O futuro de Cristiano Ronaldo
Ronaldo quer jogar a 19ª Liga dos Campeões seguida e isso pode ser impossível na Juventus. PSG? Real Madrid? Manchester United? Sporting? Que clubes estão no horizonte e em que condições?
A Juventus corre sérios riscos de não se qualificar para a próxima edição da Liga dos Campeões e, além de isso ser uma novidade para os italianos, que viram a “Vecchia Signora” ganhar os últimos nove “scudetti” e, por isso, assegurar desde logo a presença na mais importante de todas as provas de clubes, é também um problema para Cristiano Ronaldo. Com contrato por mais um ano, Ronaldo pode ver-se na situação de não desejar cumpri-lo, porque é focado em marcas e recordes e vê na Champions um objetivo de vida. Não é líquido, contudo, que face à necessidade de reconstruir o plantel que o falhanço deste projeto europeu acarreta, o clube deseje continuar a pagar os cerca de 60 milhões de euros anuais que custa ter Ronaldo entre os seus. Esta parece ser, portanto, uma situação em que se juntam vontades. Só que tudo é muito mais complexo, transformando o caso num problema com várias soluções, nenhuma delas ideal.
A duas jornadas do fim da Série A, a Juventus segue em quinto lugar, posição que dá acesso à Liga Europa. Tem menos um ponto que o SSC Nápoles, menos três que Milan e Atalanta e menos 16 que o já inalcançável Inter. À Juventus não basta ganhar os seus dois jogos, amanhã em casa com o campeão Inter e no próximo fim-de-semana, na última jornada, no terreno do Bolonha FC. O campeão destronado precisa que quem está à sua frente perca pontos – o que vai inevitavelmente suceder, pois no último dia há um Atalanta-Milan – e mesmo assim pode ficar fora, porque tem desvantagem no confronto direto com as duas equipas do norte e na diferença de golos geral face aos napolitanos. Aquilo de que os comandados de Andrea Pirlo precisam, portanto, não é apenas que uma das equipas que estão à sua frente escorregue – é de um trambolhão descomunal. Ainda assim, um inesperado sucesso na luta pela presença na próxima Liga dos Campeões seria a forma mais simpática e fácil de resolver o problema de Ronaldo. Porque todas as outras são demasiado complexas.
Imaginemos que a Juventus acaba na quinta posição e é condenada a jogar a próxima Liga Europa, conduzindo à tal confluência de vontades que leve à saída do capitão da seleção portuguesa. A questão aí é: para onde? Admitamos até que, em nome da reorganização e de poupança salarial que isso lhes permitiria, os italianos abdicam do valor da transferência, o que não é fácil de engolir, uma vez que ainda há três anos pagaram 117 milhões de euros pelo português na tentativa de juntar ao puzzle a peça que lhes faltava para serem campões europeus. Mesmo assim, quem poderia contratar Ronaldo? Esqueçam os mercados chinês – o governo chinês deixou de bancar o futebol – ou norte-americano – o caso Mayorga inibirá o jogador de rumar à MLS, para evitar problemas com a justiça –, até porque tanto um como o outro não resolveriam a maior vontade de Ronaldo, que é jogar a Champions pela 19ª época seguida, todas desde que, pelo Sporting, ficou pela pré-eliminatória, frente ao Inter Milão, em Agosto de 2002.
Centremo-nos, portanto, na Europa. E aqui saltam para a mesa sempre as mesmas hipóteses: Real Madrid, Manchester United, Paris Saint-Germain e, surpreendentemente, até pelo que tem vindo a dizer a mãe do jogador, o Sporting. O PSG poderia ser uma hipótese atraente, porque se há coisa que ali não falta é dinheiro e liquidez – os bolsos do Qatar parecem não ter fundo. Porém, no futebol atual, não basta ter dinheiro e vontade de o gastar. Há também que demonstrar viabilidade, obedecendo a mecanismos como o Fair-Play Financeiro. E não há forma de ser viável tendo no grupo Mbappé (35 milhões/ano), Neymar (70 milhões/ano) e Ronaldo. Neste caso, tudo dependeria do que vai acontecer com a jovem estrela francesa, que acaba contrato em 2022, como Ronaldo, e parece tentado a sair a custo zero nessa altura, reclamando para si a parte de leão do investimento que alguém nele quiser fazer, em vez de dividir o bolo com o clube, através do preço da transferência, a pagar já neste verão. Se, num mercado que a pandemia afetou enormemente, conseguir vender Mbappé, evitando perdê-lo a custo zero daqui por um ano, o PSG terá condições para avançar para Ronaldo. Em caso contrário, tal será impossível.
Em Madrid, onde sonha com Mbappé mas não tem dinheiro para o pagar – o PSG deu 145 milhões por ele ao AS Mónaco, há três anos, e Florentino Pérez tem em mãos um clube tão falido como o seu parceiro de SuperLiga Andrea Agnelli – o Real já terá entendido que o único caminho possível é em frente, com lançamento de miúdos como Marvin, Gutiérrez, Rodrygo ou Vinicius, e não a olhar para os tempos de Sérgio Ramos ou Ronaldo. Em Manchester, é verdade, o regresso de Ronaldo seria uma boa forma para a família Glazer fazer as pazes com os adeptos, zangados com o dossier SuperLiga e sobretudo com o constante desinvestimento na equipa, se comparado com o crescimento dos gastos do City de Guardiola. De todos os pretendentes, o United é o único clube recorrentemente lucrativo e com capacidade para montar a operação. A questão é que não tem sido essa a atuação mais habitual dos donos americanos, sempre mais disponíveis para recolher dividendos – e com eles abater a dívida contraída para comprar o clube – do que para investir de forma a melhorar os resultados desportivos. Além de que, se rumasse agora a Manchester, dificilmente Ronaldo conseguiria cumprir o desejo que lhe atribuem de acabar no Sporting, que ninguém investe o que ele custa para o ter por uma época apenas. Mas a esse tema – Ronaldo e o Sporting – voltarei numa edição próxima do Último Passe.