O campeão anti-Maradona
O SSC Nápoles de Spalletti arrasou a Série A e deixou os adeptos nostálgicos dos tempos de Maradona. Mas este foi um scudetto anti-maradoniano, porque foi sobretudo coletivo.
Os italianos sempre gostaram de craques e se há coisa que os apoquenta neste momento no futebol é que as estrelas de nível verdadeiramente global andem cada vez mais longe da Serie A, que há 20, 30 anos era onde se concentravam. Ora isso não quer dizer que o campeonato de Itália esteja a perder qualidades – e Paulo Sousa, o treinador português da Salernitana, explica-o muito bem na entrevista que me deu e que pode ler no final deste texto. Não foi só a presença de três equipas italianas nas finais europeias desta época a gritar ‘renascimento’: o futebol em Itália está mais atrativo, mais ofensivo, e exibe uma competitividade em altas. No ano em que surpreendeu toda a gente, conquistando um scudetto que a efervescente cidade já não celebrava desde os tempos de Diego Maradona, o SSC Nápoles converteu-se no quarto campeão diferente em quatro anos, sucedendo à Juventus de 2020, ao Inter de 2021 e ao Milan de 2022. Mas ao contrário do que sucedera em 1987 e 1990, o terceiro título dos napolitanos veio consagrar uma equipa eminentemente coletiva, cujas maiores valências não são fáceis de decretar. Há outra coisa de que os italianos também gostam – de siglas. Se o SSC Nápoles de 1987 era a Ma-Gi-Ca (Maradona-Giordano-Carnevale) e o de 1990 a Ma-Ca-Ca (Maradona-Careca-Carnevale). O de 2023 não pode ser transposto para uma sigla que não se assemelhe mais a uma palavra em polaco ou gaélico, tão comprida ela se revelaria e tantas consoantes teria de ter para fazer justiça a toda a gente.