O Mundo ao contrário
O Mundial perdeu hoje Bélgica e Alemanha, dois potenciais candidatos ao título. E nem é por isso que o Mundo parece estar ao contrário. É porque é dessa inversão que depende a estratégia japonesa.
Nos anos dourados do futebol empírico, havia uma escola, nem vou dizer que de pensamento, mas mais de comportamento irrefletido, que mandava os treinadores entrarem em campo com onzes menos adequados, para mais tarde poderem corrigi-los com boas substituições e assumirem em nome próprio a proeza de vitórias saídas do banco. Era uma espécie de Mundo ao contrário. Não creio que tenha sido essa a motivação estratégica a levar o modesto Hajime Moriyasu a começar os três jogos do Japão na fase de grupos do Mundial sem Mitoma ou Asano e dois deles sem Doan, quando estes são claramente os elementos ofensivamente mais desequilibradores da equipa nipónica. Há por trás do pensamento do selecionador japonês um plano que não busca a vaidade ou a glória pessoal mas o resultado, um guião que passa por aguentar o embate primeiro e lançar a equipa em ataque vertiginoso depois, como se ela só pudesse verdadeiramente jogar a partir de situações de desvantagem. A equipa cumpriu e fez-lhe sempre a vontade. Em todos os jogos do Japão, foram sempre os adversários que marcaram primeiro, ainda que a incompetência de um deles tenha acabado por se virar contra os orientais – a Costa Rica demorou muito a fazer o seu golo e, quando se viu na necessidade de reagir, o Japão já não teve tempo. Hoje, a Espanha, que é forte, imitou o que fizera a Alemanha no primeiro dia: marcou e deixou-se surpreender no momento em que os japoneses gritaram “Banzai!” e foram para a frente com os seus melhores argumentos. Doan fez um golaço a empatar, Mitoma animou o corredor esquerdo e recuperou uma bola impossível para dar a virada a Tanaka. O plano de Moriyasu resultou em pleno, uma vez que o Japão acabou o grupo em primeiro lugar. Mas haverá um dia em que a coisa vai correr-lhe mal. O Mundo não fica ao contrário para sempre.
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