Já podemos fazer contas
A duas jornadas do fim da fase de grupos, já é possível desenhar cenários e ver que dificilmente a aventura ficará por aqui. É fazer as contas.
Portugal teve uma série de vantagens em ficar colocado no chamado “grupo da morte”, com França, Alemanha e Hungria. A primeira é que, se se qualificar, assegura que não volta a jogar com nenhuma destas equipas a não ser, eventualmente, nas meias-finais. A segunda é que, tendo já ganho à Hungria por 3-0, dificilmente será pior que terceiro classificado e, tal como as coisas estão, teria provavelmente de perder largo nos dois jogos que lhe faltam para ser um dos piores terceiros (só dois dos seis ficam pelo caminho). Por fim, sendo o grupo o F, isto é, o último a entrar em jogo a cada jornada, a seleção nacional saberá exatamente aquilo de que precisa quando começar o seu jogo com a França, com o qual concluirá a fase de grupos, na próxima quarta-feira, de regresso a Budapeste. A partida de Amanhã, contra a Alemanha, em Munique, servirá muito para limitar estas opções.
Imaginemos que, correndo mal os próximos dois jogos, Portugal empata um e perde o outro, mas por menos de três golos. Nesse caso, a equipa de Fernando Santos seria, quanto muito, terceira do grupo, com quatro pontos e saldo positivo entre tentos marcados e sofridos e só teria de esperar que houvesse pelo menos dois terceiros em piores condições. E, digo-o já aqui à confiança, não aritmética mas saída do bom-senso: haverá. Mesmo tendo-se jogado apenas metade das partidas da segunda jornada – a fase de grupos está exatamente a meio – já pode dizer-se que isso só não sucederia se, no Grupo A, a Suíça ganhasse à Turquia por mais de três golos, e se, no Grupo B, a Finlândia ganhasse à Bélgica e a Rússia batesse a Dinamarca em Copenhaga. No Grupo C, Ucrânia e Áustria podem jogar para o empate, que os deixaria a ambos com quatro pontos e saldo nulo – e isso deve também ser suficiente para seguir em prova. E ainda falta entrar em linha de conta com os resultados das segundas jornadas dos grupos D e E.
Aliás, tal como estão as coisas – mas ainda é cedo para ser tão otimista – até duas derrotas pela margem mínima podem chegar a Portugal para ser um dos quatro melhores terceiros. Só que aí entra a terceira parte da equação inicial – a “escolha” do adversário. Ser terceiro no Grupo F pode deixar Portugal – ou qualquer das outras equipas – a jogar ou com a Bélgica em Sevilha ou com os Países Baixos em Budapeste. Haverá melhores opções? Creio que sim. O segundo lugar pode valer uma viagem a Wembley para jogar com a Inglaterra ou a República Checa – não creio que a Croácia ou a Escócia recuperem a ponto de poderem ganhar o Grupo D. E a vitória no grupo, que passaria por ganhar os dois jogos que faltam – ou pelo menos por ganhar um e empatar o outro, presumindo que a equipa que empatasse connosco não bateria a Hungria por mais de três golos – daria para viajar até Bucareste e ali defrontar Suíça, Turquia, Rússia, Finlândia, Dinamarca, Áustria ou Ucrânia. Tudo são melhores opções do que ter de enfrentar a poderosa Bélgica, provavelmente com a Itália a equipa que mais sombra pode fazer à França no presente contexto europeu.
É claro que Fernando Santos e os seus jogadores não vão entrar amanhã em campo a pensar nestas contas – nenhum treinador nem nenhum jogador do Mundo entra num jogo a pensar no seguinte, quanto mais naquele que vem depois do seguinte. De qualquer modo, aquilo que estas contas nos dão a todos é algum conforto, ao mesmo tempo que enaltecem a importância daqueles 33 passes que resultaram no terceiro golo à Hungria, já nos descontos do jogo de estreia. Esse golo foi muito importante pelo show – ainda que seja naturalmente preciso contextualizar a coisa, lembrar que Portugal já estava a jogar distendido, que a Hungria acabara de levar dois socos no estômago e que o jogo tinha acabado de se resolver – e pela confiança que pode dar à equipa nas suas capacidades de jogo coletivo, mas acima de tudo pela almofada de conforto que traz em termos de contas para a qualificação. E se há o risco de esta falta de pressão resvalar para algum desleixo e levar a uma performance pior já amanhã, daqui a uns dias podemos estar a agradecer-lhe a continuidade na prova. Porque as contas, é sempre melhor fazê-las com tranquilidade uns dias antes do que entrar no jogo com a calculadora no bolso dos calções.