António Tadeia

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O FC Porto mete as torres
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O FC Porto mete as torres

Foi natural a vitória dos dragões sobre o CD Tondela, na Supertaça, em jogo no qual Sérgio Conceição mudou, mantendo tudo na mesma. Manteve o sistema, mas as torres na frente deram presença na área.

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jul 31, 2022
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O FC Porto mete as torres
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Depois do campeonato e da Taça de Portugal, o FC Porto ganhou o terceiro troféu consecutivo, a Supertaça de 2022/23 (Foto: Facebook FC Porto)

O FC Porto conquistou o primeiro troféu da época de 2022/23, a Supertaça, batendo de forma inequívoca, por 3-0, o CD Tondela, equipa que esteve na final da Taça de Portugal mas antes disso tinha já descido para a II Liga. Já se sabia que os argumentos de um lado e do outro eram muito diferentes, sendo a superioridade portista não só esperada como demonstrada desde muito cedo, através da construção de um onze que respondia à previsível concentração de unidades amarelas perto da baliza de Niasse com o reforço da presença azul na área contrária, fruto da acumulação de homens com caraterísticas de pontas-de-lança – Taremi, Evanilson e a surpresa Loader. Com dois golos e uma assistência para Evanilson, o iraniano foi o homem do jogo, mostrando como pode ser decisivo sempre que tem gente por perto, para poder combinar e explorar a sua inteligência.

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Olhando para o onze inicial, poderia pensar-se que o FC Porto ia mudar de sistema em relação ao que mostrara frente ao AS Mónaco, mas não. A base foi a mesma, as caraterísticas dos jogadores escolhidos é que fazem essa base cair mais para o 4x4x2 losango ou um 4x3x3 que explora muito a presença dos três atacantes no espaço interior. Contra o AS Mónaco quem se colocou atrás de Taremi e Evanilson foi Pepê, mais médio do que avançado, vindo mesmo com frequência buscar jogo em início de construção e aproximando a equipa do 4x4x2 com o meio-campo em losango. Ontem, contra o CD Tondela, quem por ali apareceu foi o inglês Danny Loader, promovido da equipa B, jogador que tem rotinas de atacante e que, por isso mesmo surgiu mais em zonas de finalização do que de criação. “Desmontámos o CD Tondela, percebendo que viria num bloco baixo, ou médio-baixo e que nos caberia ter as despesas do jogo”, afirmou no final Sérgio Conceição, o treinador do FC Porto. Não especificou como, mas parece evidente que uma das formas foi a tal acumulação de homens de área, empurrando o bloco beirão ainda mais para trás.

Tozé Marreco, o novo treinador do CD Tondela, montou a equipa em 5x4x1, com três defesas centrais, dois laterais, um duplo pivot de meio-campo e dois alas a quem caberia dar saída em momentos de transição ofensiva. Só que, face aos três atacantes do FC Porto, das duas uma: ou os deixava em situações de três para três com os centrais, ou via-se muitas vezes obrigado a baixar os dois médios, Pedro Augusto e Undabarrena, de forma a precaver a eventualidade de necessitar de coberturas defensivas no corredor central. O resultado foi um CD Tondela a mostrar desde cedo que muito dificilmente poderia contrariar o histórico de equipas de escalões secundários na Supertaça – tanto o Leixões como o Beira Mar perderam a decisão, contra o Sporting e o FC Porto. As ocasiões de finalização foram-se acumulando na baliza de Niasse, enquanto que do outro lado Marchesín era praticamente um espectador, pois o jogo raramente lá chegava. De acordo com os dados da GoalPoint , foram 21 remates do FC Porto, onze dos quais enquadrados, contra apenas cinco – três enquadrados – do CD Tondela. E a diferença de rendimento ofensivo das duas equipas atenuou-se na segunda parte, para a qual o FC Porto já foi a ganhar por 2-0, diminuindo naturalmente a intensidade do seu jogo.

O início, contudo, foi de clara superioridade portista. Loader, de cabeça, após canto de Zaidu, permitiu a Niasse uma boa defesa, logo aos 6’, e aos 10’ foi a vez de um toque de Taremi ter deixado Evanilson na cara do guarda-redes, sendo este veloz a sair-lhe aos pés e a desfazer a ocasião. E esta situação voltou a repetir-se, com os mesmos intervenientes e o mesmo desfecho, aos 24’. Aos 29’, em mais um canto de Zaidu – uma surpresa, vê-lo a bater as bolas paradas – foi Pepe a deixar para um volei de Loader, obrigando Niasse à defesa da noite. Não aparecia o golo, mas veio logo a seguir, aos 30’, em canto batido agora do lado esquerdo, por João Mário. Evanilson ganhou no ar e Taremi surgiu ao segundo poste, solto de marcação a fazer o 1-0. Desbloqueado o resultado, o FC Porto não esperou muito para resolver o jogo. Três minutos depois, Taremi passou entre dois centrais do CD Tondela com a bola controlada e, à saída de Niasse, desviou-a do guarda-redes. O remate foi ao poste, mas Evanilson estava lá para faturar na recarga, beneficiando da lentidão de reação de Khacef, que o viu passar à sua frente como um foguete.

Na segunda parte, naturalmente, o FC Porto veio menos intenso até na pressão, mas o CD Tondela também melhorou. “Até aos 25 minutos, conseguimos colocar a nossa estratégia em prática, mas faltou-nos a transição”, explicou no final Tozé Marreco. A questão é que faltava um jogador fundamental para isso – Rafael Barbosa, que só entrou ao intervalo, para o lugar de Khacef, permitindo que Bebeto baixasse para a sua verdadeira posição, defesa lateral. É certo que não é possível agora saber se isso resultaria com o FC Porto mais pressionante que se viu enquanto o jogo esteve empatado, mas a verdade é que, com os dragões a gerir o ritmo e a vantagem, o CD Tondela passou a conseguir dividir mais o jogo. Ainda assim, a primeira boa situação para marcar dos segundos 45 minutos pertenceu a Loader, que aos 49’ chutou ao lado depois de solicitação de Pepê. Prevendo que o adversário se adiantasse e povoasse menos a zona mais recuada, a 20 minutos do fim Conceição trocou Grujic pelo mais circulante Eustáquio e Loader por Galeno, mais veloz e atento à largura.

Das alterações veio a passagem de Taremi para a posição de atacante mais recuado, o que acabou por ser decisivo. O jogo foi ficando no impasse dos 2-0 até ao momento em que Tozé Marreco arriscou e desfez o seu 5x4x1. A dez minutos do final, trocou um defesa-central, Jota, por um extremo, Lacava. Barbosa baixou para médio interior, dando à equipa argumentos mais válidos tanto em transição ofensiva como em ataque organizado, caso se colocasse essa hipótese, mas quando deixou de ter a concentração de três mais dois no corredor central, o CD Tondela vulnerabilizou-se. Taremi levou apenas três minutos a encontrar o espaço entre os dois centrais – Marcelo Alves e Manu Hernando – e o médio defensivo único que ficara em campo – Undabarrena – para acelerar o jogo e disparar para o 3-0. Estava definitivamente resolvido um jogo onde desde cedo se percebeu quem era melhor, mas onde se viu mais uma vez a arte camaleónica do FC Porto mudar e um CD Tondela que em determinadas alturas soube ser positivo.

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Arbitragem – Esteve globalmente bem Manuel Mota, apenas me parecendo algo ingénuo na segunda parte, quando os jogadores do CD Tondela decidiram começar a tentar ganhar falta sobre falta a meio-campo, de forma a levar o jogo para perto da área de Marchesín. Parece haver nos árbitros a tendência para apitarem menos esta época, o que é bom, porque pode gerar menos interrupções e mais tempo útil de jogo. Mota decidiu bem no momento em que o VAR o chamou, aparentemente a pedir a mudança na cor do cartão a Khacef quando este derrubou João Mário, aos 36’ e viu amarelo. O lance até podia ter magoado João Mário, que ficou com o pé preso quando sofreu o impacto do joelho do argelino, mas é uma situação fortuita: Khacef corta a bola de carrinho com o pé direito e é com o joelho esquerdo, que vem atrás, dobrado, que derruba o lateral portista. De resto, bem Manuel Mota e o VAR quando ignoraram pedidos de penalti por mão de Taremi, aos 41’, – há um ressalto próximo e a mão está em posição natural – e por derrube de Khacef sobre Loader, aos 42’ – o lateral do CD Tondela ganha a posição e protege a bola, sendo a colisão natural.

Aqui estão as estatísticas do jogo, da GoalPoint

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