Jogar nos intervalos
O Benfica foi enorme na Liga dos Campeões enquanto Schmidt conseguiu tirar muito do núcleo duro. Mas, com aqueles em quem mais confia em baixo, nesta eliminatória, só jogou quando o Inter deixou.

O Benfica saiu de Milão com um empate a três bolas que vem atenuar um pouco a eliminação da Liga dos Campeões e permite mesmo as manchetes que já vimos hoje, em torno da “alma”, da “honra” e tudo o mais, mas cujo efeito principal foi mesmo o de impedir a série de quatro derrotas seguidas que chegou a desenhar-se aos 3-1 e permitir o toque a reunir para os jogos que faltam nesta temporada, que ainda tem tudo para ser de reconquista nacional. Se houve lições a tirar do jogo de Milão a primeira foi a de que o Benfica jogou, sim, mas fê-lo sobretudo no intervalo dos golos do Inter, quando o Inter permitiu. O Benfica melhorou com as trocas que a dada altura Roger Schmidt fez? Sim. Mas estas coincidiram com aquele que foi o fator mais decisivo nessa melhoria: os golos do Inter. O Inter tinha de marcar para pôr a eliminatória a salvo e marcou. Fez o que lhe competia. Depois o Benfica jogou, marcou o golo do empate e até chegou a fazer pairar a incerteza sobre o desfecho da eliminatória no início da segunda parte, porque ainda faltava muito tempo e Roger Schmidt lá aceitou que precisava mesmo de Neres, o principal desequilibrador do seu grupo. Se fizesse golo ali, quem sabe... Para chamar Neres, no entanto, o treinador alemão voltou a mostrar aquele que, a todos os níveis, já deu para perceber que é um dos seus defeitos: vai até ao fim do Mundo com alguns jogadores, mas não vai ao quiosque comprar pastilhas com outros. Para entrar Neres saiu Gilberto, um daqueles em quem o treinador não confia nem sequer para ir pôr o lixo ao contentor. Aursnes foi para lateral-direito, nem atacou mal por aquele flanco, mas foi tão mau a defender por ali, ele que até é um médio defensivamente rigoroso, que a ideia que ficou foi a de que nem nos treinos tinha sido testado naquela posição. Aursnes, já se vê, é um dos jogadores que Schmidt coloca acima da águia no seu apreço. Tem tanta confiança nele que o facto pode acabar por se voltar contra o norueguês, constrangido a ter de fazer o que não consegue, mas de que o treinador o julga capaz. Chegou como médio-centro, arrancou como avançado-esquerdo para pressionar e travar Hakimi em Paris, adaptou-se à posição em andamento, já foi duplo de Rafa, nas costas do ponta-de-lança, e ontem estreou-se como defesa-lateral. A falta de rotinas para a posição ficou à vista na forma como se deixou bater por Di Marco no lance do 2-1, de Lautaro Martínez. E não esteve ainda isento de culpas – que são mais de Otamendi, porém... – no 3-1, marcado por Correa. Ponto final na história. Estes dois golos em 12 minutos acabaram com a eliminatória e lançaram as bases para que voltasse a ser o Benfica a jogar. Lá entraram Musa, João Neves e Schjelderup e o Benfica melhorou. São soluções? Já deviam sê-lo há mais tempo – isso nem se discute e essa é a lição a tirar daqui pelo treinador. Mas ver nas entradas destes jogadores a razão para a recuperação da equipa até ao 3-3 final é mais ou menos como acreditar que o remate de Neres ao poste neste período se ficou a dever a um grande trabalho de pressão do brasileiro e não a uma desconcentração de Brozovic, que lhe colocou a bola de saída à frente, de tão entretido que já estava a pensar nos jogos que aí vêm. Este Benfica foi enorme na fase de grupos da Liga dos Campeões, enquanto Schmidt pôde tirar o que queria do núcleo duro. Mas, por mais que vos tentem convencer do contrário, não chegou a discutir verdadeiramente a eliminatória com o Inter, porque nela só jogou naqueles momentos em que o adversário lho permitiu. Que foi no intervalo dos seus golos.
Haaland e a desorientação em Munique. Já não há palavras acerca do que Erling Haaland fez à equipa do Manchester City. São 48 golos em 41 jogos, a manter os comandados de Guardiola em linha para o que pode ser uma tripla histórica, entre Premier League, FA Cup e Champions. A ponto de ainda hoje, acerca da performance do avançado norueguês, o Telegraph dizer que ele é “quase humano”. Tudo porque antes de fazer o golo que acabou também com a disputa entre City e Bayern, ele tinha mandado um penalti para os céus da Baviera, cumprindo o sonho de qualquer robot, que é o de ceder às emoções e errar como os humanos. O penalti foi sci-fi do melhor nível... O City vai agora discutir uma vaga na final de Istambul com o Real Madrid, deixando pelo caminho mais um projeto do Bayern, muito devido à desorientação de quem manda no colosso germânico, que agora tem de se agarrar à possibilidade (tremida, por sinal) de ganhar a 11ª Bundesliga consecutiva. Há muitas maneiras de chegar ao sucesso, até pode ser possível despachando Lewandowski, que ainda por cima já estará longe do pináculo, até pode ser possível não contratando Haaland, porque o desejo do jogador aparentemente era mesmo ir para Manchester, mas dificilmente é possível com inversões de marcha tão perto do fim do caminho e com tiros nos pés como o que foi ontem dado por Oliver Kahn, o diretor executivo do clube bávaro. Aquilo a que em Portugal se chama a teimosia de Rúben Amorim, mas que se entende devido às lacunas do projeto do Sporting – nomeadamente uma, que é o dinheiro... – na Alemanha, no Bayern, só pode ser visto como incompetência. É que a Kahn não bastou passar o Verão todo a dizer que o Bayern ia melhorar sem um ponta-de-lança, que não queria Kane nem Ronaldo. Isso, lá está, é defensável. Como é defensável que, correndo a coisa mal, se repense a estratégia e se corrija o erro. O que já não é defensável é que, tendo o Bayern jogado ontem com Choupo-Mouting na frente, e dependendo também dele para manter os dois pontos que tem de avanço na Bundesliga, Kahn tenha dito no final do desafio que em campo “esteve um ponta-de-lança”, acrescentando depois que “infelizmente não era da nossa equipa”. Isto é suicídio. De Kahn como dirigente, seguramente. Do Bayern? Depois se verá.
O destino do Sporting. O Sporting vê-se de repente como último representante português na UEFA, mas com uma tarefa colossal pela frente. Tem de ganhar à Juventus para assegurar ao menos um prolongamento. Tem de vencer por dois golos para evitar os penaltis que já lhe deram a alegria do apuramento contra o Arsenal em Londres. Não é impossível, como se viu no jogo de Turim, que os leões só não ganharam porque foram incompetentes a finalizar. Mas é muito difícil, porque ao contrário do que aconteceu na eliminatória anterior, do outro lado está um grupo de jogadores habituado a ganhar. Um plantel que não vacila e que se perder será sempre por falta de qualidade e nunca por falta de comparência. São jogos como este que mais podem fazer pelo crescimento da equipa de Rúben Amorim, jogos de tudo-ou-nada como os que Alvalade já viu contra o Borussia Dortmund, na época passada (com sucesso) ou contra o Eintracht Frankfurt, nesta temporada (com fracasso). É aqui que, a médio prazo, se decide o destino deste projeto do Sporting.
Mais uma vez fico com a impressão, que este treinador alemão é pior que Ronald Coeman.
Mexe muito mal no onze e não está a valorizar jogadores.
Para mim nem sequer sentiu ainda a cadeira em que está sentado, ao falar que esta equipa, não tem jogadores de milhões e não pode competir com as outras de outra valia.
Ou alguem lhe abre os olhos rápido, ou que adivinham-se nuvens negras até 2026