O campeão anómalo
O Maccabi Tel-Aviv está a especializar-se em anos esquisitos. Já não era campeão de Israel desde a época do Covid, voltou a sê-lo na temporada marcada pela guerra ao Hamas.
Palavras: 3446. Tempo de leitura: 17 minutos (áudio no meu Telegram)
Campeão no ano do Covid, em 2020, o Maccabi Tel-Aviv precisou de mais uma época anómala para se sobrepor ao Maccabi Haifa, que debaixo das ordens de Barak Bachar tinha assegurado a hegemonia no futebol israelita e garantira um tricampeonato difícil de superar, de 2021 a 2023. Desta vez, com Bachar fora – saíra para o Estrela Vermelha no Verão mas já voltou para a nova época – foi a guerra ao Hamas a provocar dois meses de interrupção no campeonato, de início de Outubro a início de Dezembro, bem como a forçar a realização de algumas rondas à porta fechada e a debandada de regresso a casa de muitos dos estrangeiros contratados pelas equipas israelitas. No final, após duas clamorosas quebras de rendimento, que pareciam indicar que, mesmo sem o timoneiro, os verdes de Haifa ainda podiam sonhar com um quarto título seguido, os amarelos de Tel-Aviv garantiram o campeonato onde tinham de o fazer: em Haifa, no jogo em que obtiveram a única vitória da temporada em quatro jogos contra os rivais. Um golo do veterano Eron Zahavi, de penalti, valeu um 1-0 que, a três jornadas do fim do play-off, deixava a questão pendente de apenas mais um ponto. O 3-0 ao Hapoel Beer Sheva, na ronda seguinte, em partida na qual o luso-israelita Miguel Vítor foi expulso aos... 14 segundos, carimbou o sucesso numa época diferente do habitual. “Ganhei uma década de experiência num ano”, desabafou no final Robbie Keane, o técnico irlandês que contagiou a equipa com a paixão que mostrou ao manter-se em funções mesmo depois do início da guerra e de a família ter voltado a casa, bem longe dali. “Vivo longe da família desde os 14 anos”, desvalorizou, sem ligar às críticas que lhe chegavam da Irlanda, primeiro por ter assinado por um clube israelita e, depois, por ter decidido lá continuar.