ia forçar cuidados com a gestão dos amarelos, porque da última vez que o fez isso resultou na diminuição de intensidade da equipa em campo. Aliás, o jogo de ontem é um excelente barómetro para se entenderem as diferenças entre Palhinha e Matheus Nunes no jogo da equipa. No final, Amorim e Jesualdo Ferreira concordaram em dois aspetos: que o Sporting foi a força dominante na primeira parte e que lhe faltaram ocasiões até ao momento do primeiro golo. É esse o Sporting sem Palhinha. Mais posse, mais controlo de jogo, mais ataque posicional, e em consequência disso também adversários bem colocados defensivamente, menos transição ofensiva e menos situações de golo. Para o derby, falta o outro lado da equação.