O novo Futebol de Verdade
O Futebol de Verdade vai entrar numa dinâmica diferente a partir de segunda-feira. Com menos interação mas, esperamos todos, melhor interação. Saiba o que vai mudar neste texto.
Vou falar-vos hoje do Futebol de Verdade. O Futebol de Verdade vai mudar a partir de segunda-feira, mas aqui pode saber tudo o que vai ser alterado e como se preparar para as mudanças, sem perder pitada.
O FDV começou em 2019 e, quase quatro anos depois, fiz hoje a emissão número 776. Há ali muito trabalho somado. Muita coisa mudou no FDV desde a primeira emissão, mas houve uma que se mantém: o programa passa às 12h30 no meu canal de YouTube. Ainda não se inscreveu? Do que é que está à espera?
Em 2019, o programa era para ter cinco, sete minutos; hoje raramente fica abaixo dos 50. Em 2019 fazia-se só comigo a falar para uma câmera; hoje tem inúmeros pontos de interatividade convosco. Em 2019 era transmitido em todas as minhas redes sociais; hoje está só no YouTube. Em 2019, eu tinha o apoio de uma produtora de vídeo, estavam o Álvaro Filho a filmar e a editar e o João Pedro Cordeiro ou o Fernando Gamito a moderar; hoje faço o programa sozinho. Em 2019 não havia muita gente a ver; hoje ainda não há muita gente, ou pelo menos não há tanta gente como eu gostaria, mas entre os cerca de 300/400 que estão em média nos diretos já apareceu gente em número suficiente para o transformar num espaço em que estão todas as cores clubísticas - felizmente - e todas as motivações. E se acolho de braços abertos os que surjem para elevar a discussão, não tenho paciência para os que aparecem apenas para armar confusão, para alimentar debates laterais, muitas vezes com insultos, sonsices ou acusações insustentáveis, que além de serem ofensivas me impedem de descobrir os contributos realmente válidos.
Veja aqui a emissão de hoje:
A vantagem dos programas neste meio digital é que podemos mudar sempre que nos apetecer. Ora, como está, o FDV não é viável. E por isso vai mudar. O programa leva-me três horas de trabalho diário, quase sem retorno - embora eu saiba que, sim, muitos dos que chegaram aqui ao Substack o fizeram pela porta do FDV. Não me canso de vos agradecer, porque é justo que o faça. Mas não só não tenho vocação de terapeuta como não quero participar num espaço que seja uma réplica pobre dos debates entre adeptos engajados com que se encheram os serões televisivos, muito à custa do lixo que uns mandam para cima dos outros. O Futebol de Verdade nasceu como espaço para comentar futebol, cresceu para ser um espaço onde tento discutir futebol convosco, mas não será nunca um espaço onde toda a gente vem vomitar as acusações com que se enchem esses espaços que desprezo.
A questão passou a ser: como evitá-lo? Muitos de vós me diziam que era impossível, que quanto mais o programa crescesse - e já temos cerca de 2.000 visualizações por dia e 1500 descargas de cada episódio do podcast, o que não é nada, mas é muito mais do que no início -, mais trolls apareceriam. Isso é claro como água. O programa serviu até de mote para um episódio do Extremamente Desagradável, da Rádio Renascença, no qual a Joana Marques me apresentou como um professor rabugento e zangado com a turma e a alguns dos trolls como vítimas do meu mau génio. Achei graça, como acho sempre às coisas da Joana Marques, porque não acredito em limites para o humor. Ao mesmo tempo, senti algum orgulho: alguma importância o programa devia ter, para aparecer ali, num podcast que é líder em Portugal. Pude ainda constatar que muita gente chegou ao programa pela primeira vez depois de ter sabido que ele existia através do Extremamente Desagradável, o que confirma que “não há má publicidade”. Muitos tornaram-se, até, subscritores Premium. Mas, sobretudo, refleti naquilo em que o programa se tornara. Porque gosto, verdadeiramente, da interação, já tirei excelentes ideias das conversas com alguns de vocês, mas fiquei com a certeza de que aquilo como estava não podia continuar. Fazia-me mal a mim e fazia mal ao programa.
Comecei a pensar no que fazer para mudar as coisas. Muitos de vós me sugeriram que não ligasse aos comentários dos trolls, que não lhes desse palco, porque isso era o que eles queriam. Que os bloqueasse. A questão é que quando eu os bloqueio, eles dão-se ao trabalho de criar novo perfil para voltarem, às vezes com o mesmo nome. Além de que eu não consigo continuar a manter um discurso e um raciocínio fluídos se tiver de estar constantemente à procura de comentários válidos no meio de conversas paralelas atulhadas de lixo. Falaram-me da introdução de moderadores, que tive no início, mas rejeitei essa ideia pela mesma razão que a produtora de vídeo na qual o FDV nasceu abdicou dele: o dinheiro. Primeiro, o programa não gera receita para pagar a moderadores e, depois, eu próprio não acredito em trabalho não remunerado. Já tive quem se oferecesse para moderar pro-bono, quem me dissesse que todos os streamers o fazem, mas eu não sou capaz de o fazer. Só terei alguém a trabalhar comigo se e quando conseguir pagar o valor justo desse trabalho e se puder exigir a esse alguém o mesmo profissionalismo que eu meto em cada tarefa. Neste momento não estão criadas as condições para isso suceder.
Fiz um inquérito aos subscritores do Substack acerca dos caminhos a assumir pelo FDV, para conhecer as vossas sugestões e o que, para vocês, era mais importante no programa. Não me espantaram os resultados. Tomei nesse dia a decisão de reduzir a interatividade e ia preparar-me para começar a fazer o programa com o chat sempre fechado quando, na resposta a uma das perguntas abertas do inquérito, um de vocês me deixou uma sugestão que decidi experimentar: abrir e fechar o chat consoante o período do programa, consoante fosse altura de conversa ou de me ouvir. Foi assim que inaugurámos o “semáforo”. Sucede que a ideia era boa, mas ao mesmo tempo impraticável: alguns de vós queixavam-se de que tinham de fechar e voltar a abrir o YouTube para voltarem a comentar; eu próprio, por vezes, reabria o chat e não via os comentários que vocês, entretanto, já tinham feito, porque para os ver teria também de sair e voltar a entrar. Acabei por abandonar a ideia e por voltar a abrir o chat sem limites, mas a coisa não demorou muito a descambar outra vez. O programa totalmente interativo morreu ali. Ou melhor: acabará amanhã, quem sabe se para sempre, quem sabe se para voltar um dia.
Amanhã farei o último FDV sem restrições no chat. A partir de segunda-feira, 3 de Abril, as regras do FDV vão mudar. A saber:
O programa continuará a ser gratuito. Todos podem vê-lo em direto. Mas vai ser feito de chat fechado. Todos podem comentar, mas eu não lerei nem responderei aos comentários;
A interatividade vai ser reduzida àquilo que eu posso controlar. Todos os dias vou responder a duas perguntas vossas: a Pergunta na Moosh, que selecionarei entre as questões que todos podem deixar na caixa de comentários da emissão anterior, e a Pergunta do Discord, que selecionarei entre as questões que os subscritores Premium poderão deixar na chat room que criarei para o efeito no meu servidor de Discord. É pouco? É mais do que a generalidade dos espaços fazem;
O programa será, assim, mais curto, mas ao mesmo tempo mais fluído, sem tanta coisa que me disperse o raciocínio;
Uma vez por semana farei um programa de chat aberto, mas só os subscritores Premium do meu Substack terão a possibilidade de interagir. Os outros poderão na mesma ver, mas só poderão comengar em diferido. Escolhi a sexta-feira como o dia da interatividade. Se vir que há demasiados comentários, demasiados interessados em participar na conversa, admito perfeitamente a hipótese de aumentar para duas sessões interativas por semana. E depois para três, quatro ou até as cinco. Depende da vossa resposta.
Sei que muitos de vocês ficaram desiludidos com esta decisão. Como sei que outros a aplaudiram e já tinham ficado desiludidos há um mês, quando optei pela solução mais diplomática do semáforo em vez de acabar de vez com a trollagem. Vi que hoje me acusaram, por exemplo, de estar a desprezar os espectadores que fizeram crescer o programa, como vi agradecerem-me o esforço que estou a fazer para voltar a recentrar o espaço naquilo que ele tem de ser, que é um comentário sobre futebol.
Respeito todas as ideias, mas sei aquilo que consigo e quero fazer. Entendam por favor que, para mim, conversar convosco no FDV é um enorme gosto e uma possibilidade de difundir a minha produção jornalística, através de momentos de cross-selling, mas é trabalho. E que, da mesma forma que já praticamente deixei de responder a comentários nas redes sociais, também não estou disponível para gastar três horas do meu dia, cinco vezes por semana, a irritar-me com gente que só quer fazer vingar uma agenda de falta de respeito por tudo o que não seja a sua fação. A redução da interação em direto a quem está disponível para suportar este espaço é uma forma de controlar melhor essa gente, porque creio que quem só quer estragar acabará por ir estragar para outro lado. E quem estiver disponível para pagar é porque certamente quererá um debate mais construtivo.
Decida em consciência o que quer fazer relativamente ao FDV. Eu lá estarei, todos os dias, às 12h30, no meu canal de YouTube.
Chat todos os dias mas só para premium
Siga para a frente. Creio que seja uma boa iniciativa, e que já fazia falta ao programa há mais tempo. Oiço diariamente em podcast e as quebras de raciocínio por causa dos comentários dos trolls eram o menos bom do programa.
Acho que os comentários serem limitados a premiums os trolls deixarão de estragar o programa e creio também que não haverá muita gente a deixar de ver por haver esse limite. E a interatividade continua, e quem quiser participar mais, é contribuir para o excelente trabaho do AT e tornar-se subscritor premium também :)