O fim-de-semana mais importante
Entre sábado e domingo, vamos conhecer 17 dos 18 clubes da próxima Liga. E isso é fulcral. Porque depois de uma primeira descida, há mais equipas a cair ainda mais fundo do que a voltar ao topo.
Os próximos dois dias vão ser absolutamente definidores para seis equipas. Entre CD Tondela, Moreirense, Belenenses SAD, Rio Ave, Casa Pia e GD Chaves, quatro saberão até domingo se vão jogar na I ou na II Liga em 2022/23, sendo que outras duas terão ainda o “play-off” para perceberem se ficam no paraíso da visibilidade e das receitas que é o escalão superior ou se são condenados a um purgatório de que dificilmente há regresso, pelo menos imediato. Das 18 equipas que caíram na II Liga nos últimos dez anos, só três voltaram a subir de divisão no ano seguinte, sendo que outras três o conseguiram uns anos mais tarde. Das outras 12, nem sinal. Sendo que neste período houve mais gente a fechar portas e a cair até aos escalões de amadores do que a ressurgir no topo do edifício competitivo. Sinal de que temos de repensar bem a distribuição de receita para baixo e de que as ideias de redução dos campeonatos não são uma ideia assim tão pacífica.
Se o estudo for feito desde 2012, dez campeonatos portanto, foram 18 as equipas que caíram da I para a II Liga. Feirense (em 2012 e 2019), UD Leiria (em 2012), Moreirense, Beira Mar (em 2013), FC Paços de Ferreira (em 2014 e de novo em 2018), Olhanense (2014), Gil Vicente, FC Penafiel (2015), União da Madeira, Académica (2016), FC Arouca (2017), Nacional (em 2017, 2019 e 2021), Estoril (em 2018), GD Chaves (em 2019), Vitória FC, CD Aves (ambas em 2020), Rio Ave e Farense (em 2021). Destas 18 equipas, como já referi, só seis (um terço) conseguiu voltar ao topo. Três fizeram-no logo um ano após a queda, como pode suceder esta época ao Rio Ave: o Moreirense em 2014, o FC Paços de Ferreira em 2019 e o Nacional em 2018 e 2020. Outras três levaram alguns anos para se reequilibrarem, mas conseguiram ainda assim voltar, como pode acontecer este ano com o GD Chaves, que anda a amargar há três anos. Foi o caso do Feirense, que voltou em 2016, quatro anos depois de ter caído, do FC Arouca, que subiu em 2021, também quatro anos depois de ter caído, e do Estoril que regressou em 2021, três épocas depois de ter descido. O FC Arouca chegou, até, a passar pelo terceiro escalão, como que a ilustrar a dificuldade que é reconverter uma equipa – que até chegou a andar nas provas da UEFA – ao nível da II Liga.
É pelo menos curioso, também, que das 18 equipas que desceram de divisão nos últimos dez anos, seis tenham participado nas competições europeias num raio de cinco anos anteriores à despromoção. Aconteceu com a UD Leiria, a Académica, o FC Arouca, o Nacional, o Estoril e o Rio Ave. E outra – o CD Aves – tê-lo-ia feito também, porque se apurou, ainda que depois não as tenha jogado porque não tinha concluído a preceito o seu processo de licenciamento. Muito se diz que uma equipa que surpreende num ano e se apura para a Europa – como está a acontecer neste ano com o Gil Vicente – é grande candidata a descer no ano seguinte, por excesso de esforço no início de temporada, mas quero crer que o maior problema que estas equipas enfrentam não é físico ou de treino, mas sim de reconversão de plantel e erros de cálculo entre receitas e gastos. É que entre estas mesmas 18 equipas que desceram da I Liga na última década, das quais, recordemos, seis conseguiram voltar ao topo, houve dois casos de extinção (CD Aves e União da Madeira), um de queda nos distritais (Beira Mar), quatro passagens pelo Campeonato de Portugal (UD Leiria, Vitória FC, Olhanense e FC Arouca) e um de queda à Liga 3 (Académica). São, portanto, mais os que continuaram a cair do que os que conseguiram recuperar.
O que isto nos diz é que há uma diferença muito difícil de superar entre jogar a I e a II Liga. Há uma diferença, à partida, na visibilidade que é dada aos jogadores, algo de fundamental para quem faz da hipotética mais-valia realizada em transferências uma das melhores formas de equilibrar orçamentos. Há diferença depois, e fundamentalmente, nas receitas televisivas, mesmo sabendo-se que a distribuição do dinheiro da TV no topo é claramente desfavorável a qualquer clube que não seja um dos grandes. Mesmo assim, é ainda mais desfavorável a quem não tem sequer a certeza de poder vir a ter dois ou três jogos de perfil elevado por ano para vender, como sucede a quem disputa uma II Liga. Há diferença, depois, nas receitas de bilheteira, sobretudo tendo em conta que à exceção dos jogos com os grandes são raras as ocasiões em que estes clubes conseguem meter mais de mil pessoas nos seus estádios. Sete das 18 equipas da atual I Liga estão neste momento abaixo dos dois mil espectadores por jogo em casa, mesmo contando nesta média as receções aos grandes, que a desvirtuam. Só seis dessas mesmas 18 equipas superam os cinco mil (os três grandes, o Vitória SC, o SC Braga e o Boavista). Na II Liga há dez equipas abaixo das mil pessoas por jogo em casa – entre elas o Casa Pia, que luta pela subida – e só duas (Farense e Estrela da Amadora) acima dos dois mil. E é inevitável que isto nos leve a colocar duas ou três questões.
A primeira, de princípio, é: que atividade de entretenimento de elite pode sobreviver com o nível de despesa que tem o futebol se não há quem queira vê-la? A resposta é fácil: nenhuma! A segunda questão, de viabilização, é: o que pode ser feito para mudar isto? Mudar horários? Mudar preços de bilhetes? Tornar os espetáculos mais atrativos com outro tipo de ações a eles associadas? Comunicar melhor, de forma a angariar clientes em vez de os afastar cada vez mais com as narrativas da suspeição que se destinam a fazer passar a imagem de que a culpa do fracasso é sempre alheia? Tudo isso é caminho por desbravar. A terceira, quando respondermos às outras duas – e se não tivermos desistido logo à primeira – é: como tornar este edifício viável. Aqui, a questão começa por ser de distribuição. Devemos encontrar mecanismos para fazer fluir a receita do topo à base do edifício. Mas é fundamentalmente de escala. Porque sou sensível à ideia de que a I Liga tem de ser mais reduzida, da forma a ser mais competitiva e interessante, mas a verdade é que quanto menos equipas houver no escalão principal, menos conseguirão viabilizar a sua atividade e manter a trabalhar os profissionais que empregam. Podemos até concluir que um país como Portugal não tem gosto por futebol – não é dimensão, é gosto por futebol, mesmo – para manter tantas equipas profissionais. Mas só quando admitirmos essa derrota e formos ao quadro escrever 50 vezes “Os portugueses não gostam de futebol” é que admitirei as teses de redução da I Liga para dez ou 12 equipas.
Bom dia Sr Antonio Tadeia, concordando com tudo o que escreveu realço apenas que poderia haver bastantes medidas simples a ser implementadas que melhoriam o nosso futebol "por baixo " por exemplo: n° minimo de assistência nos estádios por exemplo 3000 espetadores, logo aí existiria uma filtragem que eliminaria clubes que não tem qualquer base de crescimento, acabar com os jogos à sexta e à segunda (vejo muitas vezes o portimonense a jogar à sexta quem quiser ir ver o jogo como visitante tem de perder um dia de trabalho ), preços mais baixos dos bilhetes (agora vejo clubes todas as semanas a abrir as portas ao estádio porque precisam de apoio e ao longo da epoca toda?)
Estas simples medidas ajudariam logo de imediato a nossa liga a ganhar mais "vida" pois o futebol é para os adeptos e não para as televisões (é lamentável como o b sad joga à 4 anos na primeira liga a meter 100 pessoas no estádio ), quem quer comprar um produto destes?
Um abraço!
Concordo plenamente com o caminho que aponta . No entanto , temos de ressalvar que muitos dirigentes não estão minimamente preparados para dirigir os clubes quando descem ou quando sobem . O que acontece é que existe uma cultura de resultado , sendo certo que não se prepara/acautela o futuro com uma linha condutora e “sustentável” (sustentável entre “ porque sabemos bem que o nosso futebol não é auto suficiente) . Por isso é que quando tem competições europeias ou descem não estão minimamente preparados para lidar com as responsabilidades. Por último , temos de promover melhor o nosso futebol … chamar a Malta aos estádios … criar parcerias com diversas entidades para encher o estádio , o Belenenses há uns anos fazia isso muito bem , com bilhetes oferecidos por entidades comerciais e coisas do género . Mais vale oferecer bilhetes e tentar fidelizar adeptos do que ter um estádio as moscas , mas mais uma vez os dirigentes “adormecem” . Os dirigentes salvo raras excepções são o cancro do nosso futebol .