O futuro do Sporting
O empate em Barcelos mostrou um Rúben Amorim mais alterado que o habitual, quase numa gaguez fruto da torrente de palavras que queria deixar sair. Em causa, ali, estava o futuro imediato do Sporting.
A gravidade do empate cedido pelo Sporting em Barcelos, ontem, no jogo que os leões tinham em atraso na Liga, tirando pressão a SC Braga e FC Porto na luta pelos dois lugares disponíveis na Liga dos Campeões, pode muito bem ser atestada no comportamento de Rúben Amorim na flash-interview da Sport TV. O treinador leonino não deixou de recorrer aos “aaaahmmm” que são tão caraterísticos do seu discurso, mas estava tão irritado que se deixou cair numa quase gaguez, fruto de uma torrente de palavras que queriam sair com tanta avidez que para tal se atropelavam umas às outras. Agora a cinco pontos do SC Braga e a sete do FC Porto, o Sporting deixou Barcelos com menos esperança de chegar a um lugar de Champions e um pouco mais perto do cenário mais pessimista, que foi um dos antecipados na entrevista de segunda-feira pelo presidente Frederico Varandas e reiterado na terça pelo próprio Amorim: há um plano para 2023/24 com Champions e outro sem acesso aos milhões da UEFA, possivelmente com a venda de mais um jogador. Quando Amorim diz que a equipa está a jogar “para o futuro do Sporting”, di-lo sabendo que esse futuro ficou mais complicado com o 0-0 de ontem, num jogo em que a equipa mostrou uma série de defeitos pouco condizentes com a série de bons resultados (e exibições) que vinha alinhando. O Sporting de Barcelos não foi suficientemente mandão e impositivo no início da partida, aceitando em alguns momentos aquilo que o jogo tinha para lhe dar. Depois, sendo verdade que recuperavam a posse no meio-campo ofensivo com alguma frequência, porque o Gil Vicente quis sempre jogar quando tinha a bola – ainda que, depois de um primeiro momento de pressão na saída leonina, baixasse muito o bloco e o juntasse em frente à sua área quando a não tinha –, os leões não tiveram a perspicácia necessária a uma boa ligação, que lhes permitisse passar melhor das zonas de criação às de definição. E, sim, por muito que lê-lo custe aos ‘haters’, isso é o que assegura a presença de Paulinho: melhores decisões, melhor escolha de caminhos, melhor definição do momento do passe que deixa a equipa em vantagem no último terço. A verdade é que o Sporting não teve criação ao nível do volume de jogo e, depois, como se isso não fosse suficiente, também não teve finalização ao nível da criação: apesar de todas estas questões, das vezes que se deixou cair em fora-de-jogo (e duas delas custaram a anulação de dois golos), a equipa de Amorim acabou o jogo com um índice de golos esperados (xG) de 1,5. Quer isto dizer que devia ter marcado um ou dois golos. Não marcou nenhum. E no meio destas contradições complicou o futuro imediato pelo qual estava a jogar.
A ansiedade culé. Ontem houve clássico em Espanha, a contar para a segunda mão da meia-final da Taça do Rei. O FC Barcelona, que lidera a Liga com 12 pontos de avanço sobre o Real Madrid, entrava em campo, em sua casa, com o conforto de uma vitória por 1-0 no Santiago Bernabéu. E, depois de um início em que foi superior e podia até ter alargado esse avanço, viu o Real Madrid igualar a eliminatória em cima do intervalo, em lance de contra-ataque que se sucedeu a uma excelente defesa do esteio que é sempre Courtois. Não vi o jogo e posso até estar a ser injusto quando digo que aquele momento, numa equipa com estofo, seria só isso mesmo: um momento. Vinha aí a segunda parte, havia 95 mil adeptos nas bancadas e estava tudo empatado. Mas o que se viu, pelo menos no resumo, foi uma equipa ansiosa, incapaz de se controlar emocionalmente e de conter a ansiedade, apesar de ter em campo gente como os experientes Busquets ou Lewandowski. Quem vir o desfiar dos lances mais perigosos da segunda parte pode ser levado a pensar que era o Real Madrid quem jogava em casa ou quem levara para o relvado a confiança nascida de 12 pontos de avanço na Liga. A sucessão de contra-ataques em que os madridistas se viram em três para dois – às vezes até em quatro para dois... – no meio-campo ofensivo, a valerem um hat-trick a Benzema e o 0-4 final, mostrou uma realidade diferente daquela em que vivemos. Mostrou um FC Barcelona ansioso, nervoso e descontrolado, que não se explica só com a ausência de Pedri. E mostrou um Real Madrid capaz de entrar no antro do maior rival em desvantagem com a calma e a clareza das grandes equipas. A batalha pelo futuro do FC Barcelona é muito a de voltar a conseguir dominar estes momentos. A do Real Madrid é a de ser capaz de fazer isto também em tardes e noites de menor exigência, quando os jogos não dão tanta pica.
Mete gelo nisso. Os últimos acontecimentos no mercado de treinadores têm vindo a anunciar uma aceleração na busca de competência quase ao nível das corridas ao ouro que no início do século passado animaram as regiões mais remotas do planeta. A interpretação geral era a de que o Bayern se tinha antecipado no despedimento de Julian Nagelsmann para chegar antes de todos a Thomas Tuchel, a de que o Tottenham se separara já de Antonio Conte para poder escolher entre os disponíveis no mercado – Nagelsmann, Pochettino, Zidane, Luis Enrique... – e a de que o Chelsea se desfizera de Graham Potter, contratado em Setembro, para poder escolher antes dos Spurs, como sempre presos na avareza de Daniel Levy. Afinal, de Stamford Bridge, aquilo que veio foi gelo: o Chelsea deve anunciar hoje o regresso de Frank Lampard como interino até final da época. A justificação para este adiamento há-de ser a necessidade de ponderar bem, falar com todos os técnicos que possam interessar e casar a nomeação com o projeto e os jogadores disponíveis. Faz sentido. Ou faria, se em causa não estivesse um clube que faz sempre tudo de outra forma. E a questão fundamental aqui é a de se perceber se o Chelsea está a ganhar ou a perder tempo. É que já se percebeu que o próximo Verão vai ser de loucos no mercado de treinadores: além dos clubes citados, o Paris Saint-Germain vai substituir Christophe Galtier, o Real Madrid pode ver-se na iminência de ter de contratar alguém para o lugar de Carlo Ancelotti, caso este aceite ir comandar a seleção do Brasil, e o Inter deverá também querer alguém para o lugar ainda ocupado por Simone Inzaghi. E, das duas uma: ou Todd Boehly, o bilionário que meteu 600 milhões de euros esta época no mercado de jogadores, está tão confiante de que a ele ninguém lhe diz que não que não se importa de esperar até ao Verão ou então já ouviu recusas suficientes para meter gelo na busca.
Faltou alguém que metesse a bola lá para dentro. E esses jogadores que são fortes na finalização são os pontas de lanças. Claramente que falta mais um ponta de lança ao Sporting. Paulinho e Chermiti é curto