O gambito de Schmidt
A jogar contra dez, Schmidt percebeu ao intervalo que o fundamental era manter onze em campo e sacrificou três amarelados. Ganhou aí um jogo que o FC Porto levara para o campo da intensidade máxima.
A história do FC Porto-Benfica, ganho pelas águias, por 1-0, resume-se muito a duas opções de risco feitas pelos treinadores. Sérgio Conceição marcou o andamento no início do desafio, levando o FC Porto a optar por um futebol mais largo, pela aposta constante nos duelos e nas segundas bolas, bem como na pressão intensa sobre as tentativas de organização do Benfica. Causou desconforto à equipa de Roger Schmidt, mas viu o feitiço virar-se contra o feiticeiro quando Eustáquio se empolgou e abusou da interpretação deste estilo mais combativo, fazendo-se expulsar com dois cartões amarelos em três minutos. Roger Schmidt teve 18 minutos para pensar até ao intervalo, que foi quando jogou a sua cartada: tirou de campo três dos quatro jogadores que já tinham visto cartão amarelo, alguns deles com grande peso na manobra da equipa. Foi nessa jogada de risco que o Benfica ganhou o jogo, porque fez aumentar exponencialmente as possibilidades de chegar ao fim dos 90 minutos com superioridade numérica.
O Dragão acabou assim por ser o palco em que Schmidt demonstrou que não conta só com o seu onze de gala, como chegou a presumir-se durante as primeiras semanas da época, altura em que abusou dos titulares. Ontem, para ganhar ao FC Porto, sacou Enzo Fernández e João Mário, respetivamente o dínamo e o cérebro da equipa – já para não falar em Bah, que nos últimos tempos parece ter ganho a corrida pela titularidade a Gilberto na lateral direita. E acabou por ver o risco compensado com o golo de Rafa, aos 72’, em contra-ataque, um golo que o deixa seis pontos à frente do rival no topo da tabela e com mais três semanas para gerir até à interrupção para se jogar o Mundial. Após a expulsão de Eustáquio, o FC Porto ainda foi conseguindo equilibrar o jogo a espaços, mas nunca mais se mostrou a força dominante que tinha sido nos primeiros minutos. Ficou a ideia de que Conceição terá tardado um pouco a mexer, mantendo Taremi encostado à direita – onde era menos influente a atacar e sofria a defender – e Pepê muito atrás para poder verdadeiramente desequilibrar. O técnico portista corrigiu a primeira destas situações com a troca de Evanilson por Verón, cinco minutos antes do golo encarnado, mas já numa altura em que os donos da casa tinham dificuldades em manter viva a base do seu jogo, as recuperações de bola bem dentro do meio-campo adversário.
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