O elefante na sala
Há duas maneiras de olhar para o sucesso do Manchester City na Premier League. Uma foca-se na excelência que Pep Guardiola conferiu à equipa. Outra nas 115 alegadas violações das regras financeiras.
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Já passaram quatro meses sobre a tarde de Maio em que o Manchester City conquistou um inédito quarto título de campeão consecutivo e que o seu líder, o catalão Pep Guardiola, se juntou a Bob Paisley, George Ramsay e ao inatingível Alex Ferguson no clube dos treinadores que ganharam pelo menos seis Ligas em Inglaterra. Esta é uma história de excelência, portanto. O Manchester City foi campeão nas últimas quatro temporadas, reinventando-se constantemente, como lhe é exigido pelo seu “arquiteto”, mas não se ficou por aí: venceu seis dos oito campeonatos que disputou sob o comando do atual treinador. Só que esta é também a história de uma mancha. Porque por mais razão que tenha Guardiola – e tem-na... – quando chama a atenção para o facto de tanto o Manchester United como o Chelsea e até o Arsenal terem nos últimos anos gasto tanto como o Manchester City na compra de talento, cinco dos seis títulos ganhos sob a sua orientação foram conquistados já depois da divulgação, por parte do Der Spiegel, de uma série de mails comprometedores, levando à abertura da investigação da qual saiu a acusação de 115 violações das regras financeiras impostas pela Premier League aos seus clubes. O campeonato de 2023/24, ganho com uma segunda parte de temporada avassaladora, na qual a equipa venceu 19 dos últimos 23 jogos, empatando os outros quatro – incluindo um 0-0 com o Arsenal, no domingo de Páscoa, que acabou por ser decisivo – não deixará nunca de ser visto como aquele que o City conquistou enquanto esperava pelo início do julgamento. E esse é o elefante na sala.