O objetivo é ultrapassar a França
Se as coisas correrem normalmente e, sobretudo, se nos dermos bem nas rondas preliminares de 2021/22, podemos voltar a entrar nas Big Five. Com todo o impacto que isso teria na indústria do futebol.
Após a vitória fácil do Benfica perante um Lech Poznan que não se encontrava tão acessível nem de encomenda, e de uma semana que em termos europeus foi quase perfeita para o trio português nas provas da UEFA, Jorge Jesus disse uma coisa que há algum tempo eu venho dizendo, em várias edições do Futebol de Verdade. Em termos de ranking, o nosso objetivo para o próximo ano e meio não é conter a Rússia, mas sim alcançar a França e entrar no Top5. O reflexo prático do que seria uma proeza extraordinária – e atenção que será muito difícil e exigente chegar lá… – nem é particularmente recompensador. Mas o que mais conta aqui é o impacto que tal feito teria na lógica do futebol internacional e na distribuição de vagas de uma eventual Superliga, se e quando ela vier a ser criada. Já ouviram falar das Big Five? São as cinco grandes Ligas da Europa. Pois…
Em termos práticos, de distribuição de lugares nas competições, a grande diferença está, no momento, entre o sexto lugar que ocupamos e o sétimo no qual passámos os últimos anos. Aliás, fruto de um defeito há muito detetado no sistema da UEFA, temos andado numa alternância sistemática com a Rússia entre sexto e sétimo lugares. A questão é que o ranking se faz, muito basicamente, através da divisão dos pontos conquistados em campo pelo total de equipas presentes no início das provas. E o sexto classificado não só tem mais uma equipa em prova na fase inicial – são seis em vez de cinco a funcionar como divisor, contribuindo para baixar o resultado – como tem mais uma equipa na Liga dos Campeões, onde os pontos são mais difíceis de conquistar do que na Liga Europa. Foi por isso que, nos últimos anos, Portugal tem vindo a ganhar pontos à Rússia, que estava em sexto lugar até ao final da época passada. A partir do ano que vem – quando começa a ganhar reflexo prático o escalonamento saído da soma dos pontos entre 2015/16 e 2019/20 – vai ser Portugal a dividir os seus pontos por seis (e a Rússia por cinco). Além de que Portugal passará a ter duas ou três equipas na Liga dos Campeões – e a Rússia só uma ou duas. É a partir de 2020/21 (e não esta época) que a retoma da Rússia pode ser um problema.
Este ano, antes das eliminatórias preliminares que acabaram por afastar Sporting e Rio Ave, eu chamei a atenção para a importância do apuramento das duas equipas, porque se ele fosse conseguido, em vez de estarmos preocupados com a Rússia e a manutenção da sexta posição, podíamos passar a pôr os olhos na França e no quinto lugar. Sporting e Rio Ave ficaram pelo caminho, perderam a oportunidade de continuar a somar pontos, mas continuaram a contar como divisor. Mesmo assim, Portugal é o quinto país no ranking relativo a esta época: tem 7,4 pontos e está apenas atrás de Inglaterra (13,0), Espanha (11,3), Alemanha (10,6) e Itália (10,4). A Rússia, que nos persegue, vai com 4,1. E, sobretudo, tem poucas perspetivas de vir a melhorar o pecúlio, pois das quatro equipas que ainda tem em prova já sabe que vai perder o Zenit (último do seu grupo da Champions) e o CSKA (já eliminado na Liga Europa). Deverá mesmo ficar reduzida a apenas uma equipa (o FK Krasnodar, que cairá da Champions para a Liga Europa), caso o Lokomotiv não ganhe em Munique ao Bayern na semana que vem – e só se o fizer é que pode ansiar seguir também para a Liga Europa em vez do RB Salzburgo, que teria de perder em casa com o Atlético Madrid.
Ora as posições no ranking que atribui vagas nas provas da UEFA são as das últimas cinco épocas somadas. Quer isto dizer que, se no início da época, recorrendo a esse ranking de cinco anos, Portugal tinha 3,9 pontos de avanço sobre a Rússia no sexto lugar (49,4 contra 45,5), no final desta temporada essa vantagem vai alargar-se, construindo a almofada de que podemos precisar em 2021/22, quando passarmos a ter seis equipas nas provas da UEFA e o nosso divisor aumentar. Mas olhemos, então, para a França. No ranking a cinco anos, a França é quinta, a última desse bastião psicológico que são as Big Five. Entrou na época com 9,8 pontos de avanço sobre Portugal (59,2 contra 49,4), mas já desbaratou 1,9, pois em 2020/21, se Portugal é quinto, com os tais 7,4 pontos, a França é apenas décima, com 5,5. Além disso, das cinco equipas que ainda tem em prova, a França manterá o Paris Saint Germain (seja na Liga dos Campeões ou na Liga Europa) e o Lille OSC (apurado no grupo da Liga Europa). Vai perder o Stade Rennes (já seguro de ser último no seu grupo da Champions) e o OGC Nice (eliminado na Liga Europa), restando perceber como será com o Olympique Marselha, que no grupo do FC Porto ainda pode seguir para a Liga Europa (se fizer melhor em Manchester do que o Olympiakos em casa com os dragões) ou ficar também fora. Portanto, os franceses têm mais ou menos a mesma perspetiva de pontuar no que resta da época do que os portugueses – resta-nos torcer por uma época sofrível do PSG e pela eliminação do Ol. Marselha já na semana que vem.
Portanto, estamos ainda assim a falar de 7,9 pontos de desvantagem. Uma distância quase impossível? Errado. É que para se fazer o ranking da próxima época, todos os países perderão os pontos relativos a 2016/17, o sexto-último ano. E nessa temporada, a França somou 14,4 pontos, contra 8,0 de Portugal. Na verdade, neste momento, a desvantagem portuguesa para o quinto lugar é de 1,1 pontos: 39,3 contra 38,2. E a vantagem sobre a Rússia, descartando a temporada de 2016/17, é de 9,2 pontos (38,2 contra 29,0). A ultrapassagem à França exige muito das equipas nacionais, não só no que resta deste ano, mas sobretudo nas preliminares de 2021/22, porque é fundamental que todos contribuam não apenas como divisor. Mas é possível regressar a um lugar que até já foi nosso entre 2011 e 2016.