Não é o que se corre. É como se corre
O Benfica correu mais do que o SC Braga no jogo em que sofreu a primeira derrota na Liga. Mas correu pior. A vitória dos minhotos assentou na superioridade posicional da sua interpretação do 4x3x3.
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Um olhar superficial poderia considerar que o Benfica perdeu com o SC Braga, por claros 3-0, em partida da 14ª jornada da Liga, por ter sido mais fraco nos duelos ou por ter corrido menos do que o adversário, porventura convencido da superioridade que o avanço gigantesco que trouxe do pré-Mundial parecia garantir-lhe. É uma hipótese. O único problema é que não é a correta. As estatísticas do jogo apresentadas pelo SofaScore mostram que a superioridade dos minhotos nos duelos foi muito ligeira (47-46) e sobretudo conseguida na segunda parte, quando o Benfica até deu sinais de reação. E os dados oficiais, revelados pela Sport TV logo após a partida, demonstram que, nos 90 minutos, os jogadores do Benfica correram mais 2,4 quilómetros do que os do SC Braga (123,2kms contra 120,8kms). A vitória bracarense, justa, assentou numa superioridade que teve, outrossim, muito de posicional e que nasceu numa abordagem tática diferenciada promovida por Artur Jorge, na troca do seu habitual 4x4x2 por um 4x3x3 que dava mais conforto à equipa no meio-jogo. E a superioridade encontrou ainda abrigo numa série de abordagens individuais desastradas por parte de jogadores do Benfica. Tão desastradas que nem pareciam próprias de um líder.
No final do jogo, Roger Schmidt falou nos duelos – e isso foi destacado por quem não quis ir mais além ou perceber que não ia ser o treinador encarnado a dizer frente às câmeras que a exibição de Bah, por exemplo, ficou muito aquém do exigível, o mesmo sucedendo com o jogo feito por Enzo Fernández, Florentino, João Mário, Aursnes ou Gonçalo Ramos. “Não fomos compactos, não fomos agressivos e perdemos muitos duelos”, referiu o alemão, que antes já tinha sublinhado que “muitos jogadores” não estiveram “ao seu nível”. O segundo golo do SC Braga, aos 32’, é exemplo paradigmático das duas facetas em que se suportou a vitória da equipa de Artur Jorge: superioridade posicional própria e erros em catadupa dos adversários. Já vamos ver essas duas coisas nas três imagens que preparei para vós e que surgem mais abaixo, duas em aberto e uma (tal como todas as outras) apenas para subscritores Premium. Mas vejamos primeiro o contexto. O primeiro golo, feito por Abel Ruiz logo a abrir, já tinha condicionado o jogo, porque criava a dúvida nas águias – ainda que não tenha levado os guerreiros a baixarem o bloco, pois uma das bases da sua superioridade era a capacidade para, defensivamente, pressionarem alto e meterem sempre gente entre as linhas benfiquistas, cortando a ligação entre os dois centrais e os dois médios em que a equipa de Schmidt baseia sempre o início de construção. Até pode ter parecido a Roger Schmidt que os seus jogadores “estavam todos longe uns dos outros”, como ele disse, mas a verdade é que o que havia era sempre gente do SC Braga a apartá-los.