Hoje há campeão
É hoje que Argentina e França se defrontam pelo título de campeã do Mundo. De um lado, não há dúvidas: é a hipótese de Messi chegar ao Olimpo. Do outro, a crítica divide-se entre Mbappé e Griezmann.
Argentina ou França? Em termos de coração, o Mundo inclina-se mais para o lado argentino – e quem o diz até é o L’Équipe, que nos apresenta hoje um interessante trabalho acerca das cores que os adeptos querem ver prevalecer ao final da tarde. Há aqui, como é evidente, um efeito Messi, o astro que, com Cristiano Ronaldo, marcou os últimos anos do futebol mundial e que tem hoje a última possibilidade de chegar ao topo. E a razão? Na razão, há uma divisão quase ao meio, como se vê, por exemplo, no exercício feito pelo Daily Telegraph, que pediu aos seus oito enviados ainda em Doha que previssem o resultado final: quatro vaticinam um sucesso francês, outros quatro apontam para a vitória sul-americana. Esta é, na verdade, uma final sem favorito, porque de um lado está Messi e o seu desafio de ser Maradona e, do outro, uma equipa mais completa, com mais gente além de Mbappé em condições de desequilibrar os pratos da balança.
A imprensa internacional tem hoje, como é natural, inúmeros artigos inflamando a categoria de Messi, de Mbappé, de Griezmann. Tem, mais abaixo, links para alguns, que vão desde as análises mais poetizadas acerca do futebol de Messi à proeza ao alcance de Mbappé, que pode ser bicampeão mundial aos 23 anos, algo que até hoje só Pelé conseguiu. Os últimos dias trouxeram-nos ainda textos sobre o relacionamento dos dois fora de campo – são colegas no Paris Saint-Germain – mas hoje há uma interessante análise tática feita por Michael Cox e Mark Carey no The Athletic chamando a atenção para um “pormaior”: é que Messi explora sobretudo os terrenos que Mbappé deixa vagos. Algo a ter em atenção por Didier Deschamps. No Telegraph, Daniel Zeqiri coloca o foco noutro jogador: Griezmann. O avançado tornado médio, que a Folha de São Paulo diz, com piada, pela escrita de Luciano Trindade, que “troca gols por jogo de equipe, desarma como Kanté e vira garçom”, é apontado pela análise do jornalista britânico como “elemento chave na partida”. Zeqiri identifica cinco batalhas que vão definir o vencedor do Mundial: a de Griezmann para ser influente atrás dos médios da Argentina; o eventual confronto entre Di Maria e Theo Hernández; a de Mbappé com Messi; o jogo aéreo de Giroud e o confronto entre Martínez e Lloris, dois guarda-redes que deixaram marca no torneio.
Ora também o L’Équipe aponta hoje “as chaves para libertar as individualidades”, em artigo de Dan Perez. E o diário francês centra-se sobretudo em Rabiot, que quer hoje ver “em modo Blaise Matuidi”. Hoje é, ainda, dia para muitas entrevistas. No L’Équipe, Ronaldinho Gaúcho confia a Vincent Garcia que “Mbappé é um jogador do tipo que os brasileiros adoram” e que “Messi pode jogar até aos 50 anos”. No El País, Mário Kempes, campeão mundial de 1978, diz a Lorenzo Calonge que Messi “já ganhou, pelo que vem fazendo” e porque “o selecionador lhe encontrou a tranquilidade”, mas recusa comparar a Pulga com Maradona. “São ambos argentinos e só nós é que discutimos quem é melhor. Somos os únicos culpados nesta busca da diferença. Somos muito complicados. Maradona foi Maradona. Hoje há Messi e é a ele que devemos estar gratos porque nos vai levar ao triunfo”. Daniel Passarela, bicampeão do Mundo pela Argentina, é mais prático, em entrevista a Alberto Cerruti que é publicada hoje na Gazzetta dello Sport: “Para os argentinos, Maradona é melhor, porque Messi ainda não ganhou um Mundial. Mas se o vencer, torna-se Maradona”, explica o ex-capitão da seleção, que faz ainda um interessante paralelo entre Scaloni e os treinadores campeões mundiais pela Argentina, os ferozes rivais Menotti e Billardo. “Scaloni parece-se mais com Menotti, porque também acredita num futebol corajoso”, sentencia.
Mas é a questão Messi-Maradona que mais anima as teclas mundiais e que faz com que os franceses passem um pouco entre os intervalos da chuva na antevisão da final do Mundial. O The Observer de hoje traz um belíssimo texto de Marcela Mora y Araujo recusando também as comparações: “O Messi messiânico não está a transformar-se em Maradona mas sim a tornar-se ele próprio”, escreve a autora argentina radicada em Londres. E depois há muitos perfis, muitas histórias de jogadores que podem marcar a final, abordados no ângulo das suas histórias de vida. Nick Ames, no The Observer, mete as fichas em Emiliano Martínez, o guarda-redes que “foi de outsider a parte vital na caminhada da Argentina” graças ao seu golpe de anca. Na mesma edição, Jacob Steinberg vai em busca da história de Ousmane Dembelé, que “vagueia dentro e fora de foco”, mas que pode ser muito difícil de anular. “Por vezes, marcá-lo pode ser como apanhar fumo”, escreve. E enquanto do lado argentino toda a gente se foca em Messi, Dembelé é também alvo da atenção de John Muller, no The Athletic, um site onde Daniel Taylor também se debruça sobre a possibilidade de Lloris fazer história. E no meio disto tudo, não há muita gente preocupada com o que se passou ontem no jogo do terceiro lugar, em que a Croácia venceu Marrocos por 2-1. Basicamente, é o que precisa de saber.
A Ler:
Lionel Messi doesn’t need the ball to hurt you, por John Muller, no The Athletic, descodifica o futebol de Messi com recurso a avaliações feitas pelos treinadores que o conduziram em diversas equipas.
Mbappé, Pelé y el destino de los símbolos, por David Álvarez, no El País, compara o craque de França com o Rei não apenas na precocidade com que foram campeões do Mundo, mas ainda no interesse que geraram nos governos de Emmanuel Macron e Jânio Quadros.
Kylian Mbappé is ready to make Messi’s moment his own, por Tariq Panja, no The New York Times, é um ponto da situação no ataque de Mbappé à coroa de Messi, seu colega no Paris Saint-Germain.
El efecto Messi, por Martín Caparrós, no El País, conta como os argentinos sentem a presença de Messi nesta seleção. “Se a Argentina for campeã, sê-lo-á mais para ele do que por ele”, diz o escritor, que considera que “Cristiano humanizou-se no fracasso” e Messi se “cristianizou na vitória”.
“Allez fume-le! Tire au but!”, por Hugo Delom, no L’Équipe, faz a análise do comportamento, por vezes eruptivo, por vezes liderante, por vezes supersticioso, de Didier Deschamps no banco da seleção francesa.
Stand-in to Scaloneta: how Argentina’s coach restored finalists’ passion for the shirt, por Sid Lowe, no The Observer, conta o percurso de Lionel Scaloni, de treinador interino a lider capaz de unificar uma nação que vivia desiludida com a sua seleção.
L’Argentine a une puce en plus, por vários autores, no L’Équipe, apresenta um mapa mundo para definir por quem vão os adeptos de vários países estar a puxar. De Portugal se diz que somos neutros, porque se há quem torça contra Messi, há também quem o faça a favor dos argentinos do Benfica.
It’s the World Cup souvenir everyone wants. Getting one is the hard part, por Rory Smith, no The New York Times, antecipa a batalha pela (ou pelas) camisolas que Messi vai usar na final e tenta perceber quem tem uma usada em jogo pelo astro argentino.
A World Cup of shifting sands where the real and the almost real collide, por Barney Ronay, no The Observer, é um balanço final de todas as polémicas que fizeram deste Mundial um caso à parte em termos de contestação ao poder.
FIFA: what does it actually do?, por Philip Buckingham e Matt Slater, no The Athletic, faz um levantamento exaustivo do papel da FIFA na organização do futebol Mundial, com todas as contas.
How China’s soft power World Cup turned into a nightmare, por Dominic Fifield, no The Athletic, recupera o sonho de Xi Jinping tornar a China uma potência no futebol mundial para avaliar até que ponto este campeonato foi um sério revés.
A ver:
Argentina-França, 15h, RTP1 e Sport TV1