O mercado que aí vem
Resolvido o campeonato, abre a época de mercado. O que pesa nas decisões de quem compra e vende? E quais são os jogadores da nossa Liga apontados a uma transferência importante?
Quando se chega ao final de uma época, as perguntas que ocupam a cabeça da maior parte dos adeptos de futebol são duas. Quem vamos comprar? E quem vamos vender? Pronto, há uma terceira: e por quanto? Ainda ontem, no Futebol de Verdade (pode ver o programa aqui), uma das perguntas a que respondi no Challenge era sobre este tema: quais são os jogadores fulcrais do FC Porto, aqueles que o clube não pode vender? Ora, é verdade que nestes últimos anos assistimos a algumas distorções de mercado, geralmente provocadas pela influência e pela capacidade negocial global de um Jorge Mendes, mas regra geral a coisa funciona mais ao contrário. Os clubes portugueses não vendem por desporto, fazem-no porque precisam, pelo que tentam sempre vender caro. E só conseguem vender caro os jogadores fulcrais. Porque se não forem fundamentais não serão assim tão bons e se não são assim tão bons o mais certo é que não haja quem queira pagar caro por eles. E se não há quem dê valores altos, mais vale não vender.
Ainda assim, a esquizofrenia própria do adepto apaixonado leva muitas vezes as pessoas a achar que precisam de mudar tudo, que os jogadores que lá estão não servem – daí o abuso nos media da expressão “revolução” a propósito da chegada de Roger Schmidt ao Benfica – mas que de repente meia Europa estará disposta a pagar caro por eles. E não está. O futebol europeu tem neste momento um problema um pouco semelhante ao português, ainda que um degrau acima. Se por cá a falta de dinheiro a circular levou à extinção do mercado interno de transferências, na Europa, aos que podem pagar só lhes interessam, regra geral, jogadores com capacidade para ter impacto imediato, jogadores aos quais se adivinhe uma margem de progressão enorme – e a possibilidade de impacto a médio prazo – ou jogadores que venham garantir as boas graças de um empresário influente e a eventualidade de fazerem boas vendas a seguir. São estes os três fatores que fazem mexer o mercado nos clubes compradores das Big Five – e atenção que mesmo ali há mais gente a desinvestir, isto é, a vender mais do que se compra, do que a investir.
Assim sendo, fica difícil olhar para os excedentários dos nossos plantéis e lá encontrar uma forma de financiar as revoluções prometidas. Extintas que parecem estar a via Akhmetov – sem competir, o Shakhtar não pode comprar – ou a saída russa, restarão um par de clubes na Grécia, um trio na Turquia, o Wolverhampton da Fosun, a AS Roma de José Mourinho e os endinheirados do Médio Oriente, sendo que à exceção dos Wolves e da Roma, nos quais se adivinha a ligação umbilical a Mendes, todos dependem de em quem confiarão este ano para lhes abastecer o carrinho de compras. A relação dos clubes portugueses com os agentes passa muito por aí também: será sempre um “toma-lá-dá-cá” que não tem necessariamente de ser criminoso. Há aqui muito jogo de influências, do género, “eu garanto-vos a colocação do jogador X, vocês ainda fazem dinheiro com ele, mas em contrapartida preciso que me fiquem com o Y e o Z”? Claro que sim. E muitas vezes essa é a única maneira de manter o mercado a circular, porque aqui não se joga só com os valores de transferências. É o valor de salários também, que para renovar plantéis e pagar aos novos jogadores é preciso primeiro encontrar quem pague pelo menos o mesmo dinheiro aos dispensáveis que têm contrato e todo o direito do Mundo a receber o que lá está escrito. E os clubes que têm dinheiro para pagar esse nível de salário aos nossos excedentários também o têm para escolher quem querem e eventualmente pagar valores por transferência que os levam a olhar para outras opções.
Ora, por dependerem de influências e jogos de bastidores, é muito difícil adivinhar quem são os dispensáveis que os nossos grandes clubes poderão conseguir meter através desta meia dúzia de portas que poderá abrir-se neste Verão: Olympiakos, Besiktas, Fenerbahçe, Galatasaray, Wolves, AS Roma, Al Hilal... Aí podem caber jogadores até mais velhos do que os 25, 26 anos, uma espécie de limite etário para investimentos por parte de clubes das Big Five em mercados periféricos como o nosso. Porque uma coisa é pagar por jogadores que já provaram àquele nível – esses podem até ser mais velhos – e outra é ir buscar jogadores na segunda metade da carreira que ainda não chegaram lá. De qualquer modo, pode perceber-se que jogadores terão mercado nas Big Five a valores capazes de levar os três grandes portugueses a aceitarem ficar sem eles, isto é, de 20 milhões de euros para cima. Diogo Costa, Vitinha, Otávio, Pepê, Fábio Vieira ou Evanilson no FC Porto; Pedro Porro, Gonçalo Inácio, Palhinha, Matheus Nunes e Pedro Gonçalves no Sporting; Weigl, Gonçalo Ramos ou Darwin Nuñez no Benfica são os nomes mais evidentes – sendo que mesmo entre estes Otávio tem 27 anos, Palhinha e Weigl têm 26 e até Pepê tem 25. Uribe seria um candidato óbvio, mas os seus 31 anos dificultam a coisa. Rafa também, mas já tem 28 anos e um currículo de três anos sem um troféu. Grimaldo, com 26, pode ser muito interessante, mas está a entrar no último ano de contrato, o que reduz o valor que o Benfica poderá pedir por ele.
A questão, aqui, é a de se perceber como estão os nossos clubes a trabalhar. O que fizeram para se precaver? Como se prepararam para este mercado? O FC Porto, por exemplo, vendeu Díaz em Janeiro e não sofreu com isso porque já tinha Pepê alinhado para entrar na equipa e confiava muito na influência de Vitinha para tornar o jogo mais coletivo e menos individual. O Sporting vai tentar vender Palhinha e já está a preparar Ugarte para o render. Aqui poderíamos até colocar-nos na pele de um potencial comprador e pensar que se o uruguaio já ganhou o lugar ao português e até é mais jovem talvez pudesse ser mais compensador apostar antes nele. Só que aí entra outra questão: a vontade dos jogadores. Os leões poderão jogar com a não tão grande urgência de Ugarte pela saída – acaba de chegar... – para subir o preço dele a níveis que tornem essa aposta mais desaconselhável, mas talvez já não possam fazer o mesmo com Palhinha, que vê o espaço no onze apertar e quererá experimentar outras realidades.
Ainda assim, tanto no Sporting como no FC Porto estaremos a falar de políticas de continuidade. No Benfica, do que se fala é de uma “revolução”. E uma revolução pode tomar caminhos muito imprevisíveis. Há as que fazem vítimas e as que se fazem sem derramamento de sangue. Mas estas são raras. E, das duas uma: ou se faz uma grande venda (e esta só poderá ser Darwin) ou a revolução vai precisar de mais um investimento colossal.
Mercado complicado para o Benfica , fácil a nível de entradas mas difícil para emagrecer o plantel e massa salarial . Espero sinceramente que não se revolucione em demasia … espero uma aposta mais “portuguesa” e menos estrangeiros . Se ao nível dos treinadores temos sido mais felizes com estrangeiros , ao nível de plantel temos sido mais felizes quando temos um núcleo forte de portugueses ou jogadores oriundos do mercado nacional ! Esperar para ver o que o futuro nos reserva . António , sugestão para um próximo artigo , o sucesso dos treinadores estrangeiros nos 3 grandes , seria interessante perceber os números dos estrangeiros vs portugueses .
Não consegui ver o Futebol de Verdade hoje.
Vamos ter um mercado bastante interessante quer a nível nacional quer internacional.
Basta ver os jornais espanhóis hoje e perceber que vão rodar muitas cadeiras.
Acho interessante o Barcelona abastecer-se no Chelsea em jogadores tarimbados e em final de contrato, 3 titulares a caminho de Espanha.
Ruben Neves é um dos outros nomes em cima da mesa e sabemos que se o negócio se fizer vai ser Palhinha a avançar para Inglaterra.
Os ingleses querem obviamente vender bem e comprar barato. Têm a palavra Hugo Viana e Frederico Varandas.
No Benfica, Darwin mais uma ou outro peso morto do plantel deve dar para o investimento desejado, já o Porto venda quem vender a dinâmica está criada isto se SC ficar nos dragões senão outro galo cantará e não será a mesma coisa.
Da minha parte dava-me jeito que SC saísse...🙂