Idealistas, pragmatistas e cartesianos
Cada problema tem a sua solução. Ninguém tiraria mais deste Real Madrid do que um pragmatista como Ancelotti ou Pochettino. No Manchester United, porém, falta um idealista como Ten Hag.
Há muitas formas de ter sucesso no futebol e não é segredo para ninguém que as que mais me encantam são as que têm uma ideia por trás. Posso nem concordar com a ideia, mas acho sempre que vale mais tê-la do que não a ter. No entanto, se olharmos para as quatro equipas que saíram na frente da primeira mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões, não vemos só o idealismo de Klopp, de Guardiola ou até de Emery, uma espécie de idealista pragmático e menos fundamentalista. Lá está igualmente a serenidade de Carlo Ancelotti, apoiada no mais velho dos segredos dos treinadores de futebol: não estragar o que está bem e seguir em frente aproveitando os melhores jogadores.
Por mais simplista que tal possa parecer, muitas vezes resulta. Precisa de alguns componentes – bons jogadores, um clube com cultura de vitória e histórico recente de sucesso – mas há casos em que quem decide incorre mesmo no erro de pensar demasiado nas coisas. Não foi Guardiola quem, ainda que a brincar, disse antes do jogo com o Atlético de Madrid que se dedica muito a esse fenómeno a que chamamos “overthinking”, o pensar em excesso? Há clubes que têm “excesso de treinador”, que baseiam tudo demasiadamente na capacidade quase cartesiana que os treinadores têm para lá encontrarem problemas, só para poderem resolvê-los a seguir. E é isso que leva a que diferentes casos precisem de diferentes soluções e que aquilo que em tempos serviu num sítio possa não servir noutro.
O sucesso do Real Madrid, ontem à noite, em Londres, onde arrumou o Chelsea de Tuchel – um idealista em crise existencial – sem dificuldades de maior, não assenta em nenhuma ideia em especial. Acho sempre que Fernando Santos, por exemplo, simplifica em demasia quando diz que “a ideia é ganhar”, mas há casos em que é mesmo assim. A ideia, ali, é o clube. É uma ideia tão boa como qualquer modelo de jogo, sobretudo porque assenta em intérpretes que valem acima de qualquer conceito. Ontem, glorificou-se Benzema, pelo “hat-trick” que fez, mas a mim maravilhou-me igualmente o controlo exercido sobre o jogo por um trio de médios que, em conjunto, soma 98 anos – Casemiro, Kroos e Modric foram exemplares a mexer a bola, a tirá-la das zonas de pressão exercidas pelo Chelsea, que apesar da crise-Abramovich continua a ser o campeão da Europa, mas que ontem saiu do campo banalizado.
Há clubes onde se pode trabalhar assim. E há plantéis com os quais se pode trabalhar assim. Por alguma razão, os treinadores mais mal sucedidos na última década em Madrid foram dois magos do pensamento abstrato, como Julén Lopetegui e, sobretudo, Rafael Benítez, que na escala de “overthinkers” do futebol mundial se bate com Jorge Sampaoli pelo primeiro lugar. E por alguma razão também os técnicos de maior sucesso no Bernabéu são sempre uns tipos bonacheirões ou sem grande ciência, que tendem a manter as coisas simples – Del Bosque, Zidane e agora Ancelotti. Mas será isto infalível? Não creio. O erro aqui é achar que isto vale em todas as circunstâncias e em todo o lado. Não vale – como se viu, por exemplo, com a experiência Koeman em Barcelona e com o ganho extraordinário de rendimento que se viu através do regresso de Xavi e da ideia que ele decidiu recuperar.
Vem tudo isto a propósito da notícia segundo a qual o Manchester United vai mesmo avançar para Erik Ten Hag, ainda treinador do Ajax, que terá batido ao sprint a concorrência de outro candidato ao lugar, no caso Maurício Pochettino. Não haverá dois treinadores tão diferentes no Mundo como estes dois – o que desde logo lança dúvidas no processo de recrutamento conduzido por John Murtough e Darren Fletcher. Ten Hag é um idealista furioso, alguém que trabalha desde a base e define tudo no caminho até ao sucesso – depois pode lá chegar ou não, consoante tiver as circunstâncias a seu favor ou contra ele, consoante lhe derem tempo ou não e consoante as peças correspondam ou não ao que ele delas espera. Pochettino, ao invés, é um materialista pragmático, um gestor de balneário que tende a simplificar e que, apesar disso, fracassou no desafio mais exigente que pode colocar-se à sua classe de condutor de grupos, que foi a gestão de egos no balneário do Paris Saint-Germain.
Esperando não cair no erro de pensar em demasia, continuo a achar que isto de escolher um treinador tem muito que se lhe diga e não se faz a olhar para a página dos títulos ganhos no currículo. Não tenho grande consideração pelo trabalho até aqui desenvolvido por Maurício Pochettino – que ainda por cima, em 13 anos de carreira, só ganhou uma Taça de França –, mas não tenho grandes dúvidas de que ele seria uma excelente opção para esta equipa do Real Madrid. Para esta, não necessariamente para a próxima, a que aparecer quando este meio-campo passar os 100 anos... E apesar de ter em elevadíssima conta o trabalho de Ten Hag, não acho que seja líquido que ele consiga recuperar o Manchester United, onde a paciência já não é a que permitiu todo o tempo do Mundo a Alex Ferguson, no final da década de 80. Mas que a coisa vai ser gira de ver, lá isso vai.
Bom dia Antonio.
Partir para a contratação dum treinador olhando apenas para a folha de títulos é apenas estúpido.
De que serve um treinador ganhador disto e daquilo, aqui e ali, se depois o plantel que temos preparado para ele não serve as suas linhas de jogo, as suas dinâmicas?
Faz lembrar o interesse do Benfica no alemão e tudo o que isso vai acarretar.
Ontem assisti aos 2 jogos ao mesmo tempo, um na tv, outro no PC, mas posso garantir que a partir dum certo momento os meus olhos estavam mais no jogado em Espanha.
Que jogão do submarino amarelo!
Admito que quando vi o onze inicial me ri por ver que o Pedraza tinha ficado de fora mas, acabou de ser uma boa jogada para a segunda parte, onde a sua entrada em campo podia ter acabado de vez com o jogo.
Os espanhóis tiveram mais tudo.
Mais querer, mais garra, mais força.
Ganhavam as primeiras bolas, as segundas.
Bayern vai sofrer para dar a volta na eliminatória e vai precisar de ter em pleno dois jogadores que ontem só passearam as camisolas, Lewa e Muller.
O senhor Liga Europa, Unai Emery quer subir de escalão e passar a senhor CL.
P.S - Para mim neste momento Benzema é o melhor jogador da Europa.
Bom dia,
Gostava de partilhar aqui um episódio, no ano passado tive a felicidade de conhecer pessoalmente e até conversei uns minutos com o Lucas Moura do Tottenham, derivado às restrições que havia em Junho, ele decidiu passar férias com o primo aqui em Portugal (o Denner que estava no Portimonense) e trocamos umas impressões! Desde Vinícius ao JJ passando por e era onde queria chegar, Pochettino! Pochettino não é assim tão bom gestor de grupos... E aquilo que se está a passar no PSG é só a prova que aquilo era mais do que previsível! E disse de caras que o melhor treinador na Europa que aprendeu mais, melhor em tudo mesmo é um tal de Mourinho.
Abraço e desculpe Antônio Tadeia por não estar tão presente, mas a vida profissional não permite. Hoje já renovei a minha subscrição